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Paulo Jorge Pereira

Ana Zorrinho lê "As Flores do Mal", de Charles Baudelaire

Natural de Santiago do Cacém e licenciada em Direito, Ana Zorrinho tem uma relação de intimidade com a escrita como autora, e ainda com a leitura, conforme volta a demonstrar aqui ao apresentar o poema "Embriagai-vos" (Enivrez-vous), inserido na obra "As Flores do Mal", de Charles Baudelaire.



Poeta, crítico de arte e tradutor, Charles Pierre Baudelaire só após a morte teve reconhecimento pela sua obra, partilhando com Walt Whitman o peso do pioneirismo na modernidade poética. Nascido em Paris a 9 de abril de 1821, os tempos de estudante no Colégio Real de Lyon e no Lycée Louis-le-Grand foram atribulados - já depois da morte do pai, François Baudelaire, algo que aconteceu quando tinha apenas seis anos, neste último caso, receberia mesmo ordem de expulsão. Em 1838 escreve o poema "Incompatibilité" e torna-se amigo de poetas como Gustave le Vavasseur ou Ernest Prarond. Os traços de indisciplina levaram o padrasto, o então coronel Jacques Aupick, a enviá-lo para a Índia em 1840, mas Baudelaire, comprovando a sua arte de bem escapar a destinos programados, parou na ilha de Reunião e regressou a Paris assim que pôde. Quando teve à disposição a herança do pai aproveitou a oportunidade para dar largas à boémia e, ao lado de Jeanne Duval, atriz e dançarina haitiana com quem viveu paixão ao longo de duas décadas, entregou-se ao álcool e à toxicodependência durante dois anos. Porém, em 1844, uma ação da mãe na Justiça, acusando-o de gastos desregrados, levou a que passasse a ter o resto da fortuna do pai sob controlo de um tutor. Três anos depois publica "Le Fanfarlo", único exemplo de romance no conjunto da sua obra. Escreve crítica literária e dedica-se às traduções, entre as quais de livros de Edgar Allan Poe.

De 1857 é a edição da obra "Les Fleurs du Mal" (As Flores do Mal), de que aqui já se apresentou o poema "Le Chat"e que hoje volta com "Embriagai-vos", mas logo ensombrada pela controvérsia: o livro contém uma centena de poemas, mas, sob acusação de violar a moral pública, várias unidades são retiradas de circulação, Baudelaire é condenado a pagar multa de 300 francos e a editora tem de pagar 100. Na reação, o poeta substitui os seis poemas que geraram o ato de censura por outros 30 que, quatro anos mais tarde, possibilitam o regresso da obra às vendas. Publica "Os Paraísos Artificiais" e continua a escrever crítica literária e ensaios.

A partir de 1864 e durante dois anos, Charles Baudelaire vive na Bélgica, aqui começando a sentir problemas de saúde. Conhece Félicien Rops, o desenhador que irá ilustrar próximas edições de "As Flores do Mal". Mas o estado de saúde agrava-se, o poeta regressa a Paris e morrerá na capital francesa a 31 de agosto de 1867, vítima de sífilis.


Éditions Flammarion


"O mais irritante no amor é que se trata do tipo de crime que exige um cúmplice", escreveu Baudelaire.

Natural de Santiago do Cacém e licenciada em Direito, Ana Zorrinho tem uma relação de intimidade com a escrita e, além de entregar poemas da sua autoria à música, também entrou no Cancioneiro Infanto-Juvenil da língua portuguesa com poesia: "Quem canta em água tão fria....". Paixão é também o teatro, área em que tem formação, tendo colaborado com o grupo GATO SA como atriz. Além disso,

orientou, ao longo de quase uma década, o grupo teatral da Sociedade Harmonia, com jovens em papel fulcral; produziu adaptações e até guiões originais. A leitura e os jovens continuam a fazer parte do seu dia a dia, no qual é responsável por sessões e por um projeto de poesia em curtas metragens, sob o título “Silêncios”.

Deixo aqui um exemplo de outro enorme talento da escritora: a declamação. "O Último Poema" integra "Súbito", o seu livro de poesia lançado a 8 de julho, numa sessão de que é exemplo esta leitura.

"Histórias de um Tempo Só", o belo e poderoso livro de contos escrito por Ana Zorrinho e com maravilhosas ilustrações de Raquel Ventura (que também ilustrou "Lá", uma obra da escritora dirigida a crianças), foi tema central do blog a 17 de julho de 2020. Uma semana mais tarde, no dia 24, um precioso projeto com direção artística da escritora, a Oficina do Teatro, apresentou a sua leitura em conjunto de "Lágrima de Preta", inesquecível poema de António Gedeão, tão apropriado para os tempos que correm, marcados pelo recrudescimento do racismo. É caso para dizer que, com a escritora Ana Zorrinho, ficamos sempre a ganhar. A começar pela aprendizagem que nos proporciona. E, já agora, pela forma inesquecível como lê e dramatiza os textos - por exemplo, guardem bem na memória aquela última frase do trecho do livro de Mia Couto, "Venenos de Deus, Remédios do Diabo", que aqui leu a 11 de agosto de 2020.

Além de outros exemplos de leituras que aqui trouxe, a 30 de maio de 2022 leu um poema do seu conterrâneo Manuel da Fonseca. No primeiro dia de 2023, a participação foi feita com o poema "Dá-me a tua Mão por Cima das Horas", inserido n'"O Livro dos Amantes" em "Poesia Completa - O Sol das Noites e o Luar dos Dias", editado em 1999 e da autoria de Natália Correia. De 27 de fevereiro é a leitura de "Stoner", de John Williams. A 8 de maio leu um excerto da obra "A Grande Imersão", na homenagem a Luís Carmelo. A 12 de junho de 2024 trouxe "A Última Ceia", de Maria do Rosário Pedreira.

Não percam ainda a leitura de "Súbito", lançado a 8 de julho de 2023, e o trabalho de ourives que Jorge Ferreira, editor da Caleidoscópio, nos proporciona. É uma obra inesquecível, para ler muitas vezes e andar sempre connosco: no coração.

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