top of page
Search
Paulo Jorge Pereira

"A Fúria e Outros Contos", de Silvina Ocampo

Updated: Sep 20, 2023

É com o regresso do conto "O Rebento", inserido na obra "A Fúria e Outros Contos", de Silvina Ocampo, que se constrói a proposta de leitura para hoje.



Uma vida atribulada e cheia de peripécias, sobretudo no plano amoroso e quase sempre sob a influência das aventuras que o marido, o também escritor Adolfo Bioy Casares, foi acumulando: esta é uma síntese do que passou Silvina Inocência Ocampo. Nascida a 28 de julho de 1903 em Buenos Aires, as artes plásticas seriam a sua paixão inicial e, no princípio dos anos 20, iria ter a oportunidade de estudar Belas Artes em Paris com dois nomes importantes do movimento surrealista: Giorgio de Chirico e Fernand Léger. Porém, quando voltou à Argentina, escolheu a escrita como via para melhor expressar o seu talento e "Viaje Olvidado" (1937), seu primeiro livro de contos, é o episódio inicial desse apetite pela Literatura que, em muitas ocasiões, iria transformar-se em episódios fantásticos, invulgares e de gelar o sangue aos leitores.

Casada em 1940 com o já mencionado Adolfo Bioy Casares, as histórias que se contam sobre a sua vida conjugal são superadas pelas aventuras extraconjugais. Dele se diz que a primeira conquista foi aos 11 anos: chamava-se Madeleine e era a governanta de sua casa. Pouco depois, apaixonou-se por uma prima e escreveu mesmo para ela "Iris y Margarita", a sua novela de estreia. Iria envolver-se com diferentes mulheres, de idades e estatutos variados, até conhecer Silvina Ocampo. "A minha mãe costumava dizer que Silvina era a mais inteligente e original das Ocampo, mas nunca suspeitou que me apaixonaria por ela. Quando descobriu, nem queria acreditar", admitiu o escritor numa entrevista, referindo-se à mais nova de seis irmãs. Viveram seis anos juntos antes do casamento, tendo Jorge Luis Borges, amigo do casal, sido uma das testemunhas da cerimónia. Depois, foram ávidos leitores e críticos um do outro, organizando com Borges uma "Antologia da Literatura Fantástica". Quem conheceu Silvina descreve-a como uma mulher à frente do seu tempo, distante de rígidos convencionalismos e de rotinas. Era bissexual e o marido colecionou amantes, entre as quais a própria sobrinha, Genca - de quem se diz que, numa viagem de barco a Nova Iorque com o casal, terá participado num ménage à trois com os tios, embora o episódio seja desmentido por Florencio Basavilbaso, neto de Casares e Silvina - ou Elena Garro, escritora e mulher do escritor mexicano Octavio Paz; teve duas filhas com outras mulheres; Marta, uma das filhas (nasceu em 1954 e morreu em 1994), foi criada como se nascesse do seu relacionamento com Silvina. Conta-se que a poeta Alejandra Pizarnik e Silvina foram intímas, existindo mesmo uma carta da poeta a declarar o seu amor por Ocampo.

Certo é que Silvina Ocampo foi escrevendo e publicando, embora ofuscada pela relevância da irmã mais velha, Victoria, editora (por exemplo, da revista Sur), escritora e tradutora e uma das mulheres mais influentes do seu tempo na Argentina. "A Fúria e Outros Contos", de que aqui se apresenta um excerto, surgiu em 1959 e "Las Invitadas" dois anos mais tarde. Os prémios foram surgindo, não faltaram admiradores: Julio Cortázar, por exemplo, que nunca escondeu a preferência pelo conto "A Casa de Açúcar", inserido no livro que hoje é proposta de leitura, mas também Italo Calvino ou Roberto Bolaño. Alguns dos seus contos tiveram direito a adaptação ao pequeno ou ao grande ecrã, mas só mais tarde a sua obra recebeu o merecido destaque, sobretudo por intervenção de feministas. No jornal Folha de São Paulo, Mariana Enríquez, que escreveu "La Hermana Menor - Un Retrato de Silvina Ocampo", admitiu que Silvina era "uma mulher estranha ao seu tempo".


Antígona/Tradução de Guilherme Pires


O seu amigo Jorge Luis Borges escreveu que Ocampo "vê-nos como se fôssemos feitos de vidro, vê-nos e perdoa-nos".

Na parte final da sua vida, a doença de Alzheimer debilitou-a demasiado. A 14 de dezembro de 1993, terminou o seu percurso. O marido morreria seis anos mais tarde, com 85 anos. Em 2010 seria publicado um romance de Ocampo intitulado "La Promesa".

49 views0 comments

Recent Posts

See All

Yorumlar


bottom of page