Historiadora e investigadora com vasta obra, sobretudo acerca de temas dedicados à história contemporânea da ditadura salazarista e das mulheres, Irene Flunser Pimentel, Prémio Pessoa em 2007, também tem escrito sobre a II Guerra Mundial e os judeus. "Holocausto" estaria publicado neste mês de abril se não fosse por causa da pandemia. Aqui se faz um pouco de luz sobre o seu conteúdo.
Nascida numa família com posses (o avô fundou o laboratório Sanitas, no qual o pai, químico-farmacêutico, foi administrador) e filha de mãe suíça, cujo casamento com o pai aconteceu quando este realizava uma pós-graduação em Zurique, Irene Flunser Pimentel nasceu em Lisboa, a 2 de maio de 1950. Estudou no Liceu Francês, aqui tomando contacto com a escrita de Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre. Assim iria começar a sua politização e a descoberta dos caminhos do marxismo-leninismo e da extrema-esquerda em que militou, processo acelerado quando foi estudar para a Suíça, mas, após umas férias, decidiu ficar em Paris, a trabalhar com operários nas fábricas, em pleno ambiente de agitação do Maio de 68. A partir de 1978 demarcou-se da política e iria dedicar-se aos estudos, licenciando-se em História (1984) pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Mais tarde, completou mestrado e doutoramento em História Institucional e Política do século XX na Universidade Nova, tornando-se investigadora do Instituto de História Contemporânea.
Estudiosa de tudo o que se relacionasse com o Estado Novo e a opressão por este exercida, mas considerando-se parte de uma geração profundamente afetada pelo Holocausto, a investigadora publicou em 2000 o primeiro trabalho em livro: "História das Organizações Femininas do Estado Novo". A obra seguinte já seria um misto dos principais temas de análise, intitulando-se "Judeus em Portugal durante a II Guerra Mundial. Em fuga a Hitler e ao Holocausto" (2006). De 2007 são três livros: "Vítimas de Salazar. Estado Novo e Violência Política", escrito em parceria com João Madeira e Luís Farinha, mas também "A PIDE-DGS. 1945-1974" e "Mocidade Portuguesa Feminina". A dimensão da sua obra e o rigor das aprofundadas investigações levaram a que fosse agraciada com o Prémio Pessoa nesse mesmo ano de 2007 e Irene Flunser Pimentel não abrandou o ritmo do seu trabalho, além de manter sempre intervenções públicas em diversas áreas. Em 2008 publicou a "Biografia de um Inspector da PIDE. Fernando Gouveia e o Partido Comunista Português". Seguiram-se "Fotobiografia de José Afonso" (2009/10) e, em coautoria, "Tribunais Políticos". "Cardeal Cerejeira. O Príncipe da Igreja" (2010) e "A Cada um o seu Lugar. A Política Feminina do Estado Novo" (2011) foram outros trabalhos de elevada exigência antes de voltar a escrever em colaboração, neste caso com Cláudia Ninhos, o livro "Salazar, Portugal e o Holocausto" (2012).
A temática alterou-se pouco em 2013 quando apresentou "Espiões em Portugal durante a II Guerra Mundial" ao mesmo tempo que coordenava e era coautora de "Memória e Justiça"e, já em 2014, mergulhou numa obra de maior densidade quando escreveu "História da Oposição à Ditadura (1926-1974)". Em 2015 recebeu nova distinção notável ao ser agraciada pelo Governo francês com a Legião de Honra e escreveu "Mulheres Portuguesas" em coautoria. "O Comboio do Luxemburgo", de 2016, tem assinaturas de Irene Flunser Pimentel e Margarida Ramalho na capa, relatando a história do comboio com 239 judeus como passageiros que, em 1940, após cerca de 10 dias fechados nas carruagens, não foram autorizados a entrar em Portugal, tendo de voltar para uma França sob domínio nazi, acabando muitos deles como vítimas do Holocausto. Regressou aos assuntos do Estado Novo para uma análise mais pormenorizada da polícia política com "O caso da PIDE/DGS" em 2017. Mais recente (2019) é a publicação de "Os Cinco Pilares da PIDE/DGS", no qual são apresentados com minúcia os percursos de Barbieri Cardoso, Álvaro Pereira de Carvalho, José Barreto Sacchetti, Casimiro Monteiro e António Rosa Casaco.
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Habituada a bater-se pelas suas convicções e a uma intervenção cívica frequente, Irene Flunser Pimentel não deixa de se manifestar pela defesa intransigente da democracia, em especial nestes tempos em que o populismo se tornou uma ameaça constante.
Além de ter coordenado, ao longo do tempo, diversos projetos de estudo universitários, a investigadora também se dedicou a um pós-doutoramento, com supervisão do historiador e professor Fernando Rosas, sobre "O processo de justiça política relativamente à PIDE/DGS na transição para a democracia em Portugal".
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