No regresso de Patrícia Adão Marques aqui ao blog, agora com "Vivo de Facto em Tempos de Escuridão", de Bertolt Brecht, regista-se a terceira presença do trabalho literário do dramaturgo.
Brecht nasceu em Augsburg, a 10 de fevereiro de 1898, no então estado livre da Baviera, filho de um católico que era diretor de uma fábrica de papel (Berthold) e de uma protestante (Sophie Brezig). Um dos gigantes da dramaturgia mundial, conta com vasta obra escrita nos domínios do teatro e da poesia, além de preponderante trabalho como encenador. Estudou Medicina e trabalhou mesmo como enfermeiro durante a I Guerra Mundial. "Baal" e "Tambores na Noite" seriam as suas primeiras peças com encenação em Munique. Entretanto, conhece Erich Engel, importante diretor teatral e realizador cinematográfico, tornando-se a colaboração entre os dois uma parceria de longa duração. Na Berlim do pós-I Guerra Mundial, Brecht é figura central na cena intelectual da República de Weimar e do Modernismo. Aqui irá também conhecer Erwin Piscator, outro fator decisivo para o seu trabalho. Marxista desde a década de 20, revela intