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Paulo Jorge Pereira

Especial Centenário: Inês Henriques lê "Poesia Reunida", de Natália Correia

Num dia em que é assinalado o centenário do nascimento da escritora e deputada açoriana, figura maior da Cultura e símbolo da indomável luta pela afirmação feminista, Natália Correia volta ao blog, agora com "Poesia Reunida" e as leituras de Inês Henriques.



Carismática figura da Cultura, jornalista, escritora de poesia, ficção e teatro, ensaísta, declamadora de alto nível, divulgadora de Literatura, tradutora, deputada no Parlamento por dois partidos (PPD/PSD e PRD) e apresentadora de programas televisivos (o mais famoso seria o Mátria), Natália de Oliveira Correia foi uma espécie de força da natureza, nasceu na Fajã de Baixo, em Ponta Delgada, na ilha açoriana de São Miguel, a 13 de setembro de 1923. Como o pai foi para o Brasil, Natália, a mãe e uma irmã vieram para Lisboa quando a futura escritora tinha apenas 11 anos. "Aventuras de um Pequeno Herói" (1945), um livro para os mais jovens, seria a sua estreia na ficção. Casara-se pela primeira vez em 1942 com Álvaro Santos Pereira, mas a relação acabou por não dar certo e, em 1949, casou-se pela segunda vez com William Creighton Hyler. Este casamento durou ainda menos tempo e, a 31 de julho de 1953, já o seu marido era Alfredo Machado, um empresário oriundo da Guarda e dono do Hotel do Império, projetado na rua Rodrigues Sampaio, em Lisboa, pelo arquiteto Cassiano Branco.

Jornalista no Rádio Clube Português, a sua oposição à ditadura de Salazar manifestou-se bem cedo com a participação em movimentos como o MUD, mas também com o apoio às candidaturas à Presidência de Norton de Matos (1949) e do general Humberto Delgado (1958) ou ainda à CEUD (1969), pelo que a PIDE manteve-a sempre debaixo de olho. O seu ativismo político e o combate que sempre travou contra a opressão e o conservadorismo iriam ganhar uma nova dimensão quando, em 1966, foi condenada a prisão com pena suspensa por causa da sua "Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica" (mais tarde organizaria outras antologias poéticas como a dos "Cantares dos Trovadores Galego-Portugueses" ou a "Antologia da Poesia do Período Barroco"), depois de ter sido também penalizada pelo papel desempenhado no apoio à edição das "Novas Cartas Portuguesas" - era diretora literária nos Estúdios Cor, responsável pela primeira edição -, no processo que ficou conhecido como o das "três Marias", autoras da obra: Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. A história foi recordada na série de ficção "3 Mulheres", que a RTP filmou em 2018, dedicada a Natália Correia, Snu Abecassis e Maria Alexandra Falcão, cujo pseudónimo foi Vera Lagoa, nos seus percursos de vida entre 1961 e 1973.

Um espírito livre, desassombrado, intransigente defensora do feminismo, em 1971 abriu o bar Botequim, no qual era figura central em intervenções de âmbito cultural e tertúlias em que se reuniam personalidades da Cultura, mas também da política.

Depois do 25 de Abril, a sua intervenção em nome da Cultura e do feminismo prosseguiu de forma incansável e, no plano político, situou-se próxima do PS. Numa fase de crise no PPD-PSD em que diversos militantes se afastaram e Sá Carneiro regressou, Natália Correia, que lhe apresentara a sua editora, Snu Abecassis, por quem o então líder dos sociais-democratas se apaixonou, acabou influenciada por aquela história de amor e apoiou Sá Carneiro, sendo eleita deputada pelo seu partido entre 1979 e 1983. É famosa a réplica que deu a João Morgado, então deputado no CDS, quando este defendeu no plenário da Assembleia da República, a 3 de abril de 1982, em pleno debate sobre a despenalização do aborto, que "o ato sexual é para ter filhos". Natália Correia nem hesitou e a sua resposta surgiu sob a forma do seguinte poema:



Já que o coito - diz Morgado -


tem como fim cristalino,


preciso e imaculado


fazer menina ou menino;


e cada vez que o varão


sexual petisco manduca,


temos na procriação


prova de que houve truca-truca.




