Voz e rosto no Desporto da RTP há mais de duas dezenas de anos, Carlos Manuel Albuquerque propõe um clássico livro sobre futebol, escrito em 1981 pelo biólogo Desmond Morris com uma visão muito própria sobre o complexo universo à volta desta modalidade.
Quando publicou "A Tribo do Futebol", no começo dos anos 80, Desmond Morris já era famoso pelos seus estudos e obras acerca dos comportamentos animais e humanos: era apresentador do programa "Zoo Time", na ITV, em 1967 publicou "O Macaco Nu" e os seus conceitos ganharam notoriedade à escala mundial. Nascido a 24 de janeiro de 1928, Desmond teve no pai uma perda importante, uma vez que Harry Morris, autor de livros para crianças, foi morto em combate na II Guerra Mundial. Enquanto estudava, Desmond seguiu o exemplo do avô William, que fora botânico e criara o jornal de Swindon, e apaixonou-se por áreas como a escrita e a história natural. Cumpriu o serviço militar e aproveitou a oportunidade para estudar Belas Artes, desenvolvendo as suas técnicas de pintura ao estilo surrealista. Depois de sair da tropa, no final dos anos 40, estudou Zoologia na Universidade de Birmingham e participou em exposições. Já na década de 50 realiza dois filmes ainda com temática surrealista ("Time Flower" e "The Butterfly and The Pin") e começa o seu doutoramento em Comportamento Animal no Departamento de Zoologia de Oxford. Casa-se com Ramona Baulch em 1952 e serão pais de um rapaz (Jason). Quatro anos depois mudam-se para Londres e Desmond será o responsável pela área de documentários da Granada TV para a Sociedade Zoológica londrina. Torna-se o apresentador do programa semanal "Zoo Time" até 1959 (chega ao meio milhar de edições) e ainda de 100 episódios do programa "Life in the Animal World" para o segundo canal da BBC. Sempre com a temática dos comportamentos animais e humanos como epicentro da sua atividade, organiza exposições com pinturas feitas por chimpanzés e outras que comparam desenhos de crianças, adultos e macacos. Entre finais dos anos 50 e 60, deixa o programa "Zoo Time" e passa por diversas instituições ligadas à Zoologia e à arte contemporânea.
O ano de 1967 assinala o seu maior sucesso com a publicação do livro "O Macaco Nu". O êxito das vendas leva-o a Malta e a escrever uma espécie de continuação: "O Zoo Humano", publicado em 1969. Continua a escrever e, em 1973, regressa a Oxford para trabalhar com o etologista Niko Tinbergen, nesse ano vencedor do Nobel da Medicina ao lado de Karl von Frisch e Konrad Lorenz. Dedica-se à investigação científica até 1981, embora a partir de 1979 tenha voltado aos programas televisivos com "The Human Race". Prossegue os seus projetos na televisão até aos anos 90, altura em que se retira do pequeno ecrã.
Aos 92 anos, continua a ser uma das vozes mais escutadas das suas áreas científicas, apesar das acusações que lhe fizeram ao longo dos anos, no sentido de que escreveria as suas obras numa perspetiva apenas masculina. "Não sou machista, sou apenas um observador do ser humano na sua realidade quotidiana", defendeu numa entrevista em 2016. Na mesma entrevista opinava que "o controlo da natalidade vai ser feito através de epidemias, porque as cidades são meios propícios para o contágio das doenças". Vive com o filho na Irlanda desde a morte da mulher em 2018.
Tradução de Carolina de Oliveira (Publicações Europa-América)
"O animal humano é uma espécie extraordinária. Entre todos os acontecimentos da história humana, aquele que atraiu a maior assistência não foi uma grande ocasião política, nem uma celebração especial de alguma proeza complexa nas artes ou ciências, mas sim um simples jogo de bola - uma partida de futebol", lê-se na introdução da obra de Morris.
Experiente jornalista, Carlos Manuel Albuquerque é uma das vozes e rostos do Desporto na RTP desde 1993, tendo antes trabalhado para a Antena 1. Tem marcado presença como repórter em inúmeras provas internacionais de grande dimensão, sendo assíduo na Volta a Portugal em Bicicleta.
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