Muito mais conhecido pelo trabalho desenvolvido no Cinema, Abbas Kiarostami foi também poeta e fotógrafo. Hoje, é a proposta de leitura apresentada por Agostinho Costa Sousa com "Flores Silvestres (poemas escolhidos)".
O nome do iraniano Abbas Kiarostami é mais associado aos seus diferentes papéis no Cinema, sobretudo como realizador multipremiado, mas também como argumentista e produtor. A verdade é que, além disso, também a poesia e a fotografia o atraíram. E, no início, até pintava, influência direta do pai, cuja profissão se dividia pela pintura e pela decoração.
Nascido em Teerão, a 22 de junho de 1940, iria concluir a licenciatura em Belas-Artes, mas apostar numa carreira na 7.ª Arte, após o convite que Ebrahim Forouzesh, então diretor do Kanun - Instituto para o Desenvolvimento Intelectual da Criança e do Adolescente, lhe dirigiu em 1966. A instituição fora uma iniciativa da mulher do Xá (Reza Pahlevi), Farah Diba, repartindo-se por áreas tão diversas como a publicação de livros para crianças ou o Cinema. Abbas ficou responsável por este último e, depois de ter sido assistente de realização, o primeiro trabalho como realizador aconteceu logo em 1970: "Nan va Koutcheh" ou "O Pão e o Beco", assim se intitulava essa curta-metragem inicial. No ano anterior casara-se com Parvin Amir-Gholin, de quem terá dois filhos (Ahmad e Bahman), divorciando-se em 1982.
De 1974 é "Mossafer" e Kiarostami começa a conquistar altos índices de popularidade pelo modo como a sua cinematografia se empenha em olhar e refletir sobre o próprio país. Ainda assim, chega a ser censurado e só muito depois da Revolução Islâmica (1979), que depôs o Xá e colocou no poder o Ayatollah Khomeini, alterando profundamente a sociedade iraniana, o destaque internacional de Kiarostami iria chegar com "Khane-ye Doust Kodjast?", isto é, "Onde é a Casa do Amigo?", de 1987, película que iria receber a primeira distinção internacional com o Leopardo de Bronze no Festival de Locarno.
O terramoto que, três anos mais tarde, atingiu duramente vários lugares do norte do Irão, levou-o a apresentar "Zendegi Va Digar Hich" (Vida e Nada Mais) em 1991. E, em 1994, o tom crítico do filme "Através das Oliveiras" recebe como represália das autoridades o facto de Kiarostami passar a ser um nome descartado e impedido de chegar ao público iraniano. Tentam marginalizá-lo, impedir a concretização das suas ideias, minimizar a sua arte.
Porém, o nome do realizador já galgara fronteiras, o seu trabalho tornara-se frequente presença em certames internacionais de cinema e, em 1997, a consagração chegou com a Palma de Ouro no Festival de Cannes para "Ta'm e Guilass" ou "O Gosto da Cereja" (partilhada com o japonês Shohei Imamura pelo filme "The Eel") - de acordo com a televisão francesa, "um misto de ficção, fábula e documentário". O beijo que trocou com a atriz Catherine Deneuve gerou controvérsia no seu país porque a sociedade, dominada por um poder conservador, não aceitava que um homem beijasse em público uma mulher com quem não era casado. Isso levou-o mesmo a manter-se na Europa durante algum tempo. Mas também a aura de sucesso que o triunfo lhe trouxe. "A Palma de Ouro deu-me confiança em mim próprio", dirá em entrevista televisiva. "Esse é o lado bom do prémio; o lado mau é que, durante quatro ou cinco meses, vou andar de um lado para o outro para me encontrar com jornalistas de todo o mundo. E, por isso, tenho de interromper a rodagem do meu próximo filme", lamentou.
O sucesso prossegue com "Bad ma ra Khakhad Bord" ("O Vento Levar-nos-á") que conquista o Leão de Ouro em Veneza (2000). Seguem-se trabalhos como "ABC Africa" (2001), "Dez" (2002), "Cinco" (2003) e "Tickets" (2005). Neste ano, num artigo de Stuart Jeffries para o jornal The Guardian, foram lembrados os elogios de Jean-Luc Godard e Martin Scorsese. "Os filmes começam com D.W. Griffith e acabam com Abbas Kiarostami", afirmou o primeiro; "Kiarostami representa o mais elevado nível artístico em Cinema", referiu o segundo. O iraniano reagiu com modéstia: "Essa admiração talvez faça mais sentido quando eu morrer."
