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Paulo Jorge Pereira

Agostinho Costa Sousa lê "Diário 1915-1926", de Virginia Woolf

Considerada uma das mais marcantes escritoras modernistas do século XX, além de se bater pelos direitos das mulheres e contra o desmesurado poder dos homens, Virginia Woolf começou a escrever em termos profissionais aos 18 anos. Agostinho Costa Sousa traz hoje um exemplo da arte da autora, neste caso dedicado ao "Diário 1915-1926" e em particular ao dia 18 de abril de 1918.



A sua voz nunca se cansou de erguer-se a favor dos direitos das mulheres e contestar o excesso de poder dos homens, abordando ainda outras questões sociais e políticas do seu tempo. Adeline Virginia Stephen, que passaria a ser Virginia Woolf a partir do casamento com o historiador Leonard Woolf, nasceu em Kensington, Londres, a 25 de janeiro de 1882. A mãe, Julia Stephen, dedicava-se à filantropia, enquanto o pai, Leslie Stephen, era escritor. Eram frequentes as presenças de grandes vultos do meio literário em sua casa, casos de Henry James, Alfred Tennyson, Thomas Hardy ou Edward Burne-Jones. Com este ambiente à sua volta, a pequena Virginia não foi à escola e a sua educação decorreu em casa - os irmãos, porém, estudavam em Cambridge. Há suspeitas de que dois dos seus meios-irmãos, George e Gerald Duckworth, lhe teriam provocado sérios danos psicológicos, que lhe originaram uma perturbação afetiva bipolar, não diagnosticada nem tratada na altura, fator decisivo para o seu suicídio, devido aos abusos que sofreu. A mãe morreria em 1895 e Virginia, com apenas 13 anos, passou pela primeira vez por problemas mentais. Vítima de cancro, o pai faleceu em 1904, e a futura escritora tornou a sofrer de dificuldades do foro mental. Tudo isto sucedia pouco depois de a jovem se estrear na escrita de ensaios e até a publicar um artigo no suplemento feminino do jornal The Guardian. Nessa altura, Virginia foi morar com os irmãos no bairro de Bloomsbury, no qual viviam, por exemplo, John Keynes, E.M. Forster, T.S. Eliot ou Bertrand Russell.

Em novembro de 1904, Virginia conheceu o amigo do seu irmão Thoby e futuro marido Leonard Woolf num jantar e, no ano seguinte, criariam o chamado Grupo de Bloomsbury, tertúlia literária que integrava, além de Virginia e Leonard, vários escritores, pintores, críticos, filósofos, economistas, entre outros. Desprezavam as convenções da era vitoriana e queriam inovar, libertar-se das amarras sociais vigentes. No círculo literário aconteceram diversas relações amorosas, entre as quais a que ligou Virginia à escritora Vita Sackville-West. O ano de 1906 fica marcado por novo golpe contundente na vida de Virginia: após uma viagem à Grécia, Thoby adoece com gravidade devido a febre tifóide e acaba por morrer. Apesar do intenso sofrimento a que foi submetida, Virginia prosseguiu a escrita e a participação nos encontros literários que chegaram a incluir Winston Churchill e D.H. Lawrence. O casamento com Leonard seria realizado em 1912 e, em 1915, Virginia publicou o primeiro romance com o nome de "A Viagem".

De 1918 a 1939, a escritora e o marido dedicaram-se a imprimir livros à mão, depois de fundarem, em 1917, a editora Hogarth Press, com funcionamento na sua própria sala de estar e apresentando ao mundo autores como T.S. Eliot ou Katherine Mansfield. Entretanto, foi escrevendo e publicando: "Noite e Dia" (1919), "O Quarto de Jacob" (1922), "Mrs Dalloway" (1925, um dos seus livros que tiveram adaptação cinematográfica), "To the Lighthouse" (1927), "Orlando" (1928), "Um Quarto que Seja Seu" (1929), "As Ondas" (1931), "Os Anos" (1937) ou "Entre os Atos" (1941) são apenas alguns exemplos. Entre romances, ensaios, teatro, diários, contos e biografias, somou dezenas de publicações.

