Uma vida recheada de aventuras no fascinante mundo da música e das letras: assim pode sintetizar-se o percurso de Erik Satie, proposta de leitura para hoje por Amílcar Mendes com "O Dia a Dia de um Músico".
Nascido a 17 de maio de 1866, em Honfleur (Normandia), Éric Alfred Leslie Satie, que mais tarde passaria a autodesignar-se Erik Satie, era filho de uma escocesa (Jane Leslie Aston) e do francês Jules Alfred Satie, tendo irmãos mais novos (Olga e Conrad). Com apenas sete anos era já órfão de mãe e, como o pai decidiu viver na capital francesa, o pequeno ficou ao cuidado do tio Adrien. Assim daria os primeiros passos na música, aprendendo piano com um organista de igreja e só passando a morar em Paris a partir de 1878. A entrada no Conservatório, aos 14 anos, parecia promessa de que um menino-prodígio estava em produção, mas os docentes não avaliaram da mesma forma e Satie passaria a tocar piano no cabaré Le Chat Noir. Aqui iria travar conhecimento com inúmeras personalidades da Cultura francesa da época, tornando-se mesmo amigo de Debussy.
Mas nem só de música se preenchia a vida do compositor e pianista: o esoterismo e as ciências ocultas exerciam sobre ele um tal fascínio que aderiu à Ordem Cabalística de Rosa-Cruz (1891) e, sendo o único membro, criou mesmo L'Église Métropolitaine d'Art de Jésus Conducteur. Vive em Montmartre até 1898, sofre um desgosto amoroso quando a sua paixão, a pintora (e modelo de Degas e Renoir) Suzanne Valadon, rejeita o pedido de casamento, acabando por aceitar o de Paul Moussis, de quem se separou em 1909. Amargurado, muda-se então para Arcueil, mas, como o seu ganha-pão continua a fazer-se nos cabarés de Montmartre, passa a percorrer a pé todos os dias uma distância correspondente a nove quilómetros. Decide então, com 36 anos, voltar aos estudos musicais, entra na Schola Cantorum e obtém, três anos depois, o correspondente documento a atestar a formação como contraponto.
Compõe como nunca e, em 1911, suscita o interesse de Maurice Ravel que lhe granjeia atenções ao tornar públicos alguns dos seus trabalhos. Jean Cocteau é o responsável pelo momento seguinte de projeção para Satie - em 1917, a peça "Parade", encomendada por Cocteau para os Ballets Russes, faz do compositor um nome com marcas para o futuro como exemplo de inovação ao englobar sons de tiros de pistola, teclas de máquina de escrever ou sirenes na sua peça musical. "Sócrates", de 1920, é outra das suas mais importantes composições e também ganhou dimensão com a experiência feita ao lado de Darius Milhaud: chamam-lhe "musique d'ameublement", mas entrará na contemporaneidade como música ambiente.
A vida nos cabarés não transforma Satie apenas num excelente pianista ou compositor, vai deixando os seus efeitos e produzindo desgaste por via da bebida e de outros vícios. Já fora atingido por uma pleurisia quando teve de ser internado no hospital e, após dias de tentativas de tratamento, sucumbiu a 1 de julho de 1925.
Quando a pintora Suzanne Valadon recusou o seu pedido de casamento e aceitou o de Paul Moussis, Erik Satie sofreu forte abalo.
Amílcar Mendes, ator e "dizedor de poesia", que também foi coordenador das noites de Poesia do Pinguim Café e do Púcaros Bar, no Porto, deixa-nos uma leitura diferente. A sua estreia aqui no blog registou-se a 5 de junho do ano passado com um excerto de "Gin sem Tónica, mas Também", de Mário-Henrique Leiria. Do dia 3 de julho é a leitura de "Poemas de Ponta & Mola", de Mendes de Carvalho, seguindo-se "Poema do Gato", de António Gedeão, a 7 de julho; "Funeral", de Dinis Moura, a 14 de julho; a 24 desse mês, a escolha recaiu em "Quadrilha", de Carlos Drummond de Andrade; voltou à aposta em António Gedeão com "Trovas para Serem Vendidas na Travessa de São Domingos" a 6 de agosto; a 10 de setembro, o poema "Árvore", de Manoel de Barros, foi a proposta. "Socorro", de Millôr Fernandes, foi a escolha de dia 11 de outubro e, a 29, foi apresentado "História do Homem que Perdeu a Alma num Café", de Rui Manuel Amaral. A 7 de novembro, Amílcar Mendes trouxe "A História é uma História", de Millôr Fernandes. "Aproveita o Dia", de Walt Whitman, foi a proposta a 27 de novembro. No dia 15 do mês seguinte, Amílcar Mendes leu "A Princesa de Braços Cruzados" , de Adília Lopes. A 19 surgiu "A Morte do Pai Natal", de Rui Souza Coelho. Quase um mês depois, a 17 de janeiro, apresentou "Uma Faca nos Dentes", de António José Forte. A 8 de fevereiro leu o poema "Não Cantes", de Al Berto. No dia 20, apresentou "Ano Comum", de Joaquim Pessoa. Uma semana mais tarde, a proposta centrou-se em dois textos de Mário-Henrique Leiria. A 17 de março propôs "Breves Respostas às Grandes Perguntas", de Stephen Hawking; a 15 de abril a sugestão centrou-se no poema "Se Um Dia a Juventude Voltasse", de Al Berto. "Turris Eburnea", de Inês Lourenço, foi a proposta de 27 de abril.
Comments