"O Holocausto" é o conto escolhido para deixar um exemplo da pequena maravilha que é o livro "Onze Contos de Futebol", escrito pelo galego Camilo José Cela, Prémio Nobel da Literatura em 1989.
A escrita de Camilo José Cela, feita de romances, contos, poesia ou livros de viagens, tem inúmeros apreciadores. O autor galego, Prémio Nobel da Literatura em 1989, é um autor para sempre. Isso tornou-se, aliás, bem evidente logo na obra de estreia, o romance "A Família de Pascual Duarte" (1942), que logo trouxe sucesso ao escritor - seria o livro espanhol mais traduzido depois de "D. Quixote", de Cervantes - nascido em Ira Flavia, na Corunha, a 11 de maio de 1916, filho de mãe inglesa e pai espanhol.
Mas a vida de Camilo José Cela não teve apenas momentos de intensa luminosidade e as manchas que também ficam para sempre foram a sua defesa da ditadura de Franco, mais tarde as manifestações públicas de repúdio pelos homossexuais ou as acusações de plágio.
Cela não só lutou pelo Exército franquista contra os republicanos como chegou a exercer o cargo de censor no começo dos anos 40 - paradoxalmente, a segunda edição de "A Família de Pascual Duarte" foi retirada de circulação e "A Colmeia", sob proibição em solo espanhol, teve de sair primeiro na Argentina. Muitos anos mais tarde, em 1982, teria adaptação cinematográfica sob realização de Mario Camus e com interpretações de Paco Rabal, José López Vázquez, José Sacristán, Antonio Resines, Ana Belén, Concha Velasco, Emilio Gutiérrez Caba, Agustín González, Victoria Abril, Luis Ciges, entre outros.
Antes fora expulso de quatro colégios durante os seus primeiros anos de escolaridade e passara pelos cursos de Medicina, Direito, Filosofia e Letras. Pintor, toureiro e ator de cinema, sobreviveu à tuberculose, foi escrevendo e publicando. "Vagabundo ao Serviço de Espanha", "Madeira de Buxo", "Mazurca para Dois Mortos", "A Cruz de Santo André", "O Assassínio do Perdedor", "Onze Contos de Futebol" (de que se apresenta aqui um excerto) ou "São Camilo" são apenas alguns exemplos das dezenas de obras que publicou.
Em 1995, à reportagem da RTP que acompanhou a sua visita à Universidade Moderna, Camilo José Cela considerou que, "sem independência e sem solidão, um escritor não chega a lado nenhum. Não há nada mais triste do que um escritor subserviente em relação aos políticos". E acrescentou: "Em cada um, o fiscal da sua trajetória humana e literária é a própria consciência".
Edições ASA/Tradução de Artur Guerra
Casado com María del Rosario Conde Picavea entre 1944 e 1990, o escritor foi pai de Camilo José Cela Conde, a quem tentou deserdar mais tarde, numa fase em que já era casado com Marina Castaño.
Atingido por problemas cardíacos e respiratórios, Camilo José Cela morreu aos 85 anos, numa quinta-feira, dia 17 de janeiro de 2002.
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