Sendo pai só de um rebento,


lógica é a conclusão


de que o viril instrumento


só usou - parca ração! -


uma vez. E se a função


faz o órgão - diz o ditado -


consumada essa excepção,


ficou capado o Morgado.



Interessava-lhe menos a política do que a Cultura e, cansada do conservadorismo em diversos setores dos sociais-democratas, acabou por afastar-se do partido, mesmo que se mantivesse como deputada independente, sendo com este estatuto reeleita para a Assembleia da República nas listas do PRD entre 1987 e 1991. Entretanto, viúva desde a morte do marido, a 17 de fevereiro de 1989, iria ainda casar-se uma quarta vez, em 1990, com Dórdio Guimarães, jornalista, escritor, cineasta e filho do também realizador Manuel Guimarães.

Ao longo dos anos, escreveu e publicou dezenas de obras nos diversos géneros em que se distinguiu, vendo o seu trabalho várias vezes visado pela Censura. Na poesia incluem-se, por exemplo, "Rio de Nuvens" (1947), "Cântico do País Emerso" (1961), "Mátria" (1967), "O Vinho e a Lira" (1969), "A Mosca Iluminda" (1972), "Poemas a Rebate" (1975), "O Dilúvio e a Pomba" (1979) ou "Sonetos Românticos" (1990). Numa entrevista a propósito do lançamento deste livro, quando o entrevistador dizia que não era lida pelo grande público, Natália não o deixou completar a frase e disparou: "Como é que você sabe? Fez inquéritos? Se calhar sou mais lida pelo povo do que pelos falsos intelectuais." Na ficção, "Anoiteceu no Bairro" (1946), "A Madona" (1968), "A Ilha de Circe" (1983), de que aqui já foi apresentado um excerto, contos com "Onde Está o Menino Jesus?" (1987) e ainda o romance "As Núpcias" (1992); na literatura de viagens, o exemplo hoje aqui lido com "Descobri que era Europeia: As Impressões de uma Viagem à América" (1951); no ensaio, "Poesia de Arte e Realismo Poético" (1959) ou "Somos Todos Hispanos" (1988); na dramaturgia, "O Homúnculo" (1965) ou "Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente" (1981). "Ode à Paz" - o poema que já aqui se apresentou como a minha participação na Semana da Leitura do PNL2027, a 11 de março deste ano -, consta de "Inéditos (1985/1990)".

Certa noite, a 16 de março de 1993, de regresso a casa vinda do Botequim, no Largo da Graça, Natália Correia foi traída pelo coração. Morria, a meses de completar 70 anos, uma das mais notáveis vozes do Portugal contemporâneo. Mas a sua obra e os seus ideais perduram.

A sua obra já teve aqui uma primeira leitura a 8 de março do ano passado, Dia Internacional da Mulher, quando Inês Henriques apresentou "A Ilha de Circe".


D. Quixote


Indomável, insubmissa, desafiadora de convenções e estereótipos, Natália Correia é não apenas um nome grande da Literatura, mas em simultâneo uma voz eterna em defesa dos direitos das mulheres e contra o patriarcado.

Inês Henriques é presença regular aqui no blog. A paixão e o carinho pelos livros têm acompanhado a sua vida. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Franceses), escolheu o Jornalismo como profissão e o Desporto como área de atuação. Realizado o curso profissional no CENJOR, foi estagiária na Agência Lusa, à qual voltaria mais tarde, e trabalhou no jornal A Bola antes de entrar na redação do Portal Sapo. Neste contexto, a proximidade do desporto adaptado levou-a a escrever "Trazer o Ouro ao Peito - a fantástica história dos atletas paralímpicos portugueses", publicado em 2016. Agora, apesar de já não estar no universo profissional do Jornalismo, continua atenta a essa realidade ao mesmo tempo que tem sempre um livro para ler. E vários autores perto do coração.