No Irão, era como se estivesse morto: estava fora das principais salas de cinema, era censurado e, com poucos meios disponíveis, tinha de editar durante a noite uma grande parte dos filmes. Tornou-se presença habitual em França, onde podia rodar as suas obras sem restrições.
"Chacun son Cinéma" (2007), "Copie Conforme" (2010, cuja interpretação valeu a Juliette Binoche a Palma de Ouro de Cannes para Melhor Atriz) e "Like Someone in Love" (2012) são os últimos filmes antes de o cancro lhe diminuir a saúde e a produtividade. Morre a 4 de julho de 2016, em Paris, onde se deslocara para cumprir tratamentos. "24 Frames", apresentado em 2017, é já uma obra póstuma.
Flâneur/Tradução de Bernardo Sá
Ao diário The Guardian, Kiarostami afirmou em 2005, como resposta ao que o acalmava quando não estava a filmar: "Dedico muito tempo à carpintaria - às vezes, nada me dá mais prazer do que serrar uma peça de madeira. Trabalhar sem ruído traz-me paz interior."
Agostinho Costa Sousa reside em Espinho e socorre-se da frase de Antón Tchekhov: "A medicina é a minha mulher legítima, a literatura é ilegítima" para se apresentar. Estreou-se a ler por aqui a 9 de maio de 2021 com "A Neve Caindo sobre os Cedros", de David Guterson, seguindo-se "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, a 16 do mesmo mês, mas também leituras de obras de Manuel de Lima e Alexandra Lucas Coelho a 31 de maio. "Histórias para Uma Noite de Calmaria", de Tonino Guerra, foi a sua escolha no dia 4 de junho. No dia 25 de julho, a sua escolha recaiu em "Veneno e Sombra e Adeus", de Javier Marías, seguindo-se "Zadig ou o Destino", de Voltaire, a 28. O regresso processou-se a 6 de setembro, com "As Velas Ardem Até ao Fim", de Sándor Márai. Seguiram-se "Histórias de Cronópios e de Famas", de Julio Cortázar, no dia 8; "As Palavras Andantes", de Eduardo Galeano, a 11; "Um Copo de Cólera", de Raduan Nassar, a 14; e "Um Amor", de Sara Mesa, no dia 16. A 19 de setembro, a leitura escolhida foi "Ajudar a Estender Pontes", de Julio Cortázar. A 17 de outubro, a proposta centrou-se na poesia de José Carlos Barros com três poemas do livro "Penélope Escreve a Ulisses". Três dias mais tarde leu três poemas inseridos na obra "A Axila de Egon Schiele", de André Tecedeiro.
A 29 de novembro apresentou "Inquérito à Arquitetura Popular Angolana", de José Tolentino de Mendonça. De dia 1 do mês seguinte é a leitura de "Trieste", escrito pela croata Dasa Drndic e, no dia 3, a proposta foi um trecho do livro "Civilizações", escrito por Laurent Binet. No dia 5, Agostinho Costa Sousa dedicou atenção a "Viagens", de Olga Tokarczuk. A 7, a obra "Húmus", de Raul Brandão, foi a proposta apresentada. Dois dias mais tarde, a leitura foi dedicada a um trecho do livro "Duas Solidões - O Romance na América Latina", com Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa. Seguiu-se "O Filho", de Eduardo Galeano, no dia 20. A 23, Agostinho Costa Sousa trouxe "O Vício dos Livros", de Afonso Cruz. Voltou um mês mais tarde com "Esta Gente/Essa Gente", poema de Ana Hatherly. No dia 26 de janeiro, apresentou "Escrever", de Stephen King. Quatro dias mais tarde foi a vez de Maria Gabriela Llansol com "O Azul Imperfeito". "Poemas e Fragmentos", de Safo, e "O Poema Pouco Original do Medo", de Alexandre O'Neill, foram outras recentes participações. Seguiram-se "Se Isto É Um Homem", de Primo Levi, e "Se Isto É Uma Mulher", de Sarah Helm. No dia 18 de março, a leitura proposta foi de um excerto de "Augustus", de John Williams. A 24, Agostinho Costa Sousa leu "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge; a 13 de abril, foi a vez do poema "Guernica", de Rui Caeiro e, no dia 20, apresentou um pouco de "Great Jones Street", de Don DeLillo.
No Especial dedicado ao 25 de Abril, a sua escolha foi para "O Sangue a Ranger nas Curvas Apertadas do Coração", escrito por Rui Caeiro, seguindo-se "Ararat", de Louise Glück, no Dia da Mãe e do Trabalhador, a 1 de maio. "Ver: Amor", de David Grossman, foi a proposta de dia 17. No dia 23, a leitura proposta trouxe Elias Canetti com um pouco da obra "O Archote no Ouvido".
A 31 de maio surgiu com "A Borboleta", de Tonino Guerra. A 5 de junho trouxe um excerto do livro "Primeiro Amor, Últimos Ritos", de Ian McEwan. A 17, a escolha recaiu sobre "Hamnet", de Maggie O'Farrell. A 10 de julho, o trecho selecionado saiu da obra "Ofuscante - A Asa Esquerda", do romeno Mircea Cartarescu. No dia 19 de julho apresentou "Uma Caneca de Tinta Irlandesa", de Flann O'Brien. A 31 de julho leu um trecho da obra "Por Cuenta Propia - Leer y Escribir", de Rafael Chirbes. No dia 8 de agosto foi a vez de "No Entres Docilmente en Esa Noche Quieta", de Ricardo Menéndez Salmón. A 15 de agosto apresentou "Julio Cortázar y Cris", de Cristina Peri Rossi. Uma semana mais tarde, a leitura foi de um trecho da obra "Música, Só Música", de Haruki Murakami e Seiji Ozawa. De 12 de setembro é a sua leitura de um poema do livro "Do Mundo", cujo autor é Herberto Helder. "Instruções para Engolir a Fúria", de João Luís Barreto Guimarães, foi a leitura a 16 de setembro e já aqui regressou. A 6 de outubro leu um trecho da obra "Jakob, O Mentiroso", de Jurek Becker.
"Rebeldes", de Sándor Márai, foi a leitura do dia 11. Mircea Cartarescu e "Duas Formas de Felicidade" surgiram dois dias mais tarde. Seguiu-se "Diários", do poeta Al Berto, a 17 de outubro. Três dias mais tarde propôs "A Herança de Eszter", de Sándor Márai. A 2 de novembro apresentou "Os Irmãos Karamazov", de Fiódor Dostoiévski. Data de 22 de novembro a leitura de "Nicanor Parra: Rey y Mendigo", de Rafael Gumucio. A 30 de novembro leu "Schiu", de Tonino Guerra. No passado dia 12 trouxe "Montaigne", de Stefan Zweig. Recuperei a sua leitura do poema "Instruções para Engolir a Fúria" no dia 16 quando o autor, João Luís Barreto Guimarães, foi distinguido com o Prémio Pessoa. A 23 apresentou um excerto de "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge. No dia 6 de janeiro a escolha recaiu sobre "Lições", de Ian McEwan. A 16 de janeiro apresentou "Stalinegrado", de Vasily Grossman. No dia 30 leu um excerto da obra "A Biblioteca à Noite", de Alberto Manguel. De 7 de fevereiro é a leitura de "Remodelações Governamentais", de Mário-Henrique Leiria. A proposta de dia 22 de fevereiro foi "Roseira de Espinho", de Nuno Júdice. No dia 7 de março propôs "Método de Caligrafia para a Mão Esquerda", de António Cabrita. No Especial dedicado ao Dia Mundial do Teatro, a 27 de março, apresentou "Memórias", de Raul Brandão. De 30 de março é a leitura de um trecho da obra "Rebeldes", de Sándor Márai. A 10 de abril propôs "O Amante da Minha Mãe", de Urs Widmer. De 21 de abril é a leitura de um trecho do conto "A Primavera", escrito por Bruno Schulz. Do Especial dedicado ao 25 de Abril constaram poemas de Sara Duarte Brandão. A 2 de maio propôs "A Musa Irregular", de Fernando Assis Pacheco. "Ravel", de Jean Echenoz, é de 6 de junho.
"Tristia", de António Cabrita, foi a sua leitura a 9 de junho. A 23 leu "Foi Ele?", de Stefan Zweig. No dia 7 de julho trouxe "Cartas 1955-1964, volume II", de Julio Cortázar. "Uma Faca nos Dentes", de António José Forte, chegou a 21 de julho. De 30 de agosto é a leitura de um trecho da obra "Servidão Humana", de Somerset Maugham. "Nosotros", de Manuel Vilas, foi a leitura no dia 18. De 22 de setembro é a leitura da obra "A Religião da Cor", de Jorge Sousa Braga. "Exercícios de Humano", de Paulo José Miranda, foi a leitura de 11 de outubro.
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