Perturbada, triste, profundamente deprimida com a destruição da sua casa devido aos bombardeamentos da aviação nazi e com as críticas negativas à biografia de Roger Fry que escrevera, a 28 de março de 1941 a escritora vestiu um casaco, encheu os bolsos com pedras, dirigiu-se ao rio Ouse, mergulhou e suicidou-se. Na nota de suicídio que deixou ao marido escreveu: "Querido, tenho a certeza de que enlouquecerei novamente. Sinto que não podemos passar por outro daqueles tempos terríveis. E, desta vez, não vou recuperar. Começo a escutar vozes e não consigo concentrar-me. Por isso faço o que me parece ser a melhor coisa a fazer. Tenho recebido de si a maior felicidade possível. Tem sido, em todos os aspetos, tudo o que alguém poderia ser. Não acho que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes até à chegada desta terrível doença. Não consigo mais lutar. Sei que estou a estragar a sua vida, que sem mim poderia trabalhar. E vai trabalhar, eu sei que sim. Repare que nem sequer consigo escrever isto apropriadamente. Não consigo ler. O que quero dizer é que lhe devo toda a felicidade da minha vida. Tem sido inteiramente paciente comigo e incrivelmente bom. Quero dizer que – todos sabem disso. Se havia alguém que pudesse salvar-me era o querido. Tudo se foi para mim, menos a certeza da sua bondade. Não posso continuar a estragar a sua vida. Não creio que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes do que nós."


Bertrand Editora/Tradução de Maria José Jorge


A vida de Woolf foi objeto de tratamento em livro por diversas biografias, uma das quais publicada em 1972 por Quentin Bell, seu sobrinho.

Agostinho  Costa Sousa reside em Espinho e socorre-se da frase de Antón Tchekhov: "A medicina é a minha mulher legítima, a literatura é ilegítima" para se apresentar. Estreou-se a ler por aqui a 9 de maio de 2021 com "A Neve Caindo sobre os Cedros", de David Guterson, seguindo-se "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, a 16 do mesmo mês, mas também leituras de obras de Manuel de Lima e Alexandra Lucas Coelho a 31 de maio. "Histórias para Uma Noite de Calmaria", de Tonino Guerra, foi a sua escolha no dia 4 de junho. No dia 25 de julho, a sua escolha recaiu em "Veneno e Sombra e Adeus", de Javier Marías, seguindo-se "Zadig ou o Destino", de Voltaire, a 28. O regresso processou-se a 6 de setembro, com "As Velas Ardem Até ao Fim", de Sándor Márai. Seguiram-se "Histórias de Cronópios e de Famas", de Julio Cortázar, no dia 8; "As Palavras Andantes", de Eduardo Galeano, a 11; "Um Copo de Cólera", de Raduan Nassar, a 14; e "Um Amor", de Sara Mesa, no dia 16. A 19 de setembro, a leitura escolhida foi "Ajudar a Estender Pontes", de Julio Cortázar. A 17 de outubro, a proposta centrou-se na poesia de José Carlos Barros com três poemas do livro "Penélope Escreve a Ulisses". Três dias mais tarde leu três poemas inseridos na obra "A Axila de Egon Schiele", de André Tecedeiro.

