top of page
Search
Paulo Jorge Pereira

Inês Henriques lê "Girl, Woman, Other", de Bernardine Evaristo

Inês Henriques está de volta e apresenta a primeira leitura em inglês aqui no blog logo com uma autora premiada pelo seu belo trabalho (foi a primeira mulher negra, desde 1969, a vencer o Man Booker Prize, galardão que partilhou com Margaret Atwood): "Girl, Woman, Other", de Bernardine Evaristo.



Na entrevista que concedeu ao diário The Guardian, a autora não deixou dúvidas: "Quis colocar presença na ausência." Tão simples quanto isto. E, no entanto, tão elaborado, tão delicado e tão complicado de concretizar. Frustrada por encontrar tão poucas mulheres negras na literatura britânica, Bernardine Evaristo escolheu a ação e não o lamento - criou uma história com uma dúzia de personagens que se interligam em percursos e histórias de mais jovens até alguém com mais de 90 anos. Um livro com mulheres e sobre mulheres que, numa linguagem com tanto de impiedosa como de bem-humorada, fala das suas vidas feitas de sofrimentos, triunfos, frustrações, conquistas, alegrias, tristezas, discriminações e olhares diferentes, sem excluir passagens que se valem da própria experiência de vida da autora. Uma escrita simples, atraente, adulta, que deixa para o final uma surpresa e distinguida com o Man Booker Prize, mas, numa decisão que recebeu fortes críticas, não por inteiro: Evaristo, primeira mulher negra a vencer desde 1969, partilhou o galardão e os 57 mil euros em dinheiro com a canadiana Margaret Atwood, a conhecida autora de "The Handmaid's Tail".

Uma de oito irmãos, nascida em Londres no ano de 1959, Bernardine Evaristo teve pai nigeriano, Julius Taiwo Obayomi, e mãe inglesa, Jacqueline Mary Evaristo, crescendo no sudeste da capital. Conforme recordou na entrevista ao Guardian, "era a única menina negra na escola em Woolwich". Queixou-se de o pai nada lhe contar sobre o facto de ser africano e da herança que isso implicava, veio também a saber da ascendência brasileira, irlandesa e alemã que lhe corria no sangue. "Descobri quando já estava na casa dos 20 que havia negros na ocupação que o Império Romano fez do futuro mundo britânico e acabei por escrever sobre isso no meu livro 'The Emperor's Babe', história de uma menina negra na Londres romana", contou.

Iria construir um caminho como atriz e escritora não só de romances, mas também de poesia e teatro. Foi uma das fundadoras do Teatro de Mulheres Negras, nos anos 80, em Londres, escreveu peças, participou em residências literárias e ganhou os primeiros traços de reconhecimento quando publicou uma novela em verso, "Lara", em 1997, embora a primeira obra seja de poesia e se intitule "Island of Abraham" (1993). Seguiram-se o já citado "The Emperor's Babe" (2001) e "Soul Tourists" (2005) antes de editar, com Maggie Gee, "NW15: The Anthology of New Writing" (2007), e de "Blonde Roots" (2009).

Também escritora de dramas radiofónicos como "Hello Mum", a autora foi recebendo galardões e publicou ainda "Mr. Loverman" (2014) antes de chegar o grande momento de sucesso com "Girl, Woman, Other". Pelo meio, desde 1994 que ensina escrita criativa e tem defendido causas como o feminismo, o multiculturalismo, a luta contra a opressão das minorias.


Bertrand Editora


A autora confessa admirar Toni Morrison, a norte-americana que venceu o Nobel da Literatura em 1993, mas também o poeta Derek Walcott. E ainda Diana Evans e Ali Smith.

Inês Henriques tem presença regular e já está na casa das dezenas em participações aqui no blog. Estreou-se a 27 de abril com "Perto do Coração Selvagem", de Clarice Lispector; voltou a 10 de maio e leu um excerto de "A Disciplina do Amor", de Lygia Fagundes Telles; no último dia de maio apresentou parte de "351 Tisanas", obra de Ana Hatherly; a 28 de junho, propôs literatura de cordel, com um trecho do livro "Clarisvânia, a Aluna que Sabia Demais", escrito por Luís Emanuel Cavalcanti; a 22 de agosto apresentou um excerto da obra "Contos de Amor, Loucura e Morte", escrita por Horacio Quiroga; a 15 de setembro leu um trecho de "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan; a 18 de novembro voltou com "Saudades de Nova Iorque", de Pedro Paixão, e na quinta-feira, 10 de dezembro, prestou a sua homenagem a Clarice Lispector no dia em que a escritora faria 100 anos, lendo um conto do livro "Felicidade Clandestina". Três dias mais tarde apresentava "Os Sete Loucos", de Roberto Arlt. A 3 de janeiro leu um trecho de "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez. No dia 8 foi a vez de ter o seu livro em destaque por aqui, quando li um excerto de "Trazer o Ouro ao Peito". A 23, a Inês voltou e leu um trecho do livro "O Torcicologologista, Excelência", de Gonçalo M. Tavares e no dia 1 de fevereiro foi uma das participantes no Especial dedicado ao Dia Mundial da Leitura em Voz Alta com "Papéis Inesperados", de Julio Cortázar.

59 views0 comments

Recent Posts

See All

Comments


bottom of page