Luis Sepúlveda foi, há mais de três anos, que se completaram no passado dia 16 de abril, uma das vítimas ceifadas pela pandemia. Mas a sua literatura não desaparece e aqui regressa com um trecho do livro "O General e o Juiz".
Um percurso de vida e uma obra do lado dos oprimidos, dos perseguidos, erguendo a voz contra as desigualdades e recorrendo à escrita não só para contar histórias apaixonantes, mas também para que a memória seja um músculo sempre em exercício. E para apontar os culpados, os filhos da puta que, do seu Chile natal à outra ponto do mundo, nunca deixam de usar a força para subjugar, humilhar e assassinar. Luis Sepúlveda tornou-se um dos escritores latino-americanos com mais livros vendidos, porque o seu talento a recriar geografias e personagens com sentimento lhe assegurou a entrada no coração de leitores pelo mundo fora. E porque nunca poupou na linguagem quando se tratava de falar sobre crimes de Estado, patrocínio de golpes militares e ditaduras como de Pinochet por parte dos Estados Unidos. Ou a defender em público valores como a liberdade, a democracia, a solidariedade, o ambiente (foi membro da Greenpeace), porque sempre considerou um dever essa participação cívica.
Mas, como homem que correu mundo e tantos mundos diferentes viu, foi também capaz de passar para o papel uma aprendizagem única sobre o ser humano.
A pandemia apunhalou Sepúlveda pelas costas e, após mês e meio de luta pela vida, o chileno perdeu o combate, morrendo aos 70 anos a 16 de abril de 2020. Nesse mesmo dia foi homenageado aqui no blog. A 12 de junho, o experiente jornalista Manuel Fernandes Silva, do Desporto da RTP, apresentou um excerto da obra "Mundo do Fim do Mundo". A 5 de agosto de 2021 voltou a ser aqui recordado e hoje aqui regressa.
Edições ASA/Tradução de Pedro Tamen
Quando o jornalista Miguel Carvalho, da revista Visão, lhe perguntou se o perdão cabia no seu dicionário chileno, Sepúlveda foi bem claro na resposta: "Não, não cabe. Nisso, sou como o Conde de Monte Cristo: não esqueço, nem perdoo. Com o perdão não se devolvem as vidas que a ditadura levou", indicou.
Os seus livros vão permanecer e a sua voz não irá calar-se porque, como disse numa entrevista ao jornalista Miguel Carvalho da revista Visão, em outubro de 2003, "a minha literatura é um ato de resistência". E Luis Sepúlveda nunca deixará de ser um resistente.
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