No dia em que a maldita pandemia roubou a vida ao escritor chileno, aqui ficam leituras de excertos de duas das obras de alguém que nunca se calou em defesa da democracia e dos mais desfavorecidos. Uma voz que, apesar do desaparecimento físico do autor, vai continuar a manifestar-se contra a opressão e as desigualdades.
Com uma vida inteira a correr mundo e a bater-se pela dignidade do ser humano, em defesa da ecologia e da justiça, Sepúlveda nasceu em Ovalle (1949), no norte do Chile, estreando-se na vida literária em 1969 com "Crónicas de Pedro Nadie". Estudou durante alguns meses em Moscovo, mas depressa regressou ao Chile e, depois de expulso da Juventude Comunista, aderiu ao Partido Socialista e fazia parte da guarda pessoal do Presidente Allende, no Palácio de La Moneda, no dia do golpe de Estado liderado por Pinochet. A selvagem ditadura prendeu-o e forçou-o ao exílio, mas foi incapaz de o silenciar. Viajou muito, passou pela Amazónia e tornou-se amigo de Chico Mendes, a quem dedicou "O Velho que Lia Romances de Amor". Viveu em Hamburgo e Paris antes de se fixar em Gijón. Admirado e lido um pouco por todo o mundo, escreveu mais de duas dezenas de obras e dedicou parte do seu espírito inquieto ao Cinema. Foi argumentista, realizador, produtor, ator, editor e até diretor de fotografia. Veio ao Correntes d'Escritas em fevereiro com a mulher e foi ao voltar a Espanha depois de deixar a Póvoa de Varzim que ambos adoeceram com o vírus. Morre a 16 de abril de 2020, mas os seus livros vão continuar a ser parte do presente de todos nós.
Tradução de Pedro Tamen (Edições ASA/Coleção Pequenos Prazeres)
Retrato da"Uma prosa rápida, quase cinematográfica, com capítulos curtos e parágrafos muito breves, que levam o leitor a só largar o livro depois de ter acabado de o ler", escreveu-se no diário "El País" sobre "O Velho que Lia Romances de Amor".
Ao longo do percurso literário, Sepúlveda foi distinguido com diversos galardões: o último foi o Prémio Eduardo Lourenço, conquistado em 2016.
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