A proposta que Agostinho Costa Sousa nos traz hoje é a poesia de Giuseppe Ungaretti, com "Vida de um Homem", editado em 1969.
Lucca é a cidade italiana de origem dos pais de Giuseppe Ungaretti, mas este nasceu na cidade de Alexandria, em solo egípcio, a 8 de fevereiro de 1888, uma vez que a família se transferiu para ali porque o pai, cuja profissão era desenvolvida na área da Engenharia, participava na construção do Canal do Suez. Apesar da morte do pai, o resto da família manteve-se na cidade e o futuro poeta, além de tomar contacto com o trabalho literário de Stéphane Mallarmé, Gabriel d'Annunzio, Arthur Rimbaud, Giosuè Carducci, Charles Baudelaire e Giacomo Leopardi, iria tornar-se presença assídua em tertúlias de socialistas e anarquistas. Publica artigos em algumas revistas e, aos 24 anos, está em Paris como estudante universitário na Sorbonne. Também neste caso é participante em encontros literários e volta a publicar artigos em revistas, mas a I Guerra Mundial leva-o a Milão para se alistar e combater.
Em pleno conflito mundial, a estreia literária aconteceu em 1916 com a publicação da obra "Il Porto Sepolto". No ano em que terminam os confrontos, Ungaretti volta a Paris e torna-se correspondente do jornal Il Popolo d'Italia, dirigido por Benito Mussolini, futuro ditador fascista, que estará ao lado de Hitler na II Guerra Mundial, e com quem o poeta estabelece proximidade, incluindo como prefaciador de um dos seus livros. Segue-se a publicação das obras "Allegria di Naufragi" e "La Guerre" (ambas de 1919). Em 1920, Ungaretti passa a ser o marido de Jeanne Dupoix e o casal terá uma filha (Anna Maria "Ninon", nascida a 17 de fevereiro de 1925 e falecida a 26 de março de 2015) e um filho (Antonietto, nascido em 1930) e cuja morte, em 1939, iria causar profundo abalo ao escritor). De 1925 é a sua adesão ao Partido Nacional Fascista, três anos depois do golpe desferido por Mussolini com a tristemente célebre marcha sobre Roma.
Publica "L'Allegria" em 1931, ano em que volta a Itália como jornalista no romano Bollettino, viajando pelo país e pelo estrangeiro, incluindo a América do Sul. "Sentimento del Tempo" (1933) e "Traduzioni" (1936) são as suas obras antes de rumar ao Brasil, viajando de barco com a família em 1937 para render o professor Francesco Piccolo na cátedra de Língua e Literatura Italiana da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. As mortes do irmão, logo em 1937, e do filho, dois anos mais tarde, são marcos terríveis num período de cinco anos no Brasil. Em 1942, Ungaretti e a família têm de voltar a Itália, depois de serem cortadas as ligações diplomáticas entre brasileiros e países do Eixo, no contexto da II Guerra Mundial. Mais tarde, já tradutor de vários autores brasileiros, depois de também traduzir, por exemplo, Shakespeare, Racine ou William Blake, dirá: "O Brasil trouxe para a minha poesia o sentimento do contraste entre natureza e civilização, infinitamente mais profundo e infinitamente mais trágico do que já existia nas minhas primeiras obras." E admitirá, em sinal de evidente reconhecimento pela passagem por território brasileiro: "Certamente 'Il Dolore' e os livros seguintes são livros que não teria sabido escrever se não tivesse estado no Brasil e se não tivesse assistido à oposição da civilização à natureza e ao constante esforço humano de dominar a prepotência da natureza, mais evidente aqui do que em qualquer outro lugar."
Na capital italiana, é indigitado para o cargo de docente universitário de Literatura Moderna, mas, com o final do conflito mundial, é expulso devido às ligações que manteve com o regime fascista - mas acaba por regressar à Faculdade, e permanece até 1958, depois de outros professores intercederem nesse sentido. Entretanto, continuara a escrever, publicando "Poesie Disperse" (1945), "Il Dolore" (1947), "La Terra Promessa" (1950) e "Un Grido e Paesaggi" (1952). Em 1954, Ungaretti aproveita um convite da UNESCO que o leva ao Uruguai para voltar ao Brasil, recebendo homenagem do espaço onde lecionara.
Já após a morte da mulher, ocorrida em 1958, publica "Il Taccuino del Vecchio" (1960), visita São Paulo, Bahia e Minas Gerais para participar em conferências. A última visita ao Brasil acontece no ano seguinte e nova homenagem lhe é prestada com atribuiçao do título de doutor honoris causa pela Universidade onde ensinou. "Vita di un Uomo" (1969), onde está reunida toda a sua poesia e de que hoje é apresentado aqui um exemplo por Agostinho Costa Sousa, é a derradeira obra do trajeto literário. "Nos meus últimos livros continuei a interpretar o meu tempo seguindo aquele caminho que, de Petrarca a Michelangelo, de Tasso a Leopardi, é a via mestra da poesia italiana", explicou algum tempo antes de morrer, a 2 de junho de 1970.
