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Paulo Jorge Pereira

Cláudia Marques Santos lê "Os Passos em Volta", de Herberto Helder

A jornalista Cláudia Marques Santos, com vasto trabalho na área cultural, propõe um excerto da obra de Herberto Helder, o homem que procurou manter-se afastado das massas e recusou o Prémio Pessoa em 1994.



Escreveu muito e muito se escreveu sobre ele, mas o poeta Herberto Helder procurou manter-se distante do circo mediático e pedia a quem o conhecia que não colaborasse caso alguém tentasse quebrar essa vontade. Nascido no Funchal, a 23 de novembro de 1930, irmão de Maria Regina e Maria Elora, perdeu a mãe aos sete anos e essa marca ficará para sempre na sua obra. Viajou para o continente em 1948 e matriculou-se na Faculdade para estudar Direito em Coimbra, mas acabaria por mudar-se para Filologia Românica. Quando esteve na capital fez um pouco de tudo, sendo jornalista, tradutor, apresentador de programas na rádio e bibliotecário. Passa pelo movimento surrealista e pela Poesia Experimental ao lado de Ana Hatherly, António Aragão, Melo e Castro, Salette Tavares, entre outros, e Luiz Pacheco iria editar a sua primeira obra, "O Amor em Visita" (1958). Escreve na revista Pirâmide e, aos poucos, vai ganhando estatuto de voz original na poesia portuguesa, mesmo que os seus livros tenham, por vontade própria, devido à vontade de se manter distanciado da massificação (deu a última entrevista em 1968 e no ano seguinte teve rara participação numa curta-metragem), tiragens modestas com escassas centenas de exemplares. Volta à Madeira, viaja pela Europa, desempenha tarefas tão invulgares como ser cortador de legumes, guia de marinheiros em bairros de prostitutas ou empacotador de aparas de papel e vai escrevendo. "A Colher na Boca", "Poemacto", "Lugar", "A Máquina de Emaranhar Paisagens", o livro de contos "Os Passos em Volta", "Electrònicolírica", "Húmus: Poema-Montagem", "Retrato em Movimento", "O Bebedor Nocturno" são algumas das obras editadas até à década de 70. Nessa altura, a sua escrita é contagiada pela alquimia e pelo oculto. Sem trabalho e em dificuldades além-fronteiras, acaba por voltar a Portugal. Entre 1971 e 1972 está em Angola, trabalha na revista Notícia, escreve crónicas e reportagens que darão origem a um livro - "em minúsculas", publicado apenas após a sua morte - e sofre um grave acidente de automóvel. Regressa a Portugal e prossegue a publicação: "Cobra", "O Corpo o Luxo a Obra", "Photomaton & Vox", "Flash", "A Plenos Pulmões". De 1981 é a primeira coletânea do seu trabalho poético, "Poesia Toda 1953-1980". Não se afasta um milímetro da sua ideia de permanecer na penumbra. A Fundação Gulbenkian, para a qual trabalhou no serviço de bibliotecas itinerantes, tenta garantir-lhe um subsídio que o poeta não aceita. A Associação Portuguesa de Críticos atribui-lhe um prémio em 1988, mas o escritor recusa-o. Seis anos mais tarde age de igual forma e rejeita o Prémio Pessoa.

Até morrer aos 84 anos, a 23 de março de 2015, publicará mais cerca de duas dezenas de obras, transformando-se num dos nomes mais respeitados da poesia em português na segunda metade do século XX.

Casou-se por duas vezes, tendo uma filha (Gisele) do primeiro casamento, nenhum do segundo e um filho (o jornalista Daniel Oliveira) da relação com Isabel Figueiredo.


Porto Editora


Estar à margem foi uma questão de honra para o escritor que sempre recusou quaisquer formas de reconhecimento por parte das instituições.

Jornalista freelancer com vasto trabalho na área da Cultura, Cláudia Marques Santos é licenciada em Ciências da Comunicação e Mestre em Cultura Contemporânea e Novas Tecnologias pela Universidade Nova (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas). Na imprensa passou pela redação do semanário O Independente e tem artigos publicados na revista Visão, mas também no Diário de Notícias, Público, Expresso, revistas Notícias Magazine, Vogue, Máxima, Up Inflight Mag e LER. Na Internet criou o projeto Ifyouwalkthegalaxies.com, como a própria descreve no site, de "entrevistas filmadas de uma nova geração de artistas plásticos e performativos, designers, escritores, cineastas, fotógrafos, arquitetos, músicos, pensadores". Mas a sua atividade estende-se também ao pequeno ecrã em programas de índole cultural, numa colaboração regular com a produtora Subfilmes - Pop Up/RTP2, Lisboa Mistura TV e Blitz TV, ambos na SIC Notícias, Fuzz/SIC Radical - e através de documentários como "Não me Obriguem a Vir para a Rua Gritar", dedicado a Zeca Afonso. Em 2018 conquistou a bolsa de Jornalismo Cultural da Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo Iberoamericano e, no ano seguinte, ganhou a Bolsa de Investigação Jornalística da Fundação Gulbenkian.

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