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Paulo Jorge Pereira

Inês Henriques lê "Ana de Amsterdam", de Ana Cássia Rebelo

Feminista, sem papas na língua, nem assuntos que considere tabu, Ana Cássia Rebelo e a sua obra de estreia, intitulada "Ana de Amsterdam", são as escolhas de Inês Henriques para hoje.



Embora tenha nascido em Moçambique no ano de 1972, Ana Cássia Rebelo veio para Lisboa com apenas cinco anos e por cá fixou residência. De 2015 é a conversa com Anabela Mota Ribeiro, publicada no Jornal de Negócios, em que recorda: "Vivi a infância e a adolescência com um pai salazarista e uma tia comunista. Na minha casa a tensão era permanente. A qualquer momento estalava uma discussão, escutava-se um insulto, cruzavam-se olhares de raiva. Éramos uma família desavinda por causa da política. Trocávamos acusações à hora do jantar enquanto víamos o telejornal, uns querendo liquidar a resistência burguesa, outros saudosos da estabilidade do Estado autoritário."

E também a forma como era olhada com preconceito: "Sou filha de retornados. Portugal pode ter acolhido, sem grandes convulsões sociais, aqueles que voltaram das ex-colónias, mas o processo de integração não se fez sem atrito. Houve desconfiança e discriminação. Senti na pele, de uma forma dissimulada, mas intencional, esse desprezo pelos retornados."

Licenciou-se em Direito na Universidade Católica, mas a paixão pela escrita levou-a a ir publicando, entre 2006 e 2017, no blog "Ana de Amsterdam", onde também há música (de Nat King Cole a Zeca Afonso, sem esquecer Chico Buarque). E, quando se estreou em livro, foi precisamente esse título de uma canção de Chico Buarque e Ruy Guerra que escolheu para a capa. E é a leitura que Inês Henriques hoje aqui propõe...

Em 2016, numa entrevista ao Leia Mulheres, falou sem hesitações: "Aguento os olhares recriminadores de certos colegas de trabalho e vizinhos, mas não me calo." E explicou: "Quando escrevo sobre masturbação, frigidez, ideias suicidas, desespero, infidelidade, sobre o fardo da maternidade, faço-o como mulher e com uma determinação firme. Assumo a verdade dos factos, escrevo na primeira pessoa, sabendo que assim a minha escrita adquire uma natureza política e militante. Quero gritar aos quatro ventos: isto é o que sou, isto é o que sinto, isto é o que faço e, ao contrário de um certo figurino imposto pelo pudor e pela moral, isso em nada me diminui como mulher e mãe."

Ao mesmo tempo, sublinhou as suas preferências musicais: "Escuto sobretudo o Chico Buarque. É um amor antigo, que me deixa louca, me faz viva, a minha pele fica arrepiada quando o oiço." E explicou como era o processo: "Depois de deitar os meus filhos, ponho um CD, abro uma garrafa de vinho e, de cigarro nos dedos, descalça, danço para o meu gato. Quando anoitece, por instantes, tenho medo da solidão que se avizinha. Ao ouvir o Chico Buarque, esqueço tudo."

Na mesma entrevista, recomendou leituras: "Gosto muito de uma escritora portuguesa, injustamente esquecida em Portugal: a Maria Judite de Carvalho. Mulher de um escritor muito apreciado, o Urbano Tavare Rodrigues, ficou sempre na sua sombra. Escreveu a solidão das mulheres, numa escrita limpa, sincera e comovente. Das escritoras mais novas, gosto da Hélia Correia, da Dulce Maria Cardoso e da Lídia Jorge." E, no diálogo de 2015 com Anabela Mota Ribeiro, confessou: "Sofro de depressão desde os 20 anos. No meio da escuridão, mesmo quando é difícil, procuro os caminhos luminosos que me permitam ver os meus filhos crescer com saúde, alegria e inteligência."


Quetzal


"Sou feminista, não sei ser mulher sem ser feminista. Não quero ser porta-voz de ninguém. Escrevo sobre as minhas inquietações, sobre a revolta que sinto por me sentir presa a uma maternidade que, por não ser partilhada, me agrilhoa, me impede de realizar", afirmou, em entrevista ao Leia Mulheres, em 2016.

