"Karen", de que hoje Inês Henriques aqui traz um exemplo, conquistou o Prémio Oceanos em 2017, mas a obra de Ana Teresa Pereira é multipremiada desde os primeiros passos.
Não se expondo em termos públicos e procurando resguardar-se de presenças na esfera do mediatismo, Ana Teresa Pereira, que é autora de cerca de quatro dezenas de livros, tem conquistado leitores e galardões: logo na estreia, em 1989, com "Matar a Imagem", recebeu o Prémio Caminho Policial.
Nascida no Funchal em 1958, falou da infância numa entrevista à Máxima, em janeiro de 2008: "Aprendi a ler quando tinha cinco anos e foi por essa altura que os meus pais me deram o primeiro gato. Os livros e os animais. Escrevia histórias de todos os géneros, aventuras, policiais, westerns. E havia os filmes. Eu seria outra pessoa se não tivesse visto The Night of the Hunter, Gaslight, quando era criança. Os meus livros são os meus filmes", admitiu.
Falando dos pais, mostrou-se lacónica e reservada: "Um pai que me comprava livros e gostava muito de cinema. Uma mãe muito bonita que gostava de flores."
Deixando de lado o curso de Filosofia, tem construído um trabalho literário em que algumas personagens aparecem em diferentes livros. A este propósito, numa entrevista ao Jornal de Letras, Artes e Ideias, no verão de 2008, explicou: "Em especial nos últimos anos, os meus livros são muito cinematográficos. Tenho um pequeno grupo de atores, e eles representam as personagens, de certa forma são as personagens", indicou, deixando exemplos: "Kevin é Kevin Bacon, Lizzie é Michelle Pfeiffer no tempo de Os Fabulosos Irmãos Baker. Um pequeno grupo de atores que passam de um livro para o outro, como se trabalhassem num teatro, sempre o mesmo; de vez em quando lembram-se da peça que representaram antes; como o velho ator de The Dresser, pintam a cara de negro para representar o rei Lear. E vão continuar a representar, mesmo quando eu não estiver aqui. Talvez repitam as mesmas peças, noite após noite, após noite."
Com referência mais direta ao segundo livro ("As Personagens", de 1990), reconhece na citada entrevista: "É uma relação estranha, a que tenho com as minhas personagens. Nos últimos anos conheci dois atores que são atores nos meus livros. Gabriel Byrne e Jeremy Irons. O primeiro de uma forma muito estranha, ficámos ao lado um do outro num teatro de Londres, quando eu estava a escrever 'Se Nos Encontrarmos de Novo', em que ele era o protagonista. E Jeremy Irons estava a representar Embers quando escrevi 'Quando Atravessares o Rio'. O livro já existia, a trama não mudou nem um pouco, mas eu não consigo imaginá-lo sem o encontro com 'o meu Tom' na vida real."
O seu percurso é rico em atividade. Em 1991, publica cinco livros: "A Última História"; "A Casa dos Pássaros"; "A Casa da Areia"; "A Casa dos Penhascos" e "A Casa das Sombras". No ano seguinte edita "A Casa do Nevoeiro" e vai procurando manter o ritmo: "A Cidade Fantasma" (1993); "Num Lugar Solitário" e "Fairy Tales" (1996); "A Coisa que Eu Sou" e "A Noite Mais Escura da Alma" (1997); "As Rosas Mortas" (1998); " O Rosto de Deus" (1999); "Se Eu Morrer Antes de Acordar", "Até que a Morte nos Separe" e "O Vale dos Malditos" (todos de 2000); "A Dança dos Fantasmas" e "A Linguagem dos Pássaros" são de 2001; "Intimações de Morte" e "O Ponto de Vista dos Demónios" surgem em 2002; de 2003 são os "Contos".
Em 2004 volta a ser agraciada, agora por "Se Nos Encontrarmos de Novo", Prémio do PEN Clube Português para ficção. Publica "O Mar de Gelo" e "O Sentido da Neve" (2005) e, com "A Neve" (2006), acumula o Prémio Literário Edmundo Bettencourt (conferido pela Câmara do Funchal) e o Máxima de Literatura. Ainda nesse ano, escreve "Histórias Policiais", seguindo-se "Quando Atravessares o Rio" (2007), "O Fim de Lizzie" e "O verão Selvagem dos Teus Olhos" (ambos em 2008); "As Duas Casas" e "O Fim de Lizzie e Outras Histórias". De 2010 são "Inverness" e "A Outra", este galardoado com o já referido Prémio Literário Edmundo Bettencourt da edilidade funchalense, mas também a edição trilingue "Los Monstruos; Os Monstros; Les Monstres". "A Pantera" é publicado em 2011, ano assinalado por "O Lago", ao qual é atribuído o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores.
