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Paulo Jorge Pereira

Agostinho Costa Sousa lê "Histórias para Uma Noite de Calmaria", de Tonino Guerra

Bastaria referir que Tonino Guerra foi argumentista de realizadores como Fellini e Antonioni para se perceber a sua importância. Mas Guerra, cuja obra é abordada na leitura de Agostinho Costa Sousa - "Histórias para uma Noite de Calmaria", neste caso "Os Três Pratos" -, foi muito mais do que isso.



Santarcangelo di Romagna viu nascer Tonino Guerra a 16 de março de 1920 sem que fosse possível prever com exatidão (apesar de ser filho de um famoso argumentista, Cesare Zavatini, autor de textos como o que serviu de base ao célebre "Ladrões de Bicicletas", de 1948) como se tornaria um nome importante não apenas na escrita, sobretudo no campo da poesia, mas também como elogiado argumentista. Primeiro, contudo, seria professor na escola primária e ficaria à beira da morte depois da deportação para o campo de concentração de Troisdorf-Oberlar, durante a II Guerra Mundial. Sobreviveu em terríveis condições e começou a escrever com regularidade ainda antes de ser libertado - é de 1945 o seu primeiro exemplo de livro de poesia, escrito no seu dialeto local e com o título "I Scarabócc". Contaria mais tarde que a mãe era analfabeta e que a ensinara a ler e a escrever.

É de 1952 a publicação do seu romance de estreia, "La Storia di Fortunato", sendo "Homens e Lobos", de 1957, o seu primeiro de cerca de uma centena de argumentos cinematográficos. Entre os mais conhecidos estão os de "Amarcord" (1973), de Fellini, como já estavam, por exemplo, "A Aventura" ou "Blow-Up", ambos de Antonioni, respetivamente de 1960 e 1966. Com Fellini haveria ainda "O Navio" (1983) ou "Ginger e Fred" (1986). Mas a galeria de notáveis (realizadores e filmes) não se ficou por aqui, uma vez que Guerra trabalhou também com Bolognini, Damiano, De Sica, Marco Ferreri, Monicelli, os irmãos Taviani, Francesco Rosi, Angelopoulos ou Tarkovski.

Quanto à poesia e aos romances, entre 1952 e 1989 não deixaria de publicar ao ritmo que a Sétima Arte lhe permitia.

Pelo tempo fora prosseguiu o seu trabalho cinematográfico, acumulou prémios, trabalhou em pintura e escultura. Aos 88 anos, a derradeira participação num filme surgiu sem que pudesse aperceber-se de que seria a última oportunidade: "The Dust of Time", de Theo Angelopoulos. Morreria a 21 de março de 2009.


Assírio & Alvim

Tonino Guerra recebeu três nomeações para os Óscares com "Casanova'70", "Blow-Up" e "Amarcord".

Agostinho Costa Sousa reside em Espinho e socorre-se da frase de Antón Tchekhov: "A medicina é a minha mulher legítima, a literatura é ilegítima" para se apresentar. "A Arquitetura é a minha mulher legítima, a Leitura é uma das ilegítimas", refere. Estreou-se a ler por aqui a 9 de maio com "A Neve Caindo sobre os Cedros", de David Guterson, seguindo-se "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, a 16 do mesmo mês, mas também leituras de obras de Manuel de Lima e Alexandra Lucas Coelho a 31 de maio.

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