Inês Henriques é presença regular aqui no blog. A paixão e o carinho pelos livros têm acompanhado a sua vida. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Franceses), escolheu o Jornalismo como profissão e o Desporto como área de atuação. Realizado o curso profissional no CENJOR, foi estagiária na Agência Lusa, à qual voltaria mais tarde, e trabalhou no jornal A Bola antes de entrar na redação do Portal Sapo. Neste contexto, a proximidade do desporto adaptado levou-a a escrever "Trazer o Ouro ao Peito - a fantástica história dos atletas paralímpicos portugueses", publicado em 2016. Agora, apesar de já não estar no universo profissional do Jornalismo, continua atenta a essa realidade ao mesmo tempo que tem sempre um livro para ler. E vários autores perto do coração.

Aqui no blog, estreou-se a 27 de abril de 2020 com "Perto do Coração Selvagem", de Clarice Lispector; voltou a 10 de maio e leu um excerto de "A Disciplina do Amor", de Lygia Fagundes Telles; no último dia de maio apresentou parte de "351 Tisanas", obra de Ana Hatherly; a 28 de junho, propôs literatura de cordel, com um trecho do livro "Clarisvânia, a Aluna que Sabia Demais", escrito por Luís Emanuel Cavalcanti; a 22 de agosto apresentou um excerto da obra "Contos de Amor, Loucura e Morte", escrita por Horacio Quiroga; a 15 de setembro leu um trecho de "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan; a 18 de novembro voltou com "Saudades de Nova Iorque", de Pedro Paixão, e na quinta-feira, 10 de dezembro, prestou a sua homenagem a Clarice Lispector no dia em que a escritora faria 100 anos, lendo um conto do livro "Felicidade Clandestina". Três dias mais tarde apresentava "Os Sete Loucos", de Roberto Arlt. A 3 de janeiro leu um trecho de "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez. No dia 8 foi a vez de ter o seu livro em destaque por aqui, quando li um excerto de "Trazer o Ouro ao Peito". A 23, a Inês voltou e leu um trecho do livro "O Torcicologologista, Excelência", de Gonçalo M. Tavares e no dia 1 de fevereiro foi uma das participantes no Especial dedicado ao Dia Mundial da Leitura em Voz Alta com "Papéis Inesperados", de Julio Cortázar. A 13 de fevereiro apresentou um excerto do livro "Girl, Woman, Other", de Bernardine Evaristo, participando a 8 de março no Especial dedicado ao Dia Internacional da Mulher com a leitura de um trecho do livro "A Ilha de Circe", de Natália Correia. A 5 de maio participou, com Armando Liguori Junior, no Especial dedicado ao Dia Mundial da Língua Portuguesa.

No dia 22 de maio, ao lado de Raquel Laranjeira Pais e Rui Guedes, contribuiu para o Especial dedicado ao Dia do Autor Português. A 1 de junho interveio no Especial do Dia Mundial da Criança com "Ulisses", de Maria Alberta Menéres. A 7 de agosto, Inês Henriques leu um pouco da obra de estreia de Duarte Baião, "Crónicas do Desassossego". Chico Buarque e "Essa Gente" estiveram na sua leitura a 17 deste mês e, no dia 20, foi a vez de um pedaço do livro "À Noite Logo se Vê", de Mário Zambujal. "Sobre o Amor", de Charles Bukowski, foi a sua leitura de 7 de setembro, seguindo-se "Na América, Disse Jonathan", dois dias mais tarde. No domingo, dia 12, foi "Dom Casmurro", de Machado de Assis, a sua escolha para ler. Dia 15 foi o escolhido para apresentar "Coração, Cabeça e Estômago", de Camilo Castelo Branco. "Flores", de Afonso Cruz, foi a sua proposta no passado dia 17. A 21 de setembro apresentou "Normal People", de Sally Rooney. A 30 de setembro revelara a mais recente leitura: "Sartre e Beauvoir: A História de uma Vida em Comum", de Hazel Rowley. "Desamor", de Nuno Ferrão, surgiu a 20 de novembro, seguindo-se, além da já mencionada em cima leitura de "Amor Portátil", também a obra "Niketche: Uma História de Poligamia", de Paulina Chiziane, no dia 13, e ainda "Olhos Azuis, Cabelo Preto", de Marguerite Duras, no dia 22. Na véspera de Natal, Pedro Paixão e "A Noiva Judia" foram os convidados na leitura de Inês Henriques.