Hiena Editora/Tradução de Luís Pignatelli
Ungaretti ensinou no Brasil durante cinco anos e o seu trabalho recebeu várias distinções do lado de lá do Atlântico.
Agostinho Costa Sousa reside em Espinho e socorre-se da frase de Antón Tchekhov: "A medicina é a minha mulher legítima, a literatura é ilegítima" para se apresentar. Estreou-se a ler por aqui a 9 de maio de 2021 com "A Neve Caindo sobre os Cedros", de David Guterson, seguindo-se "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, a 16 do mesmo mês, mas também leituras de obras de Manuel de Lima e Alexandra Lucas Coelho a 31 de maio. "Histórias para Uma Noite de Calmaria", de Tonino Guerra, foi a sua escolha no dia 4 de junho. No dia 25 de julho, a sua escolha recaiu em "Veneno e Sombra e Adeus", de Javier Marías, seguindo-se "Zadig ou o Destino", de Voltaire, a 28. O regresso processou-se a 6 de setembro, com "As Velas Ardem Até ao Fim", de Sándor Márai. Seguiram-se "Histórias de Cronópios e de Famas", de Julio Cortázar, no dia 8; "As Palavras Andantes", de Eduardo Galeano, a 11; "Um Copo de Cólera", de Raduan Nassar, a 14; e "Um Amor", de Sara Mesa, no dia 16. A 19 de setembro, a leitura escolhida foi "Ajudar a Estender Pontes", de Julio Cortázar. A 17 de outubro, a proposta centrou-se na poesia de José Carlos Barros com três poemas do livro "Penélope Escreve a Ulisses". Três dias mais tarde leu três poemas inseridos na obra "A Axila de Egon Schiele", de André Tecedeiro.
A 29 de novembro apresentou "Inquérito à Arquitetura Popular Angolana", de José Tolentino de Mendonça. De dia 1 do mês seguinte é a leitura de "Trieste", escrito pela croata Dasa Drndic e, no dia 3, a proposta foi um trecho do livro "Civilizações", escrito por Laurent Binet. No dia 5, Agostinho Costa Sousa dedicou atenção a "Viagens", de Olga Tokarczuk. A 7, a obra "Húmus", de Raul Brandão, foi a proposta apresentada. Dois dias mais tarde, a leitura foi dedicada a um trecho do livro "Duas Solidões - O Romance na América Latina", com Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa. Seguiu-se "O Filho", de Eduardo Galeano, no dia 20. A 23, Agostinho Costa Sousa trouxe "O Vício dos Livros", de Afonso Cruz. Voltou um mês mais tarde com "Esta Gente/Essa Gente", poema de Ana Hatherly. No dia 26 de janeiro, apresentou "Escrever", de Stephen King. Quatro dias mais tarde foi a vez de Maria Gabriela Llansol com "O Azul Imperfeito". "Poemas e Fragmentos", de Safo, e "O Poema Pouco Original do Medo", de Alexandre O'Neill, foram outras recentes participações. Seguiram-se "Se Isto É Um Homem", de Primo Levi, e "Se Isto É Uma Mulher", de Sarah Helm. No dia 18 de março, a leitura proposta foi de um excerto de "Augustus", de John Williams. A 24, Agostinho Costa Sousa leu "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge; a 13 de abril, foi a vez do poema "Guernica", de Rui Caeiro e, no dia 20, apresentou um pouco de "Great Jones Street", de Don DeLillo.
No Especial dedicado ao 25 de Abril, a sua escolha foi para "O Sangue a Ranger nas Curvas Apertadas do Coração", escrito por Rui Caeiro, seguindo-se "Ararat", de Louise Glück, no Dia da Mãe e do Trabalhador, a 1 de maio. "Ver: Amor", de David Grossman, foi a proposta de dia 17. No dia 23, a leitura proposta trouxe Elias Canetti com um pouco da obra "O Archote no Ouvido".
