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Paulo Jorge Pereira

Especial Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas com Armando Liguori Junior

Depois de aqui ter estado no Dia Mundial da Língua Portuguesa, Armando Liguori Junior regressa neste Especial dedicado ao Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas com duas propostas: "Cheira Bem, Cheira a Lisboa", de César de Oliveira, e "Viagem", de Miguel Torga.



Embora se tornasse um dos fados mais populares de Amália Rodrigues, "Cheira Bem, Cheira a Lisboa" não foi escrita para a sua voz - César de Oliveira foi o autor da letra e o maestro Carlos Dias cuidou da música, cabendo a Anita Guerreiro as primeiras interpretações no espectáculo "Peço a Palavra" de 1969.

Nascido em 1932, César de Oliveira iria tornar-se um dos grandes nomes do teatro de revista nos anos 60 e 70 com criações em que se evidenciaram Ivone Silva, Camilo de Oliveira, Eugénio Salvador, entre muitos outros. Mas a escrita de César de Oliveira também ficou imortalizada em diferentes exemplos de sucesso na televisão, destacando-se o inesquecível "Senhor Feliz e Senhor Contente", com Nicolau Breyner e Herman José como protagonistas, no programa "Nicolau no País das Maravilhas", de 1975.

Conforme lembrou em entrevista a Carlos Cruz na RTP em 1986, "desde muito novo" frequentou os meios teatrais, em especial o teatro experimental, "sempre atraído pelo fenómeno do espectáculo pelos atores". E acrescentou: "Aos oito anos ia ver uma revista, fixava as músicas todas e, nos dias seguintes, cantava-as em casa para a família." Nas brincadeiras durante a infância chegou a improvisar palcos com caixotes de sabão.

"Ivone, a Faz Tudo" (1978), "Sabadabadu" (1982) ou "Gente Fina É Outra Coisa" (1983), neste caso com nomes como Amélia Rey Colaço, Ruy de Carvalho, Mariana Rey Monteiro ou Nicolau Breyner, foram outros casos de eloquência humorística da sua escrita.

Morreria em 1986. "Uma parte da minha obra fica para o Museu do Teatro, outra para a Sociedade Portuguesa de Autores", dissera a Carlos Cruz na citada entrevista da RTP.


"Às vezes, sou um democrata que não acredita na democracia. Sou um homem que não admite fronteiras, sou um homem livre", disse a Carlos Cruz em entrevista na RTP.

Armando Liguori Junior, ator e jornalista de formação, tem três livros publicados; dois de poemas ("A Poesia Está em Tudo" – Editora Patuá 2020; "Territórios" – Editora Scortecci 2009; e um de dramaturgia: "Textos Curtos para Teatro e Cinema (2017) – Giostri Editora). Atualmente mantém um canal no YouTube (Armando Liguori), dedicado a leituras literárias, especialmente de poesia. Estreou-se nas leituras aqui para o blog com "Se te Queres Matar Porque Não te Queres Matar?", de Álvaro de Campos, a 15 de julho, seguindo-se "Continuidades", de Walt Whitman, a 7 de agosto e "Matteo Perdeu o Emprego", de Gonçalo M. Tavares, a 11 de setembro. A 16 de outubro, três dias antes da publicação, o Armando deu-me a honra de nos dar a "ouver" um trecho do segundo livro que publiquei, "Murro no Estômago". No dia 12 de fevereiro apresentou "Pelo Retrovisor", de Mário Baggio. No Dia Mundial do Teatro, a 27 de março, participou no Especial que aqui foi dedicado, lendo um trecho da obra "A Gaivota", de Anton Tchekhov. E, no Dia Mundial da Língua Portuguesa, aqui esteve ao lado de Inês Henriques, apresentando um trecho do livro "A Máquina de Fazer Espanhóis", de Valter Hugo Mãe.

 

Armando Liguori Junior regressa neste Especial dedicado ao Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas com "Viagem", de Miguel Torga.



Nascido como Adolfo Correia da Rocha em São Martinho da Anta, Trás-os-Montes, a 12 de agosto de 1907, adotaria o pseudónimo de Miguel Torga com o qual assinaria obra literária monumental. A pobreza marcou os primeiros anos da sua existência e, como sucedia com frequência naquela época em casos como o seu, aos 10 anos estava já no Porto a trabalhar para a família. Moço de recados, porteiro, jardineiro e cuidador de limpeas foram as suas tarefas iniciais. Português, História, Geografia, Latim e a Bíblia seriam objetos de estudo a partir do momento em que, no ano de 1918, seguiu para o seminário em Lamego. No entanto, a sua opção não recairia no papel de padre.

De 1920 é a sua viagem rumo ao Brasil, outra vez para trabalho em casa de familiares, neste caso na fazenda de um tio em Minas Gerais. O tio patrocinou os seus estudos ainda em solo brasileiro e agiu de forma idêntica quando viajaram juntos de regresso a Portugal (1925), algo que lhe permitiu licenciar-se em Medicina na Universidade de Coimbra. Porém, a atração pela escrita era marcante e o ano de 1928 marca a sua estreia literária com a poesia em "Ansiedade". Seguem-se "Rampa" (1930), "Tributo"e "Pão Ázimo" (ambos de 1931) e "Abismo" (1932) até finalizar a licenciatura em 1933.

É em 1934, com a publicação do livro "A Terceira Voz", que começa a utilizar o pseudónimo de Miguel Torga. Pelo tempo fora deixou bem vincadas as suas convicções de combate pela liberdade e contra as injustiças, atitude que levou a ditadura a colocá-lo sob vigilância.

"O Outro Livro de Job" (1936), "Bichos" (1940), "Contos da Montanha" (1941), "Rua" (1942), "O Senhor Ventura" (1943), "Lamentação", "Libertação" e "Novos Contos da Montanha" (todos de 1944), "Vindima" (1945), "Odes" (1946), "Sinfonia" (1947), "O Paraíso" (1949), "Cânticos do Homem" e "Portugal" (os dois de 1950), "Alguns Poemas Ibéricos" (1952), "Penas do Purgatório" (1954), "Orfeu Rebelde" (1958), "Câmara Ardente" (1962), "Fogo Preso" (1976), "A Criação do Mundo (em cinco volumes, datados de 1937, 1938, 1939, 1974 e 1981) ou o "Diário" (publicado em XVI volumes, entre 1941 e 1993) são apenas alguns exemplos da obra de um escritor inigualável.

A morte levou Miguel Torga a 17 de janeiro de 1995.


Publicações Dom Quixote


Durante mais de 50 anos, os "Diários" de Miguel Torga foram não só acontecimentos literários, mas também o retrato de época do país.

"Viagem", o poema que Armando Liguori Junior aqui apresenta, faz parte do livro "Diário XII", editado pelas Publicações Dom Quixote.

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