A 1 de fevereiro, Dia Mundial da Leitura em Voz Alta, apresentou um trecho de "Todas as Crónicas", de Clarice Lispector. "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez, que aqui estivera em janeiro de 2021, regressou no sábado, dia 12 de fevereiro. Dois dias depois começava a leitura de excertos do livro "A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer", do sueco Stig Dagerman, que se concluiu a 19 de fevereiro. A 28, o regresso às leituras por aqui fez-se com um excerto de "Pedro Lembrando Inês", de Nuno Júdice. "Um, Ninguém e Cem Mil", de Luigi Pirandello, foi a leitura proposta no dia 4 de março. "Putas Assassinas", de Roberto Bolaño, surgiu a 10 de março. Herberto Helder e "A Menstruação Quando na Cidade Passava", do livro "Poemas "Completos", foram a leitura seguinte. No dia 19, a proposta recaiu sobre "A Noite e o Riso", de Nuno Bragança. A 2 de abril, aqui se recuperara a sua leitura de um trecho da obra "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan. No dia seguinte homenageou a falecida Lygia Fagundes Telles com um trecho da obra "A Disciplina do Amor" e a 23 aqui recuperei a sua leitura de "Novas Cartas Portuguesas", de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa.

No Especial dedicado ao 25 de Abril, Inês Henriques apresentou um excerto da obra "Os Filhos da Madrugada", de Anabela Mota Ribeiro. A 5 de maio, no Especial dedicado ao Dia Mundial da Língua Portuguesa, propôs "Manual de Pintura e Caligrafia", de José Saramago. A 6 de junho leu "A Sangrada Família", de Sandro William Junqueira. No dia 1 de agosto, a escolha recaiu no japonês Junichiro Tanizaki com um excerto da obra "A Confissão Impudica". De 10 de outubro é a homenagem à nova Nobel da Literatura, Annie Ernaux, com um excerto do livro "Uma Paixão Simples". A 21 de outubro leu "Para Onde Vão os Guarda-Chuvas", de Afonso Cruz. De 14 de novembro, no Especial Centenário de José Saramago, é a recuperação da sua leitura de um excerto da obra "Manual de Pintura e Caligrafia".

No Especial 1.000 Leituras de dia 23, "A História de Roma", de Joana Bértholo, foi a sua escolha. No dia 28 trouxe um pouco do livro "A Carne", cuja autora é Rosa Montero. O último dia de 2022 mostrou-a a ler um trecho da obra "Lavoura Arcaica", de Raduan Nassar. Voltou a 10 de fevereiro e leu um pouco do livro "Um Bom Homem É Difícil de Encontrar", de Flannery O'Connor. No dia 14 de fevereiro, a leitura proposta foi "Falha", de Sarah Kane. A 8 de março, no Especial sobre o Dia Internacional da Mulher, leu "Os Anos", de Annie Ernaux. E, a 21, quando aqui surgiu o Especial dedicado ao Dia Mundial da Poesia, cá esteve a ler "What's in a Name", de Ana Luísa Amaral. "A Cerimónia do Adeus", de Simone de Beauvoir, foi a sua proposta de 31 de março. A 26 de abril leu um excerto de "Sopro", de Tiago Rodrigues. De 9 de maio é o regresso de "351 Tisanas", de Ana Hatherly. "Na América, Disse Jonathan", de Gonçalo M. Tavares, voltou a 26 de maio. "A Solidão dos Inconstantes", de Raquel Serejo Martins, foi a proposta de 12 de junho. Camilo Castelo Branco e o seu "Coração, Cabeça e Estômago" voltaram a 26 de junho.

A 30 de junho leu "Garden Party", de Katherine Mansfield. A 5 de julho voltou "Sobre o Amor", de Charles Bukowski. "Karen", de Ana Teresa Pereira, é de 28 de julho. A 7 de agosto chegou "Um Crime Delicado", de Sérgio Sant'Anna. "Neverness", uma vez mais de Ana Teresa Pereira, foi a sugestão de 20 de agosto. Maria Gabriela Llansol foi a autora selecionada para as leituras seguintes: "Cantileno", a 25 de agosto, e "O Sonho é um Grande Escritor", a 1 de setembro. "Pedro Lembrando Inês", de Nuno Júdice, voltou a 8 de setembro. De 13 de setembro é a sua homenagem no centenário de Natália Correia com a "Poesia Reunida". "A Casa do Incesto", de Anaïs Nin, foi a leitura de 2 de outubro. A 16 de outubro trouxe uma primeira leitura da obra de de Ana Cássia Rebelo com "Babilónia".

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