Com formação de ator e jornalista, Armando Liguori tem três livros publicados e um canal no YouTube onde já fez mais de mil leituras. Aqui propõe o poema "Se te Queres Matar, Porque Não te Queres Matar?", escrito por Fernando Pessoa sob a assinatura do heterónimo Álvaro de Campos.
Uma reflexão sobre a vida e a morte: esta é a temática que marca o famoso poema "Se te Queres Matar, Porque Não te Queres Matar?", que Fernando Pessoa escreveu sob o heterónimo de Álvaro de Campos. Embora já tenha sido feita referência aqui à carta que Pessoa escreveu ao amigo Adolfo Casais Monteiro, entre outras coisas explicando o perfil e a natureza dos seus heterónimos, vale a pena recuperar parte desse documento no que diz respeito a Álvaro de Campos, nascido "em Tavira, à 1.30 da tarde do dia 15 de Outubro de 1890". E acrescenta: "Quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê", é Álvaro de Campos quem surge. "De repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num jato, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a 'Ode Triunfal' de Álvaro de Campos — a Ode com esse nome e o homem com o homem que tem", explica. Entre outros pormenores que envia a Casais Monteiro, Pessoa indica: "Quando foi da publicação do Orpheu, foi preciso, à última hora, arranjar qualquer coisa para completar o número de páginas. Sugeri então ao Sá-Carneiro que eu fizesse um poema 'antigo' do Álvaro de Campos — um poema de como o Álvaro de Campos seria antes de ter conhecido Caeiro e ter caído sob a sua influência. E assim fiz o 'Opiário', em que tentei dar todas as tendências latentes do Álvaro de Campos, conforme haviam de ser depois reveladas, mas sem haver ainda qualquer traço de contacto com o seu mestre Caeiro. Foi dos poemas, que tenho escrito, o que me deu mais que fazer, pelo duplo poder de despersonalização que tive de desenvolver. Mas, enfim, creio que não saiu mau, e que dá o Álvaro em botão", sintetiza.
Fernando Pessoa e os seus heterónimos Bernardo Soares e Alberto Caeiro já tiveram protagonismo aqui no blog: no primeiro caso, através da leitura de um excerto de "Livro do Desassossego", a 9 de abril; depois, a 15 de junho, com o poema "A Espantosa Realidade das Coisas", lido por Sandra Escudeiro.
Organização de Cleonice Berardinelli/Editora Nova Fronteira
Datado de 26 de abril de 1926 e englobado nas "Poesias de Álvaro de Campos", o poema teve edição original na Ática em 1944.
Armando Liguori Junior, ator e jornalista de formação, tem três livros publicados; dois de poemas ("A Poesia Está em Tudo" – Editora Patuá 2020; "Territórios" – Editora Scortecci 2009; e um de dramaturgia: "Textos Curtos para Teatro e Cinema (2017) – Giostri Editora). Atualmente mantém um canal no YouTube (Armando Liguori), dedicado a leituras literárias, especialmente de poesia.
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