A 29 de novembro apresentou "Inquérito à Arquitetura Popular Angolana", de José Tolentino de Mendonça. De dia 1 do mês seguinte é a leitura de "Trieste", escrito pela croata Dasa Drndic e, no dia 3, a proposta foi um trecho do livro "Civilizações", escrito por Laurent Binet. No dia 5, Agostinho Costa Sousa dedicou atenção a "Viagens", de Olga Tokarczuk. A 7, a obra "Húmus", de Raul Brandão, foi a proposta apresentada. Dois dias mais tarde, a leitura foi dedicada a um trecho do livro "Duas Solidões - O Romance na América Latina", com Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa. Seguiu-se "O Filho", de Eduardo Galeano, no dia 20. A 23, Agostinho Costa Sousa trouxe "O Vício dos Livros", de Afonso Cruz. Voltou um mês mais tarde com "Esta Gente/Essa Gente", poema de Ana Hatherly. No dia 26 de janeiro, apresentou "Escrever", de Stephen King. Quatro dias mais tarde foi a vez de Maria Gabriela Llansol com "O Azul Imperfeito". "Poemas e Fragmentos", de Safo, e "O Poema Pouco Original do Medo", de Alexandre O'Neill, foram outras recentes participações. Seguiram-se "Se Isto É Um Homem", de Primo Levi, e "Se Isto É Uma Mulher", de Sarah Helm. No dia 18 de março, a leitura proposta foi de um excerto de "Augustus", de John Williams. A 24, Agostinho Costa Sousa leu "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge; a 13 de abril, foi a vez do poema "Guernica", de Rui Caeiro e, no dia 20, apresentou um pouco de "Great Jones Street", de Don DeLillo.

No Especial dedicado ao 25 de Abril, a sua escolha foi para "O Sangue a Ranger nas Curvas Apertadas do Coração", escrito por Rui Caeiro, seguindo-se "Ararat", de Louise Glück, no Dia da Mãe e do Trabalhador, a 1 de maio. "Ver: Amor", de David Grossman, foi a proposta de dia 17. No dia 23, a leitura proposta trouxe Elias Canetti com um pouco da obra "O Archote no Ouvido".

A 31 de maio surgiu com "A Borboleta", de Tonino Guerra. A 5 de junho trouxe um excerto do livro "Primeiro Amor, Últimos Ritos", de Ian McEwan. A 17, a escolha recaiu sobre "Hamnet", de Maggie O'Farrell. A 10 de julho, o trecho selecionado saiu da obra "Ofuscante - A Asa Esquerda", do romeno Mircea Cartarescu. No dia 19 de julho apresentou "Uma Caneca de Tinta Irlandesa", de Flann O'Brien. A 31 de julho leu um trecho da obra "Por Cuenta Propia - Leer y Escribir", de Rafael Chirbes. No dia 8 de agosto foi a vez de "No Entres Docilmente en Esa Noche Quieta", de Ricardo Menéndez Salmón. A 15 de agosto apresentou "Julio Cortázar y Cris", de Cristina Peri Rossi. Uma semana mais tarde, a leitura foi de um trecho da obra "Música, Só Música", de Haruki Murakami e Seiji Ozawa. De 12 de setembro é a sua leitura de um poema do livro "Do Mundo", cujo autor é Herberto Helder. "Instruções para Engolir a Fúria", de João Luís Barreto Guimarães, foi a leitura a 16 de setembro e já aqui regressou. A 6 de outubro leu um trecho da obra "Jakob, O Mentiroso", de Jurek Becker.