Aqui no blog, estreou-se a 27 de abril de 2020 com "Perto do Coração Selvagem", de Clarice Lispector; voltou a 10 de maio e leu um excerto de "A Disciplina do Amor", de Lygia Fagundes Telles; no último dia de maio apresentou parte de "351 Tisanas", obra de Ana Hatherly; a 28 de junho, propôs literatura de cordel, com um trecho do livro "Clarisvânia, a Aluna que Sabia Demais", escrito por Luís Emanuel Cavalcanti; a 22 de agosto apresentou um excerto da obra "Contos de Amor, Loucura e Morte", escrita por Horacio Quiroga; a 15 de setembro leu um trecho de "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan; a 18 de novembro voltou com "Saudades de Nova Iorque", de Pedro Paixão, e na quinta-feira, 10 de dezembro, prestou a sua homenagem a Clarice Lispector no dia em que a escritora faria 100 anos, lendo um conto do livro "Felicidade Clandestina". Três dias mais tarde apresentava "Os Sete Loucos", de Roberto Arlt. A 3 de janeiro leu um trecho de "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez. No dia 8 foi a vez de ter o seu livro em destaque por aqui, quando li um excerto de "Trazer o Ouro ao Peito". A 23, a Inês voltou e leu um trecho do livro "O Torcicologologista, Excelência", de Gonçalo M. Tavares e no dia 1 de fevereiro foi uma das participantes no Especial dedicado ao Dia Mundial da Leitura em Voz Alta com "Papéis Inesperados", de Julio Cortázar. A 13 de fevereiro apresentou um excerto do livro "Girl, Woman, Other", de Bernardine Evaristo, participando a 8 de março no Especial dedicado ao Dia Internacional da Mulher com a leitura de um trecho do livro "A Ilha de Circe", de Natália Correia. A 5 de maio participou, com Armando Liguori Junior, no Especial dedicado ao Dia Mundial da Língua Portuguesa.

No dia 22 de maio, ao lado de Raquel Laranjeira Pais e Rui Guedes, contribuiu para o Especial dedicado ao Dia do Autor Português. A 1 de junho interveio no Especial do Dia Mundial da Criança com "Ulisses", de Maria Alberta Menéres. A 7 de agosto, Inês Henriques leu um pouco da obra de estreia de Duarte Baião, "Crónicas do Desassossego". Chico Buarque e "Essa Gente" estiveram na sua leitura a 17 deste mês e, no dia 20, foi a vez de um pedaço do livro "À Noite Logo se Vê", de Mário Zambujal. "Sobre o Amor", de Charles Bukowski, foi a sua leitura de 7 de setembro, seguindo-se "Na América, Disse Jonathan", dois dias mais tarde. No domingo, dia 12, foi "Dom Casmurro", de Machado de Assis, a sua escolha para ler. Dia 15 foi o escolhido para apresentar "Coração, Cabeça e Estômago", de Camilo Castelo Branco. "Flores", de Afonso Cruz, foi a sua proposta no passado dia 17. A 21 de setembro apresentou "Normal People", de Sally Rooney. A 30 de setembro revelara a mais recente leitura: "Sartre e Beauvoir: A História de uma Vida em Comum", de Hazel Rowley. "Desamor", de Nuno Ferrão, surgiu a 20 de novembro, seguindo-se, além da já mencionada em cima leitura de "Amor Portátil", também a obra "Niketche: Uma História de Poligamia", de Paulina Chiziane, no dia 13, e ainda "Olhos Azuis, Cabelo Preto", de Marguerite Duras, no dia 22. Na véspera de Natal, Pedro Paixão e "A Noiva Judia" foram os convidados na leitura de Inês Henriques.

