A proposta de leitura apresentada hoje por Agostinho Costa Sousa coloca de novo Nuno Júdice no centro das atenções com "Roseira de Espinho".
Nascido a 29 de julho de 1949 na pequena aldeia da Mexilhoeira Grande (Algarve), Nuno Júdice é professor universitário, ensaísta, poeta, tradutor e escritor de ficção com vasta obra publicada nos diferentes domínios e também multipremiado. Embora começasse a publicar poesia no suplemento juvenil do Diário de Lisboa ainda adolescente, integrando ainda a redação da revista O Tempo e O Modo (1969 a 1972), a estreia no universo das Letras remonta aos tempos de Faculdade: em 1972 publicou "A Noção de Poema". Licenciou-se em Filologia Românica na Universidade de Lisboa e, mais tarde, com o tema centrado na Literatura Medieval, doutorou-se na Universidade Nova (aqui haveria de ser docente, reformando-se em 2015). Em 1976, numa entrevista ao jornalista e escritor Fernando Assis Pacheco para o programa Escrever É Lutar, da RTP, fala sobre a principal influência, Fernando Pessoa, o poeta que mais o tocara, mas também por essa via aborda Walt Whitman e ainda "a poesia americana, sobretudo o Pound". E ainda identifica "traços de Rimbaud", cuja obra leu, naquilo que escreve por essa altura.
Professor do ensino secundário nos anos 90, organizou a Semana de Poesia para Lisboa Capital Europeia da Cultura (1994), acumulou parte daquele trajeto com a direção da revista literária Tabacaria (Casa Fernando Pessoa), passou ainda pela embaixada portuguesa em Paris como conselheiro cultural e pela direção do Instituto Camões na capital francesa. Antes de ser escolhido para diretor da revista Colóquio-Letras (Fundação Gulbenkian), desempenhou o papel de comissário de Literatura para a presença portuguesa na Feira do Livro de Frankfurt (49.ª edição).
Com cerca de quatro dezenas de livros de poesia publicados e quase duas dezenas de ficção (estreou-se com "Sim", em 1977), Júdice é também autor de cerca de uma dúzia de ensaios e ainda de peças de teatro. "Cada livro é um capítulo desse grande livro que tenho vindo a escrever ao longo dos anos. Há uma página diferente que é voltada em cada livro", afirmou em entrevista no programa A Força das Coisas, na Antena 2, realizada por Luís Caetano em 2008 a propósito do lançamento da obra "A Matéria do Poema".
Prémios são também perto de duas dezenas - tudo começou em 1975 com o Prémio de Poesia Pablo Neruda, atribuído a "O Mecanismo Romântico da Fragmentação" até ao Prémio Rosalía de Castro (Galiza), passando por outros como o PEN Club (1985) por "Lira de Líquen", o D. Dinis (Casa de Mateus) por "As Regras da Perspetiva" (1990), galardões da Associação Portuguesa de Escritores e Eça de Queiroz para "Meditação sobre Ruínas" (1995), o Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários para "Rimas e Contos" (2000) ou ainda o galardão Fernando Namora com "O Anjo da Tempestade" (2004) e o Grande Prémio de Literatura dst atribuído a "Geometria Variável" (2007).
Para lá de tudo isto e de uma presença constante como colaborador de diferentes órgãos de comunicação ainda apresentou, em 1993, uma antologia de Literatura Portuguesa relativa ao século XX e intitulada "Voyage dans un Siècle de Littérature Portugaise".
Entre maio de 2006 e agosto de 2008 alimentou o blog A a Z que pode ser visto aqui. "Inicialmente procurava uma articulação entre os universos da pintura e da poesia", confessou, na referida entrevista de 2008 e a propósito do blog, feito com poemas inéditos que o autor admitia, um dia, vir a publicar.
Vítor Hugo Moreira foi o primeiro a trazer o trabalho literário de Nuno Júdice aqui ao blog, a 4 de março do ano passado, com "Noite e Dia", seguindo-se Inês Henriques a 21 de março, Dia Mundial da Poesia, apresentando "Pedro Lembrando Inês".
No caso do livro de hoje, publicado em 1994, hoje assinalam-se, segundo refere Agostinho Costa Sousa, "111 anos do suicídio do médico Manuel Laranjeira, ilustre escritor que foi o primeiro presidente da Câmara local do período republicano". O suicídio aconteceu quando Manuel Laranjeira se encontrava já doente e abatido por profundo estado depressivo.
E Agostinho Costa Sousa conclui: "Ainda mais curioso é que conheço bem a casa onde vivia e se suicidou, pois sou amigo do irmão do pianista que Nuno Júdice ouviu naquele dia distante e ventoso."
Quetzal
A obra de Nuno Júdice está traduzida em mais de uma dezena de idiomas e foi distinguida com diversos galardões.
Agostinho Costa Sousa reside em Espinho e socorre-se da frase de Antón Tchekhov: "A medicina é a minha mulher legítima, a literatura é ilegítima" para se apresentar. Estreou-se a ler por aqui a 9 de maio com "A Neve Caindo sobre os Cedros", de David Guterson, seguindo-se "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, a 16 do mesmo mês, mas também leituras de obras de Manuel de Lima e Alexandra Lucas Coelho a 31 de maio. "Histórias para Uma Noite de Calmaria", de Tonino Guerra, foi a sua escolha no dia 4 de junho. No passado dia 25 de julho, a sua escolha recaiu em "Veneno e Sombra e Adeus", de Javier Marías, seguindo-se "Zadig ou o Destino", de Voltaire, a 28. O regresso processou-se a 6 de setembro, com "As Velas Ardem Até ao Fim", de Sándor Márai. Seguiram-se "Histórias de Cronópios e de Famas", de Julio Cortázar, no dia 8; "As Palavras Andantes", de Eduardo Galeano, a 11; "Um Copo de Cólera", de Raduan Nassar, a 14; e "Um Amor", de Sara Mesa, no dia 16. A 19 de setembro, a leitura escolhida foi "Ajudar a Estender Pontes", de Julio Cortázar. A 17 de outubro, a proposta centrou-se na poesia de José Carlos Barros com três poemas do livro "Penélope Escreve a Ulisses". Três dias mais tarde leu três poemas inseridos na obra "A Axila de Egon Schiele", de André Tecedeiro.