A 31 de maio surgiu com "A Borboleta", de Tonino Guerra. A 5 de junho trouxe um excerto do livro "Primeiro Amor, Últimos Ritos", de Ian McEwan. A 17, a escolha recaiu sobre "Hamnet", de Maggie O'Farrell. A 10 de julho, o trecho selecionado saiu da obra "Ofuscante - A Asa Esquerda", do romeno Mircea Cartarescu. No dia 19 de julho apresentou "Uma Caneca de Tinta Irlandesa", de Flann O'Brien. A 31 de julho leu um trecho da obra "Por Cuenta Propia - Leer y Escribir", de Rafael Chirbes. No dia 8 de agosto foi a vez de "No Entres Docilmente en Esa Noche Quieta", de Ricardo Menéndez Salmón. A 15 de agosto apresentou "Julio Cortázar y Cris", de Cristina Peri Rossi. Uma semana mais tarde, a leitura foi de um trecho da obra "Música, Só Música", de Haruki Murakami e Seiji Ozawa. De 12 de setembro é a sua leitura de um poema do livro "Do Mundo", cujo autor é Herberto Helder. "Instruções para Engolir a Fúria", de João Luís Barreto Guimarães, foi a leitura a 16 de setembro e já aqui regressou. A 6 de outubro leu um trecho da obra "Jakob, O Mentiroso", de Jurek Becker.
"Rebeldes", de Sándor Márai, foi a leitura do dia 11. Mircea Cartarescu e "Duas Formas de Felicidade" surgiram dois dias mais tarde. Seguiu-se "Diários", do poeta Al Berto, a 17 de outubro. Três dias mais tarde propôs "A Herança de Eszter", de Sándor Márai. A 2 de novembro apresentou "Os Irmãos Karamazov", de Fiódor Dostoiévski. Data de 22 de novembro a leitura de "Nicanor Parra: Rey y Mendigo", de Rafael Gumucio. A 30 de novembro leu "Schiu", de Tonino Guerra. No passado dia 12 trouxe "Montaigne", de Stefan Zweig. Recuperei a sua leitura do poema "Instruções para Engolir a Fúria" no dia 16 quando o autor, João Luís Barreto Guimarães, foi distinguido com o Prémio Pessoa. A 23 apresentou um excerto de "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge. No dia 6 de janeiro a escolha recaiu sobre "Lições", de Ian McEwan. A 16 de janeiro apresentou "Stalinegrado", de Vasily Grossman. No dia 30 leu um excerto da obra "A Biblioteca à Noite", de Alberto Manguel. De 7 de fevereiro é a leitura de "Remodelações Governamentais", de Mário-Henrique Leiria. A proposta de dia 22 de fevereiro foi "Roseira de Espinho", de Nuno Júdice. No dia 7 de março propôs "Método de Caligrafia para a Mão Esquerda", de António Cabrita. No Especial dedicado ao Dia Mundial do Teatro, a 27 de março, apresentou "Memórias", de Raul Brandão. De 30 de março é a leitura de um trecho da obra "Rebeldes", de Sándor Márai. A 10 de abril propôs "O Amante da Minha Mãe", de Urs Widmer. De 21 de abril é a leitura de um trecho do conto "A Primavera", escrito por Bruno Schulz. Do Especial dedicado ao 25 de Abril constaram poemas de Sara Duarte Brandão. A 2 de maio propôs "A Musa Irregular", de Fernando Assis Pacheco. "Ravel", de Jean Echenoz, é de 6 de junho.
"Tristia", de António Cabrita, foi a sua leitura a 9 de junho. A 23 leu "Foi Ele?", de Stefan Zweig. No dia 7 de julho trouxe "Cartas 1955-1964, volume II", de Julio Cortázar. "Uma Faca nos Dentes", de António José Forte, chegou a 21 de julho. De 30 de agosto é a leitura de um trecho da obra "Servidão Humana", de Somerset Maugham. "Nosotros", de Manuel Vilas, foi a leitura no dia 18. De 22 de setembro é a leitura da obra "A Religião da Cor", de Jorge Sousa Braga. "Exercícios de Humano", de Paulo José Miranda, foi a leitura de 11 de outubro. A 17, "Flores Silvestres", de Abbas Kiarostami, foi a proposta. "Uma História de Xadrez", de Stefan Zweig, foi a leitura de 7 de novembro. Manoel Barros e "O Poeta" surgiram a 13. "A Saga/Fuga de J.B.", de Gonzalo Torrente Ballester, foi a leitura de dia 27.
De 11 de dezembro é a leitura de "Uma Arquitetura", de Luiza Neto Jorge. "Viagens com o Charley", de John Steinbeck, foi lido no dia 29. A 5 de janeiro trouxe "A Gaivota", de Sándor Márai. A leitura de 15 de janeiro foi "En Esta Noche, En Este Mundo", de Alejandra Pizarnik. De 23 de janeiro é a leitura de um excerto da obra "O Pêndulo de Foucault", de Umberto Eco. A 5 de fevereiro trouxe "O Mal de Montano", de Enrique Vila-Matas.
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