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Paulo Jorge Pereira

"A Noite Mais Longa de Todas As Noites", de Helena Pato

Helena Pato evoca memórias do sofrimento a que tantos foram submetidos durante a ditadura, escrevendo em "A Noite Mais Longa de Todas As Noites" contos de feição autobiográfica sobre coragem e medo, combate sem tréguas e entrega total ao ideal da liberdade.



Escreve Maria Teresa Horta no prefácio: "A Noite Mais Longa de Todas As Noites" é, pois, uma obra tecida com o fio do júblio dos ideais, mas igualmente com os acontecimentos vividos no nosso país, então asfixiado por uma longa, cruel e impiedosa ditadura". O longo percurso de Helena Pato, autora do livro, no combate contra a ditadura e em nome da Liberdade e da Democracia é, aliás, bem eloquente sobre o modo como sempre tem encarado a sua vida. A própria autora explica as motivações que a levaram a esta escrita: "Escrevi este livro a pensar naqueles que desconhecem o que realmente foi o regime anterior ao 25 de Abril." E, aos 82 anos, continua a lutar contra todos os focos de fascismo que subsistem na sociedade portuguesa.

Nascida em Aveiro, na localidade de Mamorrosa, em 1939, Helena Pato iria entrar na Faculdade de Ciências de Lisboa em 1956 e depressa se interessou pela luta contra a ditadura, envolvendo-se no plano político com a adesão ao Movimento de Unidade Democrática (MUD) Juvenil. Em plena campanha eleitoral para as presidenciais do General Humberto Delgado, dois anos antes de se casar com Alfredo Noales (1960), dirigente do movimento estudantil e jornalista, seria alvo da primeira abordagem por parte da PIDE quando este foi preso. Com a perseguição e a vigilância constantes da polícia política, Helena Pato acabou por pedir a transferência para a Universidade de Coimbra, mas em 1962, ano em que também aderiu ao Partido Comunista (a ligação duraria até 1991) estava ao lado do marido quando ambos tiveram de exilar-se em Paris.

Noales morreria de cancro três anos mais tarde, somente um mês depois de ser outra vez preso pela PIDE, mal saíra do avião em cadeira de rodas, pois já se encontrava doente. Apesar da dor pela perda, Helena Pato iria envolver-se na criação do Movimento Democrático de Mulheres, do qual viria a ser dirigente até 1971. Por este motivo, a PIDE iria prendê-la em 1967, submetendo-a a sevícias de forma selvagem e cruel em Caxias com o recurso, entre outros métodos, à tortura do sono. Após seis meses de prisão em regime de isolamento, Helena Pato foi colocada em liberdade, mas a PIDE nunca a perdeu de vista. De 1969 é o seu casamento com José Manuel Tengarrinha, político e historiador que dirigiu o Movimento Democrático Português/Comissão Democrática Eleitoral (MDP/CDE), ao qual Helena Pato também pertenceu.

Licenciada em Matemática, estreou-se nas funções de professora em 1970 no Liceu Gil Vicente, dedicando 36 anos da sua vida à profissão. As perseguiçõees e prisões da PIDE estiveram sempre presentes, interferindo no dia a dia do casal, de tal forma que Tengarrinha seria preso pela última vez uma semana antes da Revolução do 25 de Abril, sendo apenas libertado a 27. Nessa altura, eram já pais de dois filhos (João, nascido em 1970, e Rosa, cujo nascimento ocorreu dois anos mais tarde). Em simultâneo, Helena foi um dos rostos dirigentes do movimento associativo dos professores e seria uma das fundadoras dos sindicatos após o 25 de Abril. Em 1983, Tengarrinha e Helena separaram-se, prosseguindo as suas vidas de envolvimento na ação política. A escrita e a participação em suplementos ligados à educação em diferentes jornais tornaram-se atividades de Helena Pato que, nos últimos anos, também se ampliaram. Contra a transformação da sede da PIDE, na rua António Maria Cardoso, num condomínio de luxo, Helena Pato entrou no movimento de cidadãos intitulado Não Apaguem a Memória, tendo exercido as funções de presidente entre 2012 e 2014. Em 2013 criou, na rede social Facebook, a página Antifascistas da Resistência (e o grupo Fascismo Nunca Mais), na qual se encontram mais de quatro centenas de notas biográficas de combatentes contra a ditadura, e que pode ser vista aqui.

"Saudação, Flausinas, Moedas e Simones" (2005) e "Já Uma Estrela Se Levanta" (2011) são outros livros que escreveu, dedicados às suas memórias sobre o fascismo. Sempre atenta e empenhada, há cerca de dois anos voltou a erguer a voz para contrariar a criação do Museu Salazar, ideia defendida pela Câmara Municipal de Santa Comba Dão, terra onde nasceu o ditador.


Edições Colibri


A obra de Helena Pato tem prefácio de Maria Teresa Horta e posfácios de Luís Farinha e Jorge Sampaio.

No posfácio da obra "A Noite Mais Longa de Todas As Noites" pode ler-se, assinado por Luís Farinha, ex-diretor do Museu do Aljube: "Trata-se de prestar um testemunho de vida, sempre compartilhada com outras vidas: nos afetos, nas lutas, na esperança e na tragédia."

E Jorge Sampaio, também combatente contra a ditadura e mais tarde Presidente da República, deixa a sua impressão também no posfácio: "Este encontro com a História que a autora nos proporciona como que desembacia a nossa visão do presente, avivando-lhe a textura e as matizes desbotadas pelo passar dos anos."

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