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Paulo Jorge Pereira

Leonora Rosado lê "Há Ténues Sinais de Cristal nos Espelhos"

Passou pelo Conservatório de Lisboa e poderia ter sido cantora lírica como a sua mãe, mas Leonora Rosado preferiu a escrita em detrimento do canto e aqui deixa um excerto da sua obra "Há Sinais Ténues de Cristal nos Espelhos".



Leonora Rosado nasceu no concelho de Sintra em 1971 e, desde muito cedo, mostrou interesse quer pela leitura, quer pela escrita, neste caso sobretudo pelo campo da poesia. Estudou no Conservatório de Lisboa e poderia ter sido cantora lírica como a sua mãe, mas desistiu. Ainda assim, chegou a gravar e a ser coautora no primeiro trabalho discográfico de Rodrigo Leão. Colaborou com os Vitriol, editados pela Ananana e interpretou ópera ao vivo (excertos d'As Bodas de Fígaro, de Mozart), no Teatro Garcia de Resende, em Évora.

Tem publicados os seguintes doze livros de poesia: "Dias Horizontais Noites Assim" (2012, Nu Limbo Edições), "O Ocaso e as Horas" (2013, Nu Limbo Edições), "Argila" (2014, Nu Limbo Edições), "A Voz Subcutânea" (2015, Nu Limbo Edições), "Impurezas" (2016, Temas Originais), "Ruptura" (2016, Nu Limbo Edições), "A Fenda no Sangue" (2017, Editora Licorne), "O Livro do Sopro" (2017, Editora Licorne) e "Fóssil de Água" (Corpos Editora, 2018), "Trauma" (2018, Editora Licorne), "Há Ténues Sinais de Cristal nos Espelhos" (2019, Edições Sem Nome, textos de prosa poética) e "Pranto de Coral", prosa poética (Editora Licorne, 2019).


Edições Sem Nome

"O poema é a janela da cidade abrindo-se sobre nós. Com que inquietude, Lisboa, te deixarei, um dia, cidade de uma miríade de tintas. De prantos lentos e sorrisos a rasgarem as tuas vestes”, escreve Leonora Rosado na obra aqui apresentada.

Leonora Rosado vai publicar em breve o livro "Contágio" com a Editora Labirinto. Aqui fica um excerto dessa obra por gentileza da autora: "A ficção é um luto gerado, consentido, todo o movimento dramático de um espasmo, a criação é entrega, empenho, nudez despojada. Uma espécie de exigência absurda, a íntima urgência por dentro da pele. Façamos o luto de um rigor que estilhaça. Os vocábulos são indóceis, intangíveis. No entanto, desfazem-se à medida que prossigo. A flor arde no sentido da pedra, a pedra estilhaça-se em direcção ao vocábulo. A alma de um cego é povoada de sons e odores, de delicadas violências. Onde está a tua ferida? Em que palavra deixaste o teu sangue, o teu sémen? A solidão tem o peso de um cargueiro, a solidão é uma âncora rochosa, difícil. Pássaro, vento, carne. Aqui ficámos com as suas asas, com o seu rumor denso. A escrita é uma ferida incurável, é um coração doloroso, proscrito, oculto. Vê bem a dilatação do vocábulo, faz para lhe dares forma humana, conteúdo, violência. O corpo ancora-se às palavras, trinta mil toneladas de rosto só. Uma visitação à febre, uma constância que efémera se desfaz. O pensamento, não a atração, esgotam a ideia de suicídio, mas acalentam-lhe a pele. A morte, a morte de que falo, surgirá ainda em vida. Quando chegares, não te esqueças de morrer e matar. Seja qual for o movimento do teu corpo que gravita. As estrofes vêm morrer-te aos dedos."

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