A 1 de fevereiro, Dia Mundial da Leitura em Voz Alta, apresentou um trecho de "Todas as Crónicas", de Clarice Lispector. "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez, que aqui estivera em janeiro de 2021, regressou no sábado, dia 12 de fevereiro. Dois dias depois começava a leitura de excertos do livro "A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer", do sueco Stig Dagerman, que se concluiu a 19 de fevereiro. A 28, o regresso às leituras por aqui fez-se com um excerto de "Pedro Lembrando Inês", de Nuno Júdice. "Um, Ninguém e Cem Mil", de Luigi Pirandello, foi a leitura proposta no dia 4 de março. "Putas Assassinas", de Roberto Bolaño, surgiu a 10 de março. Herberto Helder e "A Menstruação Quando na Cidade Passava", do livro "Poemas "Completos", foram a leitura seguinte. No dia 19, a proposta recaiu sobre "A Noite e o Riso", de Nuno Bragança. A 2 de abril, aqui se recuperara a sua leitura de um trecho da obra "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan. No dia seguinte homenageou a falecida Lygia Fagundes Telles com um trecho da obra "A Disciplina do Amor" e a 23 aqui recuperei a sua leitura de "Novas Cartas Portuguesas", de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa.

No Especial dedicado ao 25 de Abril, Inês Henriques apresentou um excerto da obra "Os Filhos da Madrugada", de Anabela Mota Ribeiro. A 5 de maio, no Especial dedicado ao Dia Mundial da Língua Portuguesa, propôs "Manual de Pintura e Caligrafia", de José Saramago. A 6 de junho leu "A Sangrada Família", de Sandro William Junqueira. No dia 1 de agosto, a escolha recaiu no japonês Junichiro Tanizaki com um excerto da obra "A Confissão Impudica". De 10 de outubro é a homenagem à nova Nobel da Literatura, Annie Ernaux, com um excerto do livro "Uma Paixão Simples". A 21 de outubro leu "Para Onde Vão os Guarda-Chuvas", de Afonso Cruz. De 14 de novembro, no Especial Centenário de José Saramago, é a recuperação da sua leitura de um excerto da obra "Manual de Pintura e Caligrafia".

No Especial 1.000 Leituras de dia 23, "A História de Roma", de Joana Bértholo, foi a sua escolha. No dia 28 trouxe um pouco do livro "A Carne", cuja autora é Rosa Montero. O último dia de 2022 mostrou-a a ler um trecho da obra "Lavoura Arcaica", de Raduan Nassar. Voltou a 10 de fevereiro e leu um pouco do livro "Um Bom Homem É Difícil de Encontrar", de Flannery O'Connor. No dia 14 de fevereiro, a leitura proposta foi "Falha", de Sarah Kane. A 8 de março, no Especial sobre o Dia Internacional da Mulher, leu "Os Anos", de Annie Ernaux. E, a 21, quando aqui surgiu o Especial dedicado ao Dia Mundial da Poesia, cá esteve a ler "What's in a Name", de Ana Luísa Amaral. "A Cerimónia do Adeus", de Simone de Beauvoir, foi a sua proposta de 31 de março. A 26 de abril leu um excerto de "Sopro", de Tiago Rodrigues. De 9 de maio é o regresso de "351 Tisanas", de Ana Hatherly. "Na América, Disse Jonathan", de Gonçalo M. Tavares, voltou a 26 de maio. "A Solidão dos Inconstantes", de Raquel Serejo Martins, foi a proposta de 12 de junho. Camilo Castelo Branco e o seu "Coração, Cabeça e Estômago" voltaram a 26 de junho.

A 30 de junho leu "Garden Party", de Katherine Mansfield. A 5 de julho voltou "Sobre o Amor", de Charles Bukowski.

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