Nasceu numa localidade da Bulgária, teria nacionalidade inglesa, escrevia em alemão, recebeu o Nobel da Literatura: trata-se de Elias Canetti, escritor que Agostinho Costa Sousa hoje propõe com um trecho da obra "O Archote no Ouvido".
Em "O Archote no Ouvido - História de uma Vida 1921-1931", estamos perante a segunda parte da autobiografia de Elias Canetti - o primeiro volume da autobiografia intitula-se "A Língua Resgatada - História de uma Juventude" e o terceiro e último "O Jogo de Olhares" -, na qual se fala da sua primeira mulher, Veza, mas também de Karl Kraus, o escritor vienense que serve como figura tutelar ao autobiografado, e ainda de momentos marcantes, vividos na cidade de Berlim em 1928, como aqueles em que conheceu Bertolt Brecht, George Grosz, Isaak Babel, entre outros.
Elias Canetti nasceu em Rustschuk, na Bulgária, a 25 de julho de 1905, com ascendência de judeus sefarditas. Iria tornar-se poliglota, expressando-se sem dificuldades em búlgaro, inglês e alemão, acabando este por prevalecer na escrita das suas obras. Mas também aprendeu ladino, género de espanhol medieval que os judeus, depois de expulsos do que corresponde à atual Espanha, introduziram no território do Império Otomano.
Os primeiros anos de vida tiveram momentos atribulados, uma vez que, tendo apenas seis anos, o futuro ensaísta viajou com a família (os pais, Mathilde e Jacques, e os irmãos, Jacques e Georges) rumo a Manchester. Porém, o pai morreu em 1912 a mãe decidiu levar os filhos para Viena, cidade onde Elias aprenderia o idioma germânico. Fugindo de preconceitos contra os judeus no rescaldo da I Guerra Mundial, de 1916 a 1921 foi estudante em Zurique e aqui se iniciou no universo da escrita. Seguiram-se dois anos na Alemanha, a viver em Frankfurt, e o regresso à Áustria. Trabalhara já como tradutor quando, em 1929, obteve doutoramento em Química na Universidade de Viena. Mas não deixou de escrever e "Auto de Fé" (Die Blendung), de 1931, tornou-se a sua primeira obra. "O Casamento" (Die Hochzeit) é do ano seguinte. Casa-se em 1934 com Veza Canetti, sua mulher até morrer em 1963, mas os acontecimentos que vão lançar o mundo novamente na loucura da guerra tornam a interferir com a sua vida: em 1938, a Alemanha nazi anexa a Áustria e o casal Canetti tem de fugir para Londres, onde Elias irá garantir nacionalidade inglesa.
Radicaram-se em Inglaterra e o escritor só começou a mudar de cenários já depois de Veza morrer. Entretanto, a obra foi crescendo: "Comédia da Vaidade" (Komödie der Eitelkeit) é de 1950 e "Os que Têm a Hora Marcada" (Die Befristeten) surgiu em 1964. Pelo meio, em 1960, publicou o ensaio "Massa e Poder" (Masse und Macht). De 1968 é "As Vozes de Marraquexe" (Die Stimmen von Marrakesh) e "O Outro Processo. Cartas de Kafka a Felice" (Der Andere Prozess: Kafkas Briefe Am Felice) surge em 1969.
Em 1971, numa fase em que já trocava muitas vezes o solo inglês pelo suíço, casou-se com Hera Buschor, de quem teria uma filha (Johanna). A publicação dos três volumes da autobiografia referida em cima começa em 1977, prossegue em 1980 com o livro que aqui hoje é apresentado por Agostinho Costa Sousa, e culmina em 1985. Mas, em 1981, Canetti é distinguido com o principal galardão literário ao receber o Prémio Nobel da Literatura. Vai acumulando distinções, continua ocupado com a escrita e os livros, agora com o apoio da filha, morrendo em Zurique, a 13 de agosto de 1994.
Cavalo de Ferro/Tradução de Maria Hermínia Brandão
Elias Canetti recebeu o Nobel da Literatura em 1981.
Agostinho Costa Sousa reside em Espinho e socorre-se da frase de Antón Tchekhov: "A medicina é a minha mulher legítima, a literatura é ilegítima" para se apresentar. "A Arquitetura é a minha mulher legítima, a Leitura é uma das ilegítimas", refere. Estreou-se a ler por aqui a 9 de maio com "A Neve Caindo sobre os Cedros", de David Guterson, seguindo-se "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, a 16 do mesmo mês, mas também leituras de obras de Manuel de Lima e Alexandra Lucas Coelho a 31 de maio. "Histórias para Uma Noite de Calmaria", de Tonino Guerra, foi a sua escolha no dia 4 de junho. No passado dia 25 de julho, a sua escolha recaiu em "Veneno e Sombra e Adeus", de Javier Marías, seguindo-se "Zadig ou o Destino", de Voltaire, a 28. O regresso processou-se a 6 de setembro, com "As Velas Ardem Até ao Fim", de Sándor Márai. Seguiram-se "Histórias de Cronópios e de Famas", de Julio Cortázar, no dia 8; "As Palavras Andantes", de Eduardo Galeano, a 11; "Um Copo de Cólera", de Raduan Nassar, a 14; e "Um Amor", de Sara Mesa, no dia 16. A 19 de setembro, a leitura escolhida foi "Ajudar a Estender Pontes", de Julio Cortázar. A 17 de outubro, a proposta centrou-se na poesia de José Carlos Barros com três poemas do livro "Penélope Escreve a Ulisses". Três dias mais tarde leu três poemas inseridos na obra "A Axila de Egon Schiele", de André Tecedeiro. A 29 de novembro apresentou "Inquérito à Arquitetura Popular Angolana", de José Tolentino de Mendonça. De dia 1 do mês seguinte é a leitura de "Trieste", escrito pela croata Dasa Drndic e, no dia 3, a proposta foi um trecho do livro "Civilizações", escrito por Laurent Binet. No dia 5, Agostinho Costa Sousa dedicou atenção a "Viagens", de Olga Tokarczuk. A 7, a obra "Húmus", de Raul Brandão, foi a proposta apresentada. Dois dias mais tarde, a leitura foi dedicada a um trecho do livro "Duas Solidões - O Romance na América Latina", com Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa. Seguiu-se "O Filho", de Eduardo Galeano, no dia 20. A 23, Agostinho Costa Sousa trouxe "O Vício dos Livros", de Afonso Cruz. Voltou um mês mais tarde com "Esta Gente/Essa Gente", poema de Ana Hatherly. No dia 26 de janeiro, apresentou "Escrever", de Stephen King. Quatro dias mais tarde foi a vez de Maria Gabriela Llansol com "O Azul Imperfeito". "Poemas e Fragmentos", de Safo, e "O Poema Pouco Original do Medo", de Alexandre O'Neill, foram outras recentes participações. Seguiram-se "Se Isto É Um Homem", de Primo Levi, e "Se Isto É Uma Mulher", de Sarah Helm. No dia 18 de março, a leitura proposta foi de um excerto de "Augustus", de John Williams. A 24, Agostinho Costa Sousa leu "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge; a 13 de abril, foi a vez do poema "Guernica", de Rui Caeiro e, no dia 20, apresentou um pouco de "Great Jones Street", de Don DeLillo. No Especial dedicado ao 25 de Abril, a sua escolha foi para "O Sangue a Ranger nas Curvas Apertadas do Coração", escrito por Rui Caeiro, seguindo-se "Ararat", de Louise Glück, no Dia da Mãe e do Trabalhador, a 1 de maio. "Ver: Amor", de David Grossman, foi a proposta de dia 17.
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