Depois surgem "Num Lugar Solitário" (2012); "As Longas Tardes de Chuva em Nova Orleães" e "A Porta Secreta" (os dois de 2013); "As Velas da Noite" (2014); "Neverness" e "A Casa das Sombras" (ambos em 2015); "Karen" (2016), distinguido com o Prémio Oceanos; "O Atelier de Noite" (2019); "Os Perseguidores" (2020); "Como se o Mundo Existisse" (2021) e "O que Eu Não Compreendo é a Música" (2022).
Relógio d'Água
"Orson Welles disse que um escritor é como um ator, entra na pele da sua personagem e alimenta-a por dentro. Quando estamos em total sintonia com o livro, a realidade começa a ceder. É de magia que estamos a falar", defendeu em 2008, numa entrevista ao Jornal de Letras, Artes e Ideias.
Inês Henriques é presença regular aqui no blog. A paixão e o carinho pelos livros têm acompanhado a sua vida. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Franceses), escolheu o Jornalismo como profissão e o Desporto como área de atuação. Realizado o curso profissional no CENJOR, foi estagiária na Agência Lusa, à qual voltaria mais tarde, e trabalhou no jornal A Bola antes de entrar na redação do Portal Sapo. Neste contexto, a proximidade do desporto adaptado levou-a a escrever "Trazer o Ouro ao Peito - a fantástica história dos atletas paralímpicos portugueses", publicado em 2016. Agora, apesar de já não estar no universo profissional do Jornalismo, continua atenta a essa realidade ao mesmo tempo que tem sempre um livro para ler. E vários autores perto do coração. Aqui no blog, estreou-se a 27 de abril de 2020 com "Perto do Coração Selvagem", de Clarice Lispector; voltou a 10 de maio e leu um excerto de "A Disciplina do Amor", de Lygia Fagundes Telles; no último dia de maio apresentou parte de "351 Tisanas", obra de Ana Hatherly; a 28 de junho, propôs literatura de cordel, com um trecho do livro "Clarisvânia, a Aluna que Sabia Demais", escrito por Luís Emanuel Cavalcanti; a 22 de agosto apresentou um excerto da obra "Contos de Amor, Loucura e Morte", escrita por Horacio Quiroga; a 15 de setembro leu um trecho de "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan; a 18 de novembro voltou com "Saudades de Nova Iorque", de Pedro Paixão, e na quinta-feira, 10 de dezembro, prestou a sua homenagem a Clarice Lispector no dia em que a escritora faria 100 anos, lendo um conto do livro "Felicidade Clandestina". Três dias mais tarde apresentava "Os Sete Loucos", de Roberto Arlt. A 3 de janeiro leu um trecho de "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez. No dia 8 foi a vez de ter o seu livro em destaque por aqui, quando li um excerto de "Trazer o Ouro ao Peito". A 23, a Inês voltou e leu um trecho do livro "O Torcicologologista, Excelência", de Gonçalo M. Tavares e no dia 1 de fevereiro foi uma das participantes no Especial dedicado ao Dia Mundial da Leitura em Voz Alta com "Papéis Inesperados", de Julio Cortázar. A 13 de fevereiro apresentou um excerto do livro "Girl, Woman, Other", de Bernardine Evaristo, participando a 8 de março no Especial dedicado ao Dia Internacional da Mulher com a leitura de um trecho do livro "A Ilha de Circe", de Natália Correia. A 5 de maio participou, com Armando Liguori Junior, no Especial dedicado ao Dia Mundial da Língua Portuguesa. No dia 22 de maio, ao lado de Raquel Laranjeira Pais e Rui Guedes, contribuiu para o Especial dedicado ao Dia do Autor Português. A 1 de junho interveio no Especial do Dia Mundial da Criança com "Ulisses", de Maria Alberta Menéres. A 7 de agosto, Inês Henriques leu um pouco da obra de estreia de Duarte Baião, "Crónicas do Desassossego". Chico Buarque e "Essa Gente" estiveram na sua leitura a 17 deste mês e, no dia 20, foi a vez de um pedaço do livro "À Noite Logo se Vê", de Mário Zambujal. "Sobre o Amor", de Charles Bukowski, foi a sua leitura de 7 de setembro, seguindo-se "Na América, Disse Jonathan", dois dias mais tarde. No domingo, dia 12, foi "Dom Casmurro", de Machado de Assis, a sua escolha para ler. Dia 15 foi o escolhido para apresentar "Coração, Cabeça e Estômago", de Camilo