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Paulo Jorge Pereira

Agostinho Costa Sousa lê "Se Isto É Uma Mulher", de Sarah Helm

"Dentro de Ravensbrück, o campo de concentração de Hitler para mulheres", é um subtítulo de "Se Isto É Uma Mulher", livro da jornalista Sarah Helm que conta a história do cenário de suplício e tortura por onde passaram 130 mil mulheres na II Guerra Mundial. No Dia Internacional da Mulher, é a proposta de Agostinho Costa Sousa quando vivemos tempos tenebrosos de uma bárbara agressão ditada por Putin contra o martirizado povo ucraniano.



Lançado em 2015, "Se Isto É Uma Mulher" remete, de imediato, para "Se Isto É Um Homem", de Primo Levi, que Agostinho Costa Sousa trouxe aqui na sua anterior leitura. No caso da obra de Sarah Helm, contam-se histórias de Ravensbrück, um campo de extermínio que o sinistro Himmler projetou em nome de Hitler para torturar e assassinar mulheres durante a II Guerra Mundial. É uma investigação aprofundada, rigorosa e pormenorizada da jornalista que seria elogiada e premiada pelo trabalho desenvolvido. Por exemplo, Anne Applebaum, vencedora do Pulitzer, resumiu: "Usando informação a que não era possível aceder no tempo da Cortina de Ferro, Sarah Helm conseguiu realizar um notável feito de recuperação histórica. Este livro dá finalmente voz plena às mulheres de Ravensbrück, o único campo de concentração para mulheres", situado a cerca de 90 km a norte de Berlim e que, segundo a sobrevivente Germaine Tillion, era "um campo de extermínio lento".

Nascida a 2 de novembro de 1956, Helm tem formação superior em Estudos de Inglês na Universidade de Cambridge, tendo depois disso trabalhado como jornalista no The Sunday Times. A partir de 1986 passou a desenvolver a sua atividade jornalística no The Independent, especializando-se em artigos sobre espionagem e serviços secretos de tal forma que acabou mesmo por ser galardoada. No ano seguinte passou mesmo pelo Washington Post e, em 1989, já como editora, estava em Berlim a relatar os acontecimentos que levaram à queda do Muro.

Depois dos simbólicos e memoráveis episódios na capital germânica, Sarah Helm fez a cobertura da Guerra do Golfo, das diferentes problemáticas no Médio Oriente e, a meio dos anos 90, dos assuntos europeus a partir de Bruxelas. Dedicou-se, então, à escrita de livros e a obra de estreia, "A Life in Secrets: The Story of Vera Atkins and the Lost Agents of SOE" (2005), logo mereceu elogios dos principais jornais norte-americanos. Dois anos mais tarde, Helm casou-se com Jonathan Powell, chefe de gabinete do primeiro-ministro britânico, Tony Blair. O casamento não travou o seu empenhamento na escrita de livros e "Loyalty" (2011) foi a sua peça teatral para retratar, no campo da ficção, o conflito bélico no Iraque. Só quatro anos depois publicaria o livro de que hoje Agostinho Costa Sousa apreenta aqui um trecho.


Editorial Presença


"É precisamente porque se tratava de um campo de concentração só para mulheres que Ravensbrück deveria ter sacudido a consciência do mundo. Outros campos mostraram o que a Humanidade era capaz de fazer aos homens. Ravensbrück mostrou o que a Humanidade era capaz de fazer às mulheres. A natureza e a escala das atrocidades infligidas ali às mulheres nunca antes tinham sido vistas. Ravensbrück não deveria ter de lutar 'nas margens' por uma voz: foi – e é – uma história por direito próprio", escreveu Helm.

Agostinho Costa Sousa reside em Espinho e socorre-se da frase de Antón Tchekhov: "A medicina é a minha mulher legítima, a literatura é ilegítima" para se apresentar. "A Arquitetura é a minha mulher legítima, a Leitura é uma das ilegítimas", refere. Estreou-se a ler por aqui a 9 de maio com "A Neve Caindo sobre os Cedros", de David Guterson, seguindo-se "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, a 16 do mesmo mês, mas também leituras de obras de Manuel de Lima e Alexandra Lucas Coelho a 31 de maio. "Histórias para Uma Noite de Calmaria", de Tonino Guerra, foi a sua escolha no dia 4 de junho. No passado dia 25 de julho, a sua escolha recaiu em "Veneno e Sombra e Adeus", de Javier Marías, seguindo-se "Zadig ou o Destino", de Voltaire, a 28. O regresso processou-se a 6 de setembro, com "As Velas Ardem Até ao Fim", de Sándor Márai. Seguiram-se "Histórias de Cronópios e de Famas", de Julio Cortázar, no dia 8; "As Palavras Andantes", de Eduardo Galeano, a 11; "Um Copo de Cólera", de Raduan Nassar, a 14; e "Um Amor", de Sara Mesa, no dia 16. A 19 de setembro, a leitura escolhida foi "Ajudar a Estender Pontes", de Julio Cortázar. A 17 de outubro, a proposta centrou-se na poesia de José Carlos Barros com três poemas do livro "Penélope Escreve a Ulisses". Três dias mais tarde leu três poemas inseridos na obra "A Axila de Egon Schiele", de André Tecedeiro. A 29 de novembro apresentou "Inquérito à Arquitetura Popular Angolana", de José Tolentino de Mendonça. De dia 1 do mês seguinte é a leitura de "Trieste", escrito pela croata Dasa Drndic e, no dia 3, a proposta foi um trecho do livro "Civilizações", escrito por Laurent Binet. No dia 5, Agostinho Costa Sousa dedicou atenção a "Viagens", de Olga Tokarczuk. A 7, a obra "Húmus", de Raul Brandão, foi a proposta apresentada. Dois dias mais tarde, a leitura foi dedicada a um trecho do livro "Duas Solidões - O Romance na América Latina", com Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa. Seguiu-se "O Filho", de Eduardo Galeano, no dia 20. A 23, Agostinho Costa Sousa trouxe "O Vício dos Livros", de Afonso Cruz. Voltou um mês mais tarde com "Esta Gente/Essa Gente", poema de Ana Hatherly. No dia 26 de janeiro, apresentou "Escrever", de Stephen King. Quatro dias mais tarde foi a vez de Maria Gabriela Llansol com "O Azul Imperfeito". "Poemas e Fragmentos", de Safo, e "O Poema Pouco Original do Medo", de Alexandre O'Neill, foram outras recentes participações. "Se Isto É Um Homem", de Primo Levi, era a última até agora.

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