Fernanda Silva regressa às leituras aqui no blog com um trecho da obra "O Tecido do Outono", escrita por Alçada Baptista e publicada em 1999.
"Quando não somos capazes de conquistar, seduzimos": esta frase, dita a Anabela Mota Ribeiro, poderia servir como síntese perfeita para a vida do escritor António Alfredo da Fonseca Alçada Tavares Baptista, nascido na Covilhã a 29 de janeiro de 1927. Estudou no Colégio jesuíta Nun'Álvares de Santo Tirso e, no dealbar dos anos 50, licenciou-se em Direito na Universidade de Lisboa - Marcelo Caetano, de quem seria amigo, foi seu professor de Direito Administrativo. Casado a partir de março de 1950 com Maria José Guedes, teriam sete filhos. Numa época marcada pela opressão da ditadura salazarista, foi exercendo advocacia, além de se dedicar à atividade editorial (tornou-se dono da Moraes Editora a partir de 1957, ficando como diretor até 1972) e à escrita, de início apenas numa perspetiva ensaística e autobiográfica. Participante em tertúlias literárias e políticas com outros amantes da liberdade, como Jorge de Sena ou Alexandre O'Neill, criou, em janeiro de 1963, a revista O Tempo e O Modo com João Bénard da Costa, Pedro Tamen, Mário Murteira, Alberto Vaz da Silva e Nuno de Bragança. Dedicada à reflexão e ao espírito crítico, foi uma publicação marcante saída do universo do catolicismo progressista pelo inconformismo num país cinzento e triste, capaz de congregar nomes grandes das Letras e da Política como Mário Soares (de quem Alçada Baptista também foi amigo), Salgado Zenha, Jorge Sampaio, entre outros. A revista foi publicada até 1977. Candidato à então Assembleia Nacional nas listas da Oposição Democrática (1961 e 1969), trabalhou como assessor de Veiga Simão, ministro da Educação, entre 1971 e 1974.
De 1970 são as crónicas e ensaios reunidos no seu livro "Documentos Políticos", seguindo-se "Peregrinação Interior I - Reflexões sobre Deus" (1971), "O Tempo nas Palavras" e "Conversas com Marcelo Caetano" (ambos de 1973). Depois do 25 de Abril seria diretor do jornal O Dia (1975) e presidente do Instituto do Livro (de 1979 a 1985). E prossegue a escrita, não só no plano reflexivo, mas agora também no domínio da ficção: "Peregrinação Interior II - O Anjo da Esperança" (1982), "Uma Vida Melhor" (1984), a estreia no romance com "Os Nós e os Laços" (1985), "Catarina ou o Sabor da Maçã" (1988), "Tia Suzana, Meu Amor" (1989). Torna-se administrador da Fundação Oriente e ficará até se reformar aos 65 anos (será ainda colaborador na Presidência de Jorge Sampaio). Publica "O Riso de Deus" (1994) e "A Pesca à Linha, Algumas Memórias" (1998).
"As minhas pequenas depressões foram verdadeiras metamorfoses: passei de lagarta a crisálida através do escuro do túnel. Fui-me libertando através de depressões que fui tendo", disse a Anabela Mota Ribeiro em entrevista concedida em 1999, na altura da publicação do livro "O Tecido do Outono", de que aqui se apresenta um excerto e com o qual procurou dizer que "há necessidade de uma nova formulação da relação homem-mulher".
"Um Olhar à Nossa Volta" (2002) e "A Cor dos Dias" (2003) são as suas últimas obras. Morreu a 7 de dezembro de 2008
Editorial Presença
Quando publicou o livro "O Tecido do Outono", Alçada Baptista concedeu uma entrevista a Anabela Mota Ribeiro e, entre outras afirmações, mostrou uma convicção: "A escrita não é o mais importante. Viver é a minha razão de escrever."
Presença regular aqui no blog, Fernanda Silva está de regresso. A estreia registou-se com "O Universo num Grão de Areia", de Mia Couto, a 28 de abril, seguindo-se "A Vida Sonhada das Boas Esposas", de Possidónio Cachapa (11 de maio), "Uma Mentira Mil Vezes Repetida", de Manuel Jorge Marmelo (8 de junho), "Bom Dia, Camaradas", de Ondjaki (27 de junho), "Quem me Dera Ser Onda", de Manuel Rui (5 de julho), e "O Sol e o Menino dos Pés Frios" (16 de julho), de Matilde Rosa Araújo.
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