Castelo Branco. "Flores", de Afonso Cruz, foi a sua proposta no passado dia 17. A 21 de setembro apresentou "Normal People", de Sally Rooney. A 30 de setembro revelara a mais recente leitura: "Sartre e Beauvoir: A História de uma Vida em Comum", de Hazel Rowley. "Desamor", de Nuno Ferrão, surgiu a 20 de novembro, seguindo-se, além da já mencionada em cima leitura de "Amor Portátil", também a obra "Niketche: Uma História de Poligamia", de Paulina Chiziane, no dia 13, e ainda "Olhos Azuis, Cabelo Preto", de Marguerite Duras, no dia 22. Na véspera de Natal, Pedro Paixão e "A Noiva Judia" foram os convidados na leitura de Inês Henriques. A 1 de fevereiro, Dia Mundial da Leitura em Voz Alta, apresentou um trecho de "Todas as Crónicas", de Clarice Lispector. "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez, que aqui estivera em janeiro de 2021, regressou no sábado, dia 12 de fevereiro. Dois dias depois começava a leitura de excertos do livro "A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer", do sueco Stig Dagerman, que se concluiu a 19 de fevereiro. A 28, o regresso às leituras por aqui fez-se com um excerto de "Pedro Lembrando Inês", de Nuno Júdice. "Um, Ninguém e Cem Mil", de Luigi Pirandello, foi a leitura proposta no dia 4 de março. "Putas Assassinas", de Roberto Bolaño, surgiu a 10 de março. Herberto Helder e "A Menstruação Quando na Cidade Passava", do livro "Poemas "Completos", foram a leitura seguinte. No dia 19, a proposta recaiu sobre "A Noite e o Riso", de Nuno Bragança. A 2 de abril, aqui se recuperara a sua leitura de um trecho da obra "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan. No dia seguinte homenageou a falecida Lygia Fagundes Telles com um trecho da obra "A Disciplina do Amor" e a 23 aqui recuperei a sua leitura de "Novas Cartas Portuguesas", de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. No Especial dedicado ao 25 de Abril, Inês Henriques apresentou um excerto da obra "Os Filhos da Madrugada", de Anabela Mota Ribeiro. A 5 de maio, no Especial dedicado ao Dia Mundial da Língua Portuguesa, propôs "Manual de Pintura e Caligrafia", de José Saramago. A 6 de junho leu "A Sangrada Família", de Sandro William Junqueira. No dia 1 de agosto, a escolha recaiu no japonês Junichiro Tanizaki com um excerto da obra "A Confissão Impudica". De 10 de outubro é a homenagem à nova Nobel da Literatura, Annie Ernaux, com um excerto do livro "Uma Paixão Simples". A 21 de outubro leu "Para Onde Vão os Guarda-Chuvas", de Afonso Cruz. De 14 de novembro, no Especial Centenário de José Saramago, é a recuperação da sua leitura de um excerto da obra "Manual de Pintura e Caligrafia". No Especial 1.000 Leituras de dia 23, "A História de Roma", de Joana Bértholo, foi a sua escolha. No dia 28 trouxe um pouco do livro "A Carne", cuja autora é Rosa Montero. O último dia de 2022 mostrou-a a ler um trecho da obra "Lavoura Arcaica", de Raduan Nassar. Voltou a 10 de fevereiro e leu um pouco do livro "Um Bom Homem É Difícil de Encontrar", de Flannery O'Connor. No dia 14 de fevereiro, a leitura proposta foi "Falha", de Sarah Kane. A 8 de março, no Especial sobre o Dia Internacional da Mulher, leu "Os Anos", de Annie Ernaux. E, a 21, quando aqui surgiu o Especial dedicado ao Dia Mundial da Poesia, cá esteve a ler "What's in a Name", de Ana Luísa Amaral. "A Cerimónia do Adeus", de Simone de Beauvoir, foi a sua proposta de 31 de março. A 26 de abril leu um excerto de "Sopro", de Tiago Rodrigues. De 9 de maio é o regresso de "351 Tisanas", de Ana Hatherly. "Na América, Disse Jonathan", de Gonçalo M. Tavares, voltou a 26 de maio. "A Solidão dos Inconstantes", de Raquel Serejo Martins, foi a proposta de 12 de junho. Camilo Castelo Branco e o seu "Coração, Cabeça e Estômago" voltaram a 26 de junho. A 30 de junho leu "Garden Party", de Katherine Mansfield. A 5 de julho voltou "Sobre o Amor", de Charles Bukowski. De 14 de julho é a leitura de "Descobri que era Europeia", de Natália Correia.
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