"Rebeldes", de Sándor Márai, foi a leitura do dia 11. Mircea Cartarescu e "Duas Formas de Felicidade" surgiram dois dias mais tarde. Seguiu-se "Diários", do poeta Al Berto, a 17 de outubro. Três dias mais tarde propôs "A Herança de Eszter", de Sándor Márai. A 2 de novembro apresentou "Os Irmãos Karamazov", de Fiódor Dostoiévski. Data de 22 de novembro a leitura de "Nicanor Parra: Rey y Mendigo", de Rafael Gumucio. A 30 de novembro leu "Schiu", de Tonino Guerra. No passado dia 12 trouxe "Montaigne", de Stefan Zweig. Recuperei a sua leitura do poema "Instruções para Engolir a Fúria" no dia 16 quando o autor, João Luís Barreto Guimarães, foi distinguido com o Prémio Pessoa. A 23 apresentou um excerto de "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge. No dia 6 de janeiro a escolha recaiu sobre "Lições", de Ian McEwan. A 16 de janeiro apresentou "Stalinegrado", de Vasily Grossman. No dia 30 leu um excerto da obra "A Biblioteca à Noite", de Alberto Manguel. De 7 de fevereiro é a leitura de "Remodelações Governamentais", de Mário-Henrique Leiria. A proposta de dia 22 de fevereiro foi "Roseira de Espinho", de Nuno Júdice. No dia 7 de março propôs "Método de Caligrafia para a Mão Esquerda", de António Cabrita. No Especial dedicado ao Dia Mundial do Teatro, a 27 de março, apresentou "Memórias", de Raul Brandão. De 30 de março é a leitura de um trecho da obra "Rebeldes", de Sándor Márai. A 10 de abril propôs "O Amante da Minha Mãe", de Urs Widmer. De 21 de abril é a leitura de um trecho do conto "A Primavera", escrito por Bruno Schulz. Do Especial dedicado ao 25 de Abril constaram poemas de Sara Duarte Brandão. A 2 de maio propôs "A Musa Irregular", de Fernando Assis Pacheco. "Ravel", de Jean Echenoz, é de 6 de junho.

"Tristia", de António Cabrita, foi a sua leitura a 9 de junho. A 23 leu "Foi Ele?", de Stefan Zweig. No dia 7 de julho trouxe "Cartas 1955-1964, volume II", de Julio Cortázar. "Uma Faca nos Dentes", de António José Forte, chegou a 21 de julho. De 30 de agosto é a leitura de um trecho da obra "Servidão Humana", de Somerset Maugham. "Nosotros", de Manuel Vilas, foi a leitura no dia 18. De 22 de setembro é a leitura da obra "A Religião da Cor", de Jorge Sousa Braga. "Exercícios de Humano", de Paulo José Miranda, foi a leitura de 11 de outubro. A 17, "Flores Silvestres", de Abbas Kiarostami, foi a proposta. "Uma História de Xadrez", de Stefan Zweig, foi a leitura de 7 de novembro. Manoel Barros e "O Poeta" surgiram a 13. "A Saga/Fuga de J.B.", de Gonzalo Torrente Ballester, foi a leitura de dia 27.

De 11 de dezembro é a leitura de "Uma Arquitetura", de Luiza Neto Jorge. "Viagens com o Charley", de John Steinbeck, foi lido no dia 29. A 5 de janeiro trouxe "A Gaivota", de Sándor Márai. A leitura de 15 de janeiro foi "En Esta Noche, En Este Mundo", de Alejandra Pizarnik. De 23 de janeiro é a leitura de um excerto da obra "O Pêndulo de Foucault", de Umberto Eco. A 5 de fevereiro trouxe "O Mal de Montano", de Enrique Vila-Matas. De 26 de fevereiro é a leitura de um trecho da obra "A Pesca à Linha - Algumas Memórias", de António Alçada Baptista. A 14 de março propôs "Servidão Humana", de Somerset Maugham. De 25 de março é "Nítido Nulo", de Vergílio Ferreira. A 16 de abril propôs "Diário Volúvel", de Enrique Vila-Matas. "Vozes", de Antonio Porchia, é de 22 de abril. De 15 de maio é a leitura de um trecho da obra "A Rapariga dos Olhos de Ouro", de Honoré de Balzac. A 10 de junho propôs "Re-Camões", de E. M. de Melo e Castro. De 19 de julho é a leitura de um trecho da obra "A Raça Maldita", de Marcel Proust. A 26 de julho trouxe de novo a obra "A Axila de Egon Schiele (poesia reunida 2014-2020)", de André Tecedeiro. De 26 de agosto é a leitura de um trecho da obra "A Pesca à Linha - Algumas Memórias", de António Alçada Baptista.

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