Volta o poeta Gastão Cruz com a leitura de Diana Combo: "Teoria da Fala", poema que integra a Antologia 1960-1990.
Encenador, crítico literário e poeta, não necessariamente por esta ordem, Gastão Santana Franco da Cruz nasceu a 20 de julho de 1941 em Faro. Desde muito jovem tomou contacto com as artes e as letras, nomeadamente a poesia, uma vez que o pai recitava e a ópera era um género musical muito escutado em casa. Em 1958 foi estudar para a capital e teria o escritor David Mourão-Ferreira como um dos seus professores. Licenciado em Filologia Germânica pela Universidade de Lisboa, são desta fase as colaborações iniciais em publicações como os Cadernos do Meio-Dia, que António Ramos Rosa e Casimiro de Brito dirigiam em Faro.
"Morte Percutiva", integrado na publicação coletiva Poesia 61 - que reuniu ainda trabalhos de autores como Fiama Hasse Pais Brandão, Maria Teresa Horta, Luísa Neto e Casimiro de Brito -, foi o seu primeiro livro. Contestatário da ditadura salazarista e envolvido nas greves estudantis universitárias, Gastão Cruz esteve preso em 1962. Dois anos depois, seria o responsável pela organização da "Antologia de Poesia Universitária", na qual se incluíam, por exemplo, trabalhos de Eduardo Prado Coelho, Manuel Alegre, José Carlos Vasconcelos, Boaventura Sousa Santos, Luísa Ducla Soares ou António Torrado. Professor do Ensino Secundário a partir de 1963, no período compreendido entre 1980 e 1986 foi Leitor de Português na Universidade de Londres (King's College). Aqui, além de Língua Portuguesa, ensinou Poesia, Drama e Literatura Portuguesa. E continuara a escrever e a publicar: "Hematoma" (1961); "A Doença" (1963); "As Aves" (1969); "Teoria da Fala" (1972); "Campânula" (1978).
Foi casado com Fiama Hasse Pais Brandão e o casal seria determinante para a criação do Grupo Teatro Hoje (princípio da década de 70). Gastão Cruz seria diretor da instituição entre 1991 e 1994, altura do fecho. Pelo meio teve oportunidade de encenar Strindberg, Tchekov, Camus, Crommelynck, mas também "Uma Abelha na Chuva", do escritor Carlos de Oliveira. Entretanto, a tradução era também uma das suas artes e, além de alguns dos nomes já referidos, obras de Shakespeare, William Blake, Jean Cocteau ou Jude Stéfan também entraram na sua lista.
Ao longo do tempo foi mantendo o seu papel de crítico literário, tornando-se mais tarde diretor da Fundação Luís Miguel Nava e da sua revista Relâmpago. "Órgão de Luzes" e "As Leis do Caos" são de 1990, seguindo-se "Transe" (1992), "As Pedras Negras" (1995), "Poemas Reunidos" (1999), "Crateras" (2000) e "Rua de Portugal" (2002). O título deste último homenageava o lugar onde nasceu e seria distinguido pela Associação Portuguesa de Escritores com o Grande Prémio de Poesia.Mas não se ficou por aqui - "Repercussão" (2004), "A Moeda do Tempo" (2006), "Escarpas" (2010), "Observação do Verão" (2011), "Fogo" (2013), "Óxido" (2015) e "Existência" (2017) juntaram-se ao lote de obras editadas.
Morreu aos 80 anos. E, quando perde a Cultura, perdemos todos.
Editora Relógio d'Água
Poesia, crítica literária e teatro são as áreas em que Gastão Cruz desenvolveu a sua atividade ao longo dos anos.
Conforme explica no seu site, desde 2007 que Diana Combo vem "explorando som e música em muitos contextos criativos e frequentemente multidisciplinares". Com formação superior em Som e Imagem, mas também em Artes Musicais, diversificando aprendizagens em Portugal e no estrangeiro, Diana tem "combinado uma perspetiva conceptual com um faça você mesmo" no que respeita ao trabalho com as sonoridades, assim concretizando "uma abordagem experimental entusiasmante" nos domínios da gravação e da interpretação. E explica a artista que, seja em "concertos, cinemas, residências artísticas ou ações de formação, quer esteja a solo ou em colaboração, os limites entre disciplinas e formas criativas, mas também aqueles que dizem respeito ao individual e ao coletivo, são questionados de modo constante e diluem-se nas minhas práticas". A 31 de outubro de 2020, Diana Combo trouxe aqui pela primeira vez o trabalho literário de Gastão Cruz.
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