Prémio Camões em 1995 e único português agraciado com o Nobel da Literatura (1998), o primeiro romance foi publicado em 1947 e chamava-se "Terra do Pecado". Hoje a proposta é de uma crónica do livro "Deste Mundo e do Outro".
Serralheiro mecânico, desenhador, administrativo, tradutor, editor, jornalista, argumentista - bem pode dizer-se que José Saramago foi um homem dos sete ofícios. Desenvolveu o gosto pela leitura na Biblioteca do Palácio Galveias, mas só nos anos 80 passou a viver do trabalho como escritor. O cinema também se interessou pelos seus livros como o exemplificam as adaptações d'"A Jangada de Pedra (2002), "Ensaio sobre a Cegueira" (2008) ou "O Homem Duplicado" (2014). Nascido na Azinhaga a 16 de novembro de 1922, morreu a 18 de junho de 2010. Comunista até ao fim.
"Deste Mundo e do Outro", de que aqui é apresentado o texto "As Palavras", pela voz inigualável de Fernando Soares, reúne as crónicas que José Saramago escreveu para o jornal A Capital entre 1968 e 1969 e cuja edição de estreia aconteceu em 1971. Uma obra essencial para compreender todo o trabalho literário do Nobel português, conforme o próprio explicou: "De todo o modo, os factos estão à vista: entre a primeira linha da primeira crónica e a última linha do último romance, parece ser discernível um fio contínuo ligando tudo, ao mesmo tempo que se identifica uma lógica condutora que em tudo reconhece um sentido", referiu.
Com "Levantado do Chão", em 1980, Saramago traçara o retrato das enormes desigualdades e da exploração dos mais desfavorecidos pelos mais ricos no Alentejo durante a ditadura e até à Revolução do 25 de Abril. Sobre esta obra, o próprio autor escreveria: "Um escritor é um homem como os outros: sonha. E o meu sonho foi o de poder dizer deste livro, quando terminasse: 'Isto é um livro sobre o Alentejo'. Um livro, um simples romance, gentes, conflitos, alguns amores, muitos sacrifícios e grandes fomes, as vitórias e os desastres, a aprendizagem da transformação, e mortes. É, portanto, um livro que quis aproximar-se da vida, e essa seria a sua mais merecida explicação". De 1982 vem o seu primeiro grande sucesso com a publicação de "Memorial do Convento", mas outros livros seus foram merecendo elogios: "O Ano da Morte de Ricardo Reis" (1984), "A Jangada de Pedra" (1986) e "História do Cerco de Lisboa" (1989) são só alguns exemplos.
Se já era objeto de admiração em Portugal e pelo mundo fora, os seus livros ganharam dimensão universal após o Nobel, recebido em 1998. Antes, porém, em abril de 1992, foi alvo de Sousa Lara, então subsecretário de Estado da Cultura no Governo de Cavaco Silva, que retirou "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", muito atacado pela Igreja Católica, da lista de candidatos a um galardão literário europeu. No ano seguinte, o escritor, casado com a jornalista Pilar del Río desde 1988, cortou relações com o poder político e fixou residência na ilha espanhola de Lanzarote. Só em 2004, com Durão Barroso como chefe do Governo, o assunto foi superado. Três anos mais tarde, nasceu a Fundação José Saramago (desde 2012 tem sede na Casa dos Bicos, em Lisboa), dedicada à promoção da Literatura, mas também a defender valores como os Direitos Humanos e o ambiente. Controverso e muitas vezes criticado pelas posições assumidas, Saramago distribuiu o trabalho literário por romances, contos, crónicas, teatro, poesia, viagens, memórias e livros para crianças.
"Cadernos de Lanzarote II" foi a obra escolhida por Elisabete Jesus para apresentar um trecho de um livro de José Saramago a 29 de setembro, mas já havia outros exemplos: a primeira aconteceu quando li um excerto da obra "Levantado do Chão", a 20 de abril; a 11 de junho, pela voz do jornalista Ricardo Figueira, surgiu "Caim"; "O Ano da Morte de Ricardo Reis" teve aqui uma presença inicial quando a estudante Jet Vos, terceira classificada no Concurso Nacional de Leitura, apresentou um trecho, a 29 de agosto do ano passado; depois da leitura de setembro referida em cima, a 30 de dezembro li uma passagem da obra "Memorial do Convento". Mais recente, de 20 de janeiro, foi a minha leitura de um pouco do livro "História do Cerco de Lisboa". E "O Ano da Morte de Ricardo Reis" regressou quando li um trecho a 5 de fevereiro. Outro regresso, neste caso do livro "Cadernos de Lanzarote", surgiu pela voz de Fernanda Silva a 24 de março.
Editorial Caminho
"Deste Mundo e do Outro" reúne as crónicas que Saramago escreveu para o jornal A Capital entre 1968 e 1969 e a 1.ª edição surgiu em 1971.
Com uma voz poderosa e enorme experiência, o ator, escritor, encenador e diseur Fernando Soares continua a hipnotizar audiências e a promover a leitura como poucos. Ao longo de um percurso no universo artístico e da interpretação, Fernando Soares teve oportunidade para mostrar os seus múltiplos talentos em diferentes registos. Entre os anos 60 e 90 do século passado entrou em filmes como "A Cana de Pesca", "A Viagem do Senhor Perrichon", "Henrique IV", "Fragmentos de um Filme-Esmola: A Sagrada Família", "Cântico Final", "Tá Mar", "O Amigo de Peniche", "Rosa Enjeitada" ou "O Diabo Desceu à Vila". Mas o seu talento também pôde ser visto em séries, telenovelas ou programas televisivos como "Retalhos da Vida de um Médico", "Eu Show Nico", "Vila Faia", "Gente Fina É Outra Coisa", "Tragédia da Rua das Flores", "A Morgadinha dos Canaviais", "Napoleão Meu Amor", "O Morgado de Fafe em Lisboa", "O Café do Ambriz", "A Árvore", "Terra Instável" ou "Nico d'Obra".
Tendo passado por áreas como jornalismo e formação no âmbito das artes performativas, Fernando Soares não deixa de se associar a iniciativas culturais de cariz social (estabelecimentos prisionais, universidades sénior e unidades de ensino de todos os ciclos). Texto, direção e interpretação também lhe pertenceram no Dia Mundial do Teatro, em 2018, quando atuou na Casa da Cultura do Município de Paredes com a peça “O Semeador de Palavras”. E continua a alimentar participações distribuídas por diferentes fóruns. Porque todos temos de saber aprender e ouvir cada sílaba pronunciada por Fernando Soares é um ato de aprendizagem.
Aqui no blog estreara-se a 20 de março no Especial Alice Vieira Faz Anos com a leitura do poema "São Um Perigo As Palavras".
留言