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Paulo Jorge Pereira

Agostinho Costa Sousa lê "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino

O regresso de Agostinho Costa Sousa às leituras por aqui assinala outro regresso - o do autor italiano Italo Calvino, desta vez com um trecho do livro "As Cidades Invisíveis", depois de Margarida Azevedo apresentar, a 30 de outubro de 2020, um excerto da obra "Se Numa Noite de Inverno Um Viajante".



É de ficção, contos e ensaio que se faz a obra de Italo Calvino, escritor que marcou o século XX italiano de modo inesquecível com o seu trabalho. "As Cidades Invisíveis", de que aqui se apresenta um trecho, foi publicado em 1972. Exemplo mais famoso, no livro "Se Numa Noite de Inverno um Viajante" (1979), há um Leitor e dez começos de romances que não chegam a concluir-se.

Filho de cientistas italianos que estavam de passagem por Cuba, Calvino nasceu na ilha, em Santiago de las Vegas, a 15 de outubro de 1923. De regresso a Itália, a família fixou-se em San Remo, mais tarde em Turim, e Italo Calvino até começou o curso de Agronomia, mas acabaria licenciado em Letras. Porém, a chegada da II Guerra Mundial alterou-lhe os planos de forma drástica - recrutado pela Mocidade Fascista de Benito Mussolini em 1940, foi capaz de escapar às garras de tão sinistra entidade e decidiu juntar-se à Resistência Comunista, escondendo-se nas montanhas da Ligúria. Só retomou e concluiu a licenciatura em 1947, ano da publicação do seu primeiro livro: "Il Sentiero dei Nidi del Ragno" (O Atalho dos Ninhos de Aranha). Entretanto, trava conhecimento com os escritores Cesare Pavese e Elio Vittorini. A filiação ao Partido Comunista permitiram-lhe trabalhar no jornal L'Unità desde 1945 e na editora Einaudie (passou ainda por publicações como Il Garibaldino ou La Repubblica), mas a invasão de Budapeste por tropas soviéticas em 1956 e os crimes de Estaline levaram-no, no ano seguinte, a afastar-se do partido. Fê-lo por meio de uma missiva que ganhou fama, na qual se demarcava do comunismo da então URSS e reclamava que ganhasse um sentido democrático. Estivera na União Soviética em 1952 e, sete anos depois, também visitou os Estados Unidos. Em colaboração com Elio Vittorini, editou a revista Il Menabó di Letteratura. Entre 1952 e 1959 escreve a trilogia formada pelos livros "O Visconde Cortado ao Meio", "O Barão Trepador" e "O Cavaleiro Inexistente".

Numa viagem a Cuba conhece Che Guevara e iria casar-se com a tradutora argentina Esther Judith Singer, a quem conhecera na cidade de Paris em 1962, precisamente na capital cubana, dois anos mais tarde. Mais conhecida como Chichita Calvino, viria a traduzir grande parte da obra do marido, ajudando-o a ampliar o universo de leitores.

De 1963 é "Marcovalco", seguindo-se "As Cosmicómicas" (1965), "O Castelo dos Destinos Cruzados" (1969) e "Os Amores Difíceis" (1970). Pelo meio, em 1965, quando já tinham residência fixa em Paris, Esther e Italo foram pais de Giovanna, a filha que vive hoje em Nova Iorque. Na capital francesa - da qual Calvino dizia ser o local onde tinha uma espécie de "casa de campo" (expressão usada no documentário "Italo Calvino: Un Uomo Invisibile"), uma vez que, embora ali escrevesse diversos livros, todas as suas relações de trabalho estavam em Itália - tem uma empregada doméstica portuguesa e conhece uma série de personalidades do mundo literário, tornando-se mesmo amigo de escritores como Julio Cortázar. Continua a escrita e publica "As Cidades Invisíveis" (1972), recebendo por ele o Prémio Antonio Ferlinelli. Decorrem sete anos até ser publicado "Se Numa Noite de Inverno um Viajante", que Margarida Azevedo aqui apresentou a 30 de outubro de 2020, e "Palomar" (1983) é a sua última obra publicada ainda em vida.

A 19 de setembro de 1985, aos 61 anos, vítima de hemorragia cerebral, Calvino morreu em Siena. Chichita passou a viver em Roma, onde morreu em 2018, com 93 anos. "Sob o Sol-jaguar" (1988), "O Caminho de San Giovanni" (1990) e o livro de literatura infantil "Perde Quem Fica Zangado Primeiro" (1998) são já póstumos.


D. Quixote/Tradução de José Colaço Barreiros

"As Cidades Invisíveis" foi publicado pela primeira vez em 1972 e por esta obra recebeu o autor um galardão: o Prémio Antonio Ferlinelli.

Agostinho Costa Sousa reside em Espinho e socorre-se da frase de Antón Tchekhov: "A medicina é a minha mulher legítima, a literatura é ilegítima" para se apresentar. "A Arquitetura é a minha mulher legítima, a Leitura é uma das ilegítimas", refere.

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