A 29 de novembro apresentou "Inquérito à Arquitetura Popular Angolana", de José Tolentino de Mendonça. De dia 1 do mês seguinte é a leitura de "Trieste", escrito pela croata Dasa Drndic e, no dia 3, a proposta foi um trecho do livro "Civilizações", escrito por Laurent Binet. No dia 5, Agostinho Costa Sousa dedicou atenção a "Viagens", de Olga Tokarczuk. A 7, a obra "Húmus", de Raul Brandão, foi a proposta apresentada. Dois dias mais tarde, a leitura foi dedicada a um trecho do livro "Duas Solidões - O Romance na América Latina", com Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa. Seguiu-se "O Filho", de Eduardo Galeano, no dia 20. A 23, Agostinho Costa Sousa trouxe "O Vício dos Livros", de Afonso Cruz. Voltou um mês mais tarde com "Esta Gente/Essa Gente", poema de Ana Hatherly. No dia 26 de janeiro, apresentou "Escrever", de Stephen King. Quatro dias mais tarde foi a vez de Maria Gabriela Llansol com "O Azul Imperfeito". "Poemas e Fragmentos", de Safo, e "O Poema Pouco Original do Medo", de Alexandre O'Neill, foram outras recentes participações. Seguiram-se "Se Isto É Um Homem", de Primo Levi, e "Se Isto É Uma Mulher", de Sarah Helm. No dia 18 de março, a leitura proposta foi de um excerto de "Augustus", de John Williams. A 24, Agostinho Costa Sousa leu "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge; a 13 de abril, foi a vez do poema "Guernica", de Rui Caeiro e, no dia 20, apresentou um pouco de "Great Jones Street", de Don DeLillo.
No Especial dedicado ao 25 de Abril, a sua escolha foi para "O Sangue a Ranger nas Curvas Apertadas do Coração", escrito por Rui Caeiro, seguindo-se "Ararat", de Louise Glück, no Dia da Mãe e do Trabalhador, a 1 de maio. "Ver: Amor", de David Grossman, foi a proposta de dia 17. No dia 23, a leitura proposta trouxe Elias Canetti com um pouco da obra "O Archote no Ouvido".
A 31 de maio surgiu com "A Borboleta", de Tonino Guerra. A 5 de junho trouxe um excerto do livro "Primeiro Amor, Últimos Ritos", de Ian McEwan. A 17, a escolha recaiu sobre "Hamnet", de Maggie O'Farrell. A 10 de julho, o trecho selecionado saiu da obra "Ofuscante - A Asa Esquerda", do romeno Mircea Cartarescu. No dia 19 de julho apresentou "Uma Caneca de Tinta Irlandesa", de Flann O'Brien. A 31 de julho leu um trecho da obra "Por Cuenta Propia - Leer y Escribir", de Rafael Chirbes. No dia 8 de agosto foi a vez de "No Entres Docilmente en Esa Noche Quieta", de Ricardo Menéndez Salmón. A 15 de agosto apresentou "Julio Cortázar y Cris", de Cristina Peri Rossi. Uma semana mais tarde, a leitura foi de um trecho da obra "Música, Só Música", de Haruki Murakami e Seiji Ozawa. De 12 de setembro é a sua leitura de um poema do livro "Do Mundo", cujo autor é Herberto Helder. "Instruções para Engolir a Fúria", de João Luís Barreto Guimarães, foi a leitura a 16 de setembro e já aqui regressou.
A 6 de outubro leu um trecho da obra "Jakob, O Mentiroso", de Jurek Becker. "Rebeldes", de Sándor Márai, foi a leitura do dia 11. Mircea Cartarescu e "Duas Formas de Felicidade" surgiram dois dias mais tarde. Seguiu-se "Diários", do poeta Al Berto, a 17 de outubro. Três dias mais tarde propôs "A Herança de Eszter", de Sándor Márai. A 2 de novembro apresentou "Os Irmãos Karamazov", de Fiódor Dostoiévski. Data de 22 de novembro a leitura de "Nicanor Parra: Rey y Mendigo", de Rafael Gumucio. A 30 de novembro leu "Schiu", de Tonino Guerra. No passado dia 12 trouxe "Montaigne", de Stefan Zweig. Recuperei a sua leitura do poema "Instruções para Engolir a Fúria" no dia 16 quando o autor, João Luís Barreto Guimarães, foi distinguido com o Prémio Pessoa. A 23 apresentou um excerto de "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge. No dia 6 de janeiro a escolha recaiu sobre "Lições", de Ian McEwan. A 16 de janeiro apresentou "Stalinegrado", de Vasily Grossman. No dia 30 leu um excerto da obra "A Biblioteca à Noite", de Alberto Manguel. De 7 de fevereiro é a leitura de "Remodelações Governamentais", de Mário-Henrique Leiria.
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