A revista Time classificou "Uma Caneca de Tinta Irlandesa", de Flann O'Brien, como "uma das 100 melhores obras da Literatura universal". E hoje é um excerto desse livro que Agostinho Costa Sousa aqui propõe.
De seu verdadeiro nome Brian O'Nolan, mas com Flann O'Brien como um dos vários pseudónimos, forma com Joyce, Swift, Beckett e Sterne um quinteto de famosos autores irlandeses, sem esquecer outros três (William Butler Yeats, Seamus Heaney e George Bernard Shaw) que, tal como Beckett, receberam o Nobel da Literatura. O'Nolan nasceu em Strabane, a 5 de outubro de 1911, sendo o terceiro de 12 irmãos - os restantes chamavam-se Gearóid, Ciarán, Roisin, Fergus, Kevin, Maeve, Nessa, Nuala, Sheila, Niall e Micheál. Aproveitou os anos na universidade para escrever e, com alguns dos colegas, fundou mesmo uma revista literária intitulada Blather.
Funcionário público, romancista, dramaturgo e com uma veia satírica muito desenvolvida, não teve o devido reconhecimento em vida e só anos depois da sua morte foi avaliada com consideração a sua obra. Flann O'Brien, o pseudónimo que usou para escrever "Uma Caneca de Tinta Irlandesa" (ou "At Swim-Two-Birds", no original), em 1939, ou "The Third Policeman", escrito no ano seguinte, mas publicado apenas em 1967, não foi o único - outros exemplos são Myles na Gopaleen, Brother Barnabas e George Knowall. O uso de pseudónimos foi útil também porque, do final dos anos 40 até à data da sua morte, em 1966, escreveu no jornal Irish Times e isso não era compatível com o seu estatuto de funcionário público.
Problemas de alcoolismo e comentários impróprios em bares e outros locais públicos sobre membros do Governo levaram a que fosse reformado mais cedo, em 1953. Esse foi, aliás, um dos males que afetaram a sua saúde, assim como um cancro na garganta. O escritor morreria vítima de ataque cardíaco na manhã do dia 1 de abril de 1966 em Dublin.
Além dos títulos referidos publicou "An Béal Bocht" (1941), "The Hard Life" (1961), "The Dalkey Archive" (1964) e "Slattery's Sago Saga", este escrito entre 1964 e 1966, mas apenas com sete capítulos, ou seja, não terminado, embora tenha sido publicado em coleções de contos e peças (1973 e 2013), além de ser adaptado aos palcos em 2010.
Cavalo de Ferro/Tradução de Maria João Freire de Andrade
E se as personagens de um livro considerassem revoltante o trabalho do seu autor, rebelando-se contra ele? É o que acontece na história que O'Brien desenvolve em "Uma Caneca de Tinta Irlandesa".
Agostinho Costa Sousa reside em Espinho e socorre-se da frase de Antón Tchekhov: "A medicina é a minha mulher legítima, a literatura é ilegítima" para se apresentar. "A Arquitetura é a minha mulher legítima, a Leitura é uma das ilegítimas", refere. Estreou-se a ler por aqui a 9 de maio com "A Neve Caindo sobre os Cedros", de David Guterson, seguindo-se "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, a 16 do mesmo mês, mas também leituras de obras de Manuel de Lima e Alexandra Lucas Coelho a 31 de maio. "Histórias para Uma Noite de Calmaria", de Tonino Guerra, foi a sua escolha no dia 4 de junho. No passado dia 25 de julho, a sua escolha recaiu em "Veneno e Sombra e Adeus", de Javier Marías, seguindo-se "Zadig ou o Destino", de Voltaire, a 28. O regresso processou-se a 6 de setembro, com "As Velas Ardem Até ao Fim", de Sándor Márai. Seguiram-se "Histórias de Cronópios e de Famas", de Julio Cortázar, no dia 8; "As Palavras Andantes", de Eduardo Galeano, a 11; "Um Copo de Cólera", de Raduan Nassar, a 14; e "Um Amor", de Sara Mesa, no dia 16. A 19 de setembro, a leitura escolhida foi "Ajudar a Estender Pontes", de Julio Cortázar. A 17 de outubro, a proposta centrou-se na poesia de José Carlos Barros com três poemas do livro "Penélope Escreve a Ulisses". Três dias mais tarde leu três poemas inseridos na obra "A Axila de Egon Schiele", de André Tecedeiro. A 29 de novembro apresentou "Inquérito à Arquitetura Popular Angolana", de José Tolentino de Mendonça. De dia 1 do mês seguinte é a leitura de "Trieste", escrito pela croata Dasa Drndic e, no dia 3, a proposta foi um trecho do livro "Civilizações", escrito por Laurent Binet. No dia 5, Agostinho Costa Sousa dedicou atenção a "Viagens", de Olga Tokarczuk. A 7, a obra "Húmus", de Raul Brandão, foi a proposta apresentada. Dois dias mais tarde, a leitura foi dedicada a um trecho do livro "Duas Solidões - O Romance na América Latina", com Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa. Seguiu-se "O Filho", de Eduardo Galeano, no dia 20. A 23, Agostinho Costa Sousa trouxe "O Vício dos Livros", de Afonso Cruz. Voltou um mês mais tarde com "Esta Gente/Essa Gente", poema de Ana Hatherly. No dia 26 de janeiro, apresentou "Escrever", de Stephen King. Quatro dias mais tarde foi a vez de Maria Gabriela Llansol com "O Azul Imperfeito". "Poemas e Fragmentos", de Safo, e "O Poema Pouco Original do Medo", de Alexandre O'Neill, foram outras recentes participações. Seguiram-se "Se Isto É Um Homem", de Primo Levi, e "Se Isto É Uma Mulher", de Sarah Helm. No dia 18 de março, a leitura proposta foi de um excerto de "Augustus", de John Williams. A 24, Agostinho Costa Sousa leu "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge; a 13 de abril, foi a vez do poema "Guernica", de Rui Caeiro e, no dia 20, apresentou um pouco de "Great Jones Street", de Don DeLillo. No Especial dedicado ao 25 de Abril, a sua escolha foi para "O Sangue a Ranger nas Curvas Apertadas do Coração", escrito por Rui Caeiro, seguindo-se "Ararat", de Louise Glück, no Dia da Mãe e do Trabalhador, a 1 de maio. "Ver: Amor", de David Grossman, foi a proposta de dia 17. No dia 23, a leitura proposta trouxe Elias Canetti com um pouco da obra "O Archote no Ouvido". A 31 de maio surgiu com "A Borboleta", de Tonino Guerra. A 5 de junho trouxe um excerto do livro "Primeiro Amor, Últimos Ritos", de Ian McEwan. A 17, a escolha recaiu sobre "Hamnet", de Maggie O'Farrell. A 10 de julho, o trecho selecionado saiu da obra "Ofuscante - A Asa Esquerda", do romeno Mircea Cartarescu.
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