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Paulo Jorge Pereira

"Para que Serve um Irmão Mais Velho", de João Tordo

O trabalho literário de João Tordo já aqui foi abordado em diversas ocasiões. Agora não se trata de um livro do autor, mas sim do seu conto "Para que Serve um Irmão Mais Velho", integrado na coletânea "Língua Mátria", que hoje aqui volta, num momento em que o escritor vai promover a obra mais recente, "Os Dias Contados".



Embora já tivesse obra publicada antes ("O Livro dos Homens sem Luz", de 2004, e "Hotel Memória", de 2007), João Tordo ganhou dimensão como escritor a partir do romance "As Três Vidas", distinguido em 2009 com o Prémio José Saramago. Tordo é, aliás, um dos "Herdeiros de Saramago", título da série que a RTP transmitiu acerca dos escritores que receberam o galardão. No ano seguinte, quando Saramago morreu, o jovem escritor confessou que iria sentir saudades, apesar de apenas ter estado com o Prémio Nobel da Literatura uma vez, precisamente na entrega da distinção ao seu livro. "Vou ter saudades daquela voz rouca, e até das polémicas, e daquele modo que ele tinha de ver o mundo, que é completamente desigual de qualquer outro português, porque o homem, de facto, foi uma força bruta no sentido literário: é super-complicado lermos um livro do Saramago e não nos sentirmos profundamente mudados com aquilo, aquilo não mudar o nosso ponto de vista acerca das coisas", afirmou João Tordo na altura à agência Lusa.

João nasceu a 28 de agosto de 1975, filho do cantor e compositor Fernando Tordo e de Isabel Branco, com atividade na moda e ligações ao cinema. Tem uma irmã gémea, Joana, de quem está sempre muito próximo. Formado em Filosofia na Universidade Nova, dedicou-se ao jornalismo durante algum tempo, concluindo mesmo um mestrado em Londres para onde fora viver a partir de 1999. Mais tarde, viajou rumo a Nova Iorque e aí frequentou cursos de escrita criativa no City College, escrevendo ao mesmo tempo que trabalhava na área da restauração. Em entrevista à revista Rua, Tordo explicou como fora o seu processo de chegar a ter a escrita em forma de livro. "Durante 28 anos escrevi sem nunca publicar", contou. "Escrevi para mim e o que escrevia ficava na gaveta… ou deitava fora. Fiz o meu processo de perceber que a escrita era sobretudo, pelo menos naquela idade, uma experiência de fracasso. Tentar, tentar, tentar… perceber o que eu queria dizer, o que me importava dizer, que tipo de voz eu tinha… Isso surgiu muito por tradição literária, ou seja, ler! Passei muitos anos a ler sem objetivo nenhum de publicar e aprendi assim", confessou.

Estudou contrabaixo e chegou a tocar numa banda chamada The Loafing Heroes. De 2004 é o seu primeiro livro, o já citado "O Livro dos Homens sem Luz", que lhe permite vencer o Prémio Jovens Criadores, seguindo-se o também mencionado "Hotel Memória" três anos mais tarde. "As Três Vidas", além de lhe garantir o Prémio José Saramago e maior notoriedade, chega a finalista do Prémio Portugal Telecom (2011). "O Bom Inverno", de 2010, e do qual aqui se apresenta um excerto, volta a despertar atenções, surgindo como finalista em diversos galardões (Prémio Fernando Namora, Melhor Livro de Ficção Narrativa da Sociedade Portuguesa de Autores e Prémio Literário Europeu). Com a popularidade e a legião de leitores e admiradores a crescer, vai ganhando para escrever e publicar outros romances. Na citada entrevista à Rua, Tordo refletiu: "Fui construindo a minha tradição, porque não se escreve sozinho, escreve-se com as vozes dos outros que vieram antes de nós. Por um lado, a tradição e, por outro, a imitação. Só aos 28 anos é que tive coragem de pegar num manuscrito e enviar para várias editoras em Portugal (nessa altura eu vivia nos EUA). Demorou algum tempo até ter uma resposta", reconheceu. E apresentou a sua opinião, comparando o que se passara consigo e aquilo que vê na atualidade em relação a alguns estreantes. "Publiquei o primeiro romance aos 29 anos, o que acho que é cedo. Hoje em dia vemos escritores muito mais novos, com 20 anos, a publicar, e eu considero muito precoce. Não há tempo para se ter vivido, para se ter amadurecido", acentuou.

Passa a ter regularidade nas publicações: "Anatomia dos Mártires" (2011), "O Ano Sabático" (2013), "Biografia Involuntária dos Amantes" (2014), de que aqui se lê um excerto, "O Luto de Elias Gro" e "O Paraíso Segundo Lars D.", ambos de 2015, "O Deslumbre de Cecilia Fluss" (2017), "Ensina-me a Voar sobre os Telhados" (2018), "A Mulher que Correu Atrás do Vento" e "A Noite em que o Verão Acabou", os dois publicados em 2019. Já em 2020, apresenta durante o confinamento um "Manual de Sobrevivência de um Escritor", no qual fala da sua atividade como escritor e deixa uma série de conselhos a quem sonhe dedicar-se ao ofício da escrita. O seu trabalho está ainda presente em diferentes antologias e Tordo é também guionista de séries televisivas, como "Rabo de Peixe", na Netflix, cuja primeira temporada contou com outro escritor português, Hugo Gonçalves, e participa nas redes sociais.

Esta é outra abordagem do trabalho literário de João Tordo aqui no blog. A estreia processou-se a 29 de novembro de 2020 com "As Três Vidas", obra que lhe assegurou o Prémio José Saramago em 2009, seguindo-se, por exemplo, "Manual de Sobrevivência de um Escritor", a 15 de dezembro, e "A Mulher que Correu Atrás do Vento", a 17 de janeiro de 2021. A 22 de fevereiro foi a vez do livro "Biografia Involuntária dos Amantes". "O Bom Inverno" foi leitura a 19 de maio. E outras se lhe seguiram...


The Book Company


"Fui construindo a minha tradição, porque não se escreve sozinho, escreve-se com as vozes dos outros que vieram antes de nós", afirmou Tordo em entrevista à revista Rua em 2020.

"Felicidade", lançado em outubro de 2021, foi o mais recente romance de João Tordo antes da chegada do thriller "Águas Passadas", de que aqui já apresentei leitura de um excerto, e de "Naufrágio", publicado em 2022. Já em 2023 surgiu "Cem Anos de Perdão", recuperando personagens de "Águas Passadas". O 20.º livro em 20 anos de trabalho literário foi "O Nome que a Cidade Esqueceu" e já aí está o mais recente: "Os Dias Contados", outra vez com personagens de "Águas Passadas" e "Cem Anos de Perdão".  

Tentando responder ao que procura quem o lê, na entrevista de julho de 2020 à revista Rua, a ideia de João Tordo resume-se a estas frases: "Acho que as pessoas que me leem gostam de narrativa, gostam da aventura da narrativa, gostam de, como eu, se sentirem perdidas no meio do livro. De se sentirem desorientadas. Na realidade, às vezes, é isso que eu sinto, que fico desorientado."

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