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Paulo Jorge Pereira

Luís Serpa lê "Escrever", de "Avenida da Liberdade, nº1"

Autor do blog Don Vivo, Luís Serpa publicou, com ajuda de crowdfunding, o livro "Avenida da Liberdade, nº1", compilação do que ali escreveu nos últimos anos. Aqui lê alguns desses excertos.



Nascido em Lisboa e marinheiro por opção, a paixão pela escrita foi desenvolvida desde a infância, herdando do pai, também marinheiro, outras paixões, como a leitura e a fotografia. Uma vez que o pai foi trabalhar para Moçambique, tinha nove anos quando acompanhou a família para Quelimane, seguindo-se a então Lourenço Marques em 1971, com breve passagem pela Suíça entre as duas. Voltou para Portugal em 1974, increvendo-se na Escola Náutica Infante D. Henrique. Apesar de interromper o segundo ano para ir passar uns meses ao Rio de Janeiro, voltou a tempo de concluir o curso. Esteve na marinha mercante durante dois anos, passando seis meses na marinha Venezuelana. Deu "a volta ao mundo num graneleiro que quase afundou no mar do Japão", esteve na cabotagem num cimenteiro na costa venezuelana e nas Caraíbas e andou "à pescada na Namíbia". A última viagem na marinha foi a derradeira do N/M LEIXÕES: Lisboa–Nacala e volta.

De 1978 é a sua inscrição na Escola Superior de Cinema, mas apenas concluiu o primeiro ano, uma vez que iniciou viagens por França e Suíça, as quais, tirando a interrupção por um ano para participar nas dragagens do porto em Aveiro, durariam quase vinte anos. Na Suíça lavou pratos, retirou neve dos telhados, trabalhou numa quinta, num Albergue de Juventude, num café, lavou janelas, ajudou a reparar elevadores, fez limpezas, fez vídeos e montou uma "agência de viagens/tour operator/ agência de charter em Genebra com base nos Açores", fez transportes de embarcações de vela e a motor no Mediterrâneo e no mar do Norte, fez regatas, deu aulas de vela e de regata, atravessou o Atlântico à vela pela primeira vez, sobreviveu a um ciclone, casou com "uma mulher extraordinária chamada Sandra" e teve "dois filhos lindos, Tomás e Helena".

O ano de 1994 assinala uma viragem marcante na sua vida: deixou o mar e os barcos e foi enviado pelo ACNUR para o Burundi, onde passou um ano a fazer de logistics officer e comprou um pequeno veleiro "para navegar no lago Tanganyika". Tudo isto "durante o genocídio do Ruanda e provavelmente o ano mais intenso" da sua vida. Em 1996 voltou à ajuda humanitária, no então Zaire, com o CICR: "Kabyla pai tomava o poder das mãos de Mobutu". Ficaria meio ano "do lado governamental". No ano seguinte regressou a Moçambique, episódio que considera um erro que pagou caro porque "Lourenço Marques se tinha transformado em Maputo". Por isso, não regressou "a lado nenhum". Em dezembro de 1999 já estava outra vez na Europa e iria assistir "às celebrações do milénio em Genebra". Deu um salto a Londres, voltou a Genebra para ser "estafeta numa companhia de entregas" e seria depois "contratado para montar um exemplo de turismo enológico em avião privado com base em Neuchâtel". Porém, o plano abortou e voltou para Portugal, mudança que envolveu passagens por Bruxelas e Paris entre 2001 e 2002.

Tentou fazer a sua vida à volta da "vela e das embarcações de recreio – regatas, escola de vela, eventos náuticos – e depois de um projeto chamado Mares–Olhares, uma das poucas coisas" que fez "pelas quais daria 10 anos de vida, talvez 15". Ao mar, único meio em que considera ser "recebido de braços abertos", acolheu-o uma vez mais em 2010. Andou pelas Caraíbas, pelo Mediterrâneo, Brasil, Panamá, atravessou o Atlântico mais quatro vezes e, desde 2018, está em Palma de Maiorca "por causa de uma embarcação de vela chamada PANDA" pela qual se apaixonou.

Pelo meio, em 2003, criara o blog Don Vivo com o objetivo "aí armazenar as coisas que ia escrevendo". Aos poucos, "o blog ganhou vida própria e tornou-se uma parte integrante, importante e essencial" da sua vida. Precisamente a partir de um grupo "de posts do blog" nasceria o livro "Avenida da Liberdade, nº1", publicado com apoio de crowdfunding. Entretanto, além dos eventos náuticos, organizou "eventos culturais com o Ler por aí e" colaborou na abertura do Ler por aí… Café, um espaço a que em segredo chama “La bourlingue” porque "é a palavra que mais" o fascina, atrai e seduz "em todas as línguas do universo". [O projeto Ler por Aí já foi abordado no livroslidos.pt no passado dia 23, com a leitura de um excerto de "Lillias Fraser", de Hélia Correia, feita por Margarida Branco, criadora daquela entidade].

Os seus gostos incluem, por exemplo, navegar, "se bem que 'gostar' não seja o verbo apropriado – é como alguém dizer que gosta da gravidade; e de conhecer as pessoas, coisa estranha num tipo que é fundamentalmente tímido"; gosta de comer e de beber, pelo que aprendeu a cozinhar "com a tia Mamé, uma senhora que escreveu o primeiro dos muitos livros" da sua vida: "um receituário que", tanto quanto sabe, "nunca foi publicado mas que devia ser obrigatório em todas as escolas do país, porque um homem só é verdadeiramente autónomo quando sabe cozinhar".


Fora de Série (Grupo BookBuilders)

Marinheiro por opção e viajante pelo mundo, Luís Serpa manifesta-se "maravilhado" com tudo o que vê, vive, sonha e ama.

Um dia, espera ter a possibilidade de se estabelecer simultaneamente "em Mértola, em Lisboa, em Palma e em Genebra e, nos intervalos, ir a Jost van Dyke beber painkillers, a S. Luís do Maranhão ver os amigos" que lá deixou e tanta falta lhe fazem "e a Bocas del Toro porque sim". Aos 62 anos, manifesta-se "maravilhado" com tudo o que vê, vive, sonha e ama, algo que "um espírito mais sóbrio atribuiria a um excesso de ingenuidade". Ele também.

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