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Paulo Jorge Pereira

Agostinho Costa Sousa lê "Húmus", de Raul Brandão

Autor de obras como "Os Pescadores" ou "O Gebo e a Sombra", Raul Brandão e o seu "Húmus" são as sugestões de Agostinho Costa Sousa na leitura de hoje.



Raul Germano Brandão nasceu no número 12 da rua da Bela Vista (atual rua de Raul Brandão), na Foz do Douro, a 12 de março de 1867. No Porto passaria os primeiros anos da sua vida e depressa revelou tendências para o entusiasmo com a escrita, pois logo em 1885 já participava, ao lado de José Leite de Vasconcelos, Trindade Coelho e João de Lemos, entre outros, numa revista de solidariedade com as vítimas dos sismos na Andaluzia: uma publicação chamada O Andaluz. Na Academia Politécnica do Porto iria conviver com outros amigos que fariam percurso literário como António Nobre e Justino de Montalvão. De 1888 é a sua entrada na carreira militar, acedendo à Escola do Exército em Lisboa, embora sem perder as suas ligações à escrita: no ano seguinte estaria ligado ao grupo (e revista) Os Insubmissos e, em 1890, avançou para uma primeira publicação com os contos "Impressões e Paisagens".

D. João de Castro e Júlio Brandão seriam seus parceiros de aventura na Revista de Hoje (1895) e o trabalho jornalístico do escritor iria ter sequência no Correio da Manhã. Chegara, entretanto, ao final a sua preparação na Escola Prática de Infantaria em Mafra e o novo alferes foi o Regimento de Infantaria n.º 20 na cidade de Guimarães. Aqui acabaria por casar-se com Maria Angelina (1897), mas antes foi transferido para a capital, participou em Nefelibatas (1893) e regressou à publicação com recurso ao que escrevera no Correio da Manhã - "História de um Palhaço - Vida e Diário de K. Maurício" (1896), obra que teria em 1926 uma nova edição, então sob a designação de "A Morte do Palhaço e o Mistério da Árvore".

Já casado, passou por Guimarães, Porto e voltou às origens na Foz do Douro, escreveu com Júlio Brandão a peça "Noite de Natal" e, a seu pedido, regressou a Lisboa em 1901, aprofundando o trabalho jornalístico. Publica "Os Pobres" (1902) e, quatro anos mais tarde, acompanhado pela mulher, vai conhecer um pouco da Europa. Mas os tempos tornam-se difíceis para o casal e o escritor passa mesmo por uma depressão nervosa em 1910. No ano seguinte afasta-se da vida militar e sai em definitivo, já reformado, como major em 1912. Escrita e História passam a ter interesse paralelo na sua vida quotidiana com expressão em publicações: "El-Rei Junot" é de 1912, "A Conspiração de Gomes Freire" surge dois anos depois, "O Cerco do Porto", que ganha vida na revista Renascença (1915), tem assinatura do coronel Hugo Owen e Brandão.

"Húmus", referência incontornável da literatura em português e de que Agostinho Costa Sousa hoje aqui apresenta um excerto, nasce em 1917 com dedicatória a Columbano Bordalo Pinheiro, autor de dois retratos de Brandão e seu amigo pessoal. O escritor irá, mais tarde, integrar o grupo fundador da Seara Nova ao lado de nomes como Jaime Cortesão, Aquilino Ribeiro ou Raul Proença. De 1923 é o livro "Teatro" com as peças "O Gebo e a Sombra", "O Doido e a Morte" e "O Rei Imaginário", todas apresentadas em teatros lisboetas (Politeama e Nacional) - mas, dos quatro livros de dramaturgia que planeara, apenas este teria existência concreta.

A quatro mãos com Teixeira de Pascoaes escreve "Jesus Cristo" (1927) e Columbano pinta o retrato do casal Raul/Maria Angelina. Na revista Seara Nova apresenta "O Avejão" e "Eu Sou um Homem de Bem" (1929) e projeta "A História Humilde do Povo Português", chegando a editar "Os Pescadores"; porém, os restantes três volumes ("Os Lavradores", "Os Pastores" e "Os Operários") nunca chegarão a nascer. Ainda assim, em função deste projeto, desloca-se aos Açores e à Madeira em 1924, daqui acabando por surgir a obra "As Ilhas Desconhecidas" (1926).

Ainda escreve, em parceria com Maria Angelina, a obra infantil "Portugal Pequenino" (1930), mas não dispõe de tempo para mais: morre a 5 de dezembro desse ano com 63 anos e é já póstuma a publicação de "O Pobre de Pedir" (1931).


Almedina


Militar, jornalista e escritor, Raul Brandão nasceu a 12 de março de 1867, no número 12 da rua da Bela Vista, mais tarde designada pelo nome do ilustre cidadão da Foz do Douro.

Agostinho Costa Sousa reside em Espinho e socorre-se da frase de Antón Tchekhov: "A medicina é a minha mulher legítima, a literatura é ilegítima" para se apresentar. "A Arquitetura é a minha mulher legítima, a Leitura é uma das ilegítimas", refere. Estreou-se a ler por aqui a 9 de maio com "A Neve Caindo sobre os Cedros", de David Guterson, seguindo-se "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, a 16 do mesmo mês, mas também leituras de obras de Manuel de Lima e Alexandra Lucas Coelho a 31 de maio. "Histórias para Uma Noite de Calmaria", de Tonino Guerra, foi a sua escolha no dia 4 de junho. No passado dia 25 de julho, a sua escolha recaiu em "Veneno e Sombra e Adeus", de Javier Marías, seguindo-se "Zadig ou o Destino", de Voltaire, a 28. O regresso processou-se a 6 de setembro, com "As Velas Ardem Até ao Fim", de Sándor Márai. Seguiram-se "Histórias de Cronópios e de Famas", de Julio Cortázar, no dia 8; "As Palavras Andantes", de Eduardo Galeano, a 11; "Um Copo de Cólera", de Raduan Nassar, a 14; e "Um Amor", de Sara Mesa, no dia 16. A 19 de setembro, a leitura escolhida foi "Ajudar a Estender Pontes", de Julio Cortázar. A 17 de outubro, a proposta centrou-se na poesia de José Carlos Barros com três poemas do livro "Penélope Escreve a Ulisses". Três dias mais tarde leu três poemas inseridos na obra "A Axila de Egon Schiele", de André Tecedeiro. A 29 do mês passado apresentou "Inquérito à Arquitetura Popular Angolana", de José Tolentino de Mendonça. De dia 1 é a leitura "Trieste", escrito pela croata Dasa Drndic e, no dia 3, a proposta foi um trecho do livro "Civilizações", escrito por Laurent Binet. No dia 5, Agostinho Costa Sousa dedicou atenção a "Viagens", de Olga Tokarczuk.

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