Na proposta de leitura que hoje apresenta, Agostinho Costa Sousa sugere a antologia poética de Fernando Assis Pacheco, intitulada "A Musa Irregular".
Uma prosa de alto calibre, marcada por qualidades satíricas e um sentido de humor muito próprio, um nível cultural invulgar: assim se caracterizou o trabalho de Fernando Assis Pacheco, aqui já tendo sido apresentado, num trecho de "Walt", um exemplo do seu virtuosismo, a 14 de agosto de 2022.
Jornalista, escritor, tradutor e crítico, Fernando Santiago de Assis Pacheco nasceu em Coimbra, a 1 de fevereiro de 1937. Ator no TEUC e no CIAT, redator na revista Vértice, travou conhecimento com personalidades da escrita como Manuel Alegre, Joaquim Namorado, José Carlos de Vasconcelos, entre outros. Na universidade conimbricense iria licenciar-se em Filologia Românica, deixando a cidade quando foi combater na guerra colonial. Permaneceu em Angola até 1965 e ainda durante essa fase, em 1963, estreou-se na vida literária ao publicar, com o apoio do pai, o livro de poesia "Cuidar dos Vivos".
A obra seguinte, ainda de poesia e com a máscara do Vietname a encobrir uma realidade que dizia respeito à guerra colonial trava por portugueses em África, foi publicada em 1972 sob o nome "Câu Kiên: um Resumo", mas voltaria a ser editada já em democracia, no ano de 1976, com o título "Catalabanza, Quilolo e Volta" (nos anos 90 integrou a antologia poética "A Musa Irregular"). De 1978 é "Walt", a obra de que se apresentou já aqui um excerto ilustrativo do seu invulgar sentido de humor e do estilo satírico que é a marca de água da sua escrita. Publicou ainda "Memórias do Contencioso e Outros Poemas" (1980), uma antologia poética sob o nome de "A Musa Irregular" (1991) e o romance "Trabalhos e Paixões de Benito Prada" (1993).
Na profissão de jornalista distinguiu-se enquanto exímio prosador, repórter irrequieto, entrevistador criativo e cronista com insuperável sentido de humor, em jornais como o Diário de Lisboa, República, JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, Musicalíssimo, Se7e e, neste caso, desempenhou mesmo as funções de diretor-adjunto. Colaborador da RTP - em 1977, fazendo par com a cunhada, Carminho Ruella Ramos, brilhou no popular concurso A Visita da Cornélia, apresentado por Raul Solnado -, foi chefe de redação d'O Jornal (que ajudou a fundar, tal como a revista Visão) e ali escreveu crítica literária ao longo de vários anos.
Também foi tradutor e, entre os livros que transpôs para português durante o seu trabalho, o destaque vai para os de dois sul-americanos que foram Prémio Nobel da Literatura: o chileno Pablo Neruda (1971) e o colombiano Gabriel García Márquez (1982).
Tinta da China
Ficou famosa a participação de Assis Pacheco como concorrente, ao lado da cunhada, Carminho Ruella Ramos, no popular concurso A Visita da Cornélia, apresentado por Raul Solnado na RTP às segundas-feiras à noite, entre 6 de junho e 28 de novembro de 1977. O par dominou durante sete semanas e, sem ser destronado por outros concorrentes, foi forçado a desistir devido às regras.
Casado com Maria do Rosário Pinto de Ruella Ramos (a sua família era proprietária do Diário de Lisboa) desde 1963 e pai de cinco filhas e um filho, Assis Pacheco morreu bruscamente, à porta da livraria Buchholz, em Lisboa, a 30 de novembro de 1995, vítima de problema cardíaco. Depois da sua morte foram publicados "Retratos Falados" (2001), livro que congrega uma série de entrevistas; poesia com "Respiração Assistida" (2003); as crónicas de "Memórias de um Craque" (2005); o primeiro volume da obra completa de um folhetim intitulado "Bronco Angel, o Cow-Boy Analfabeto" (2015) e "Tenho Cinco Minutos para Contar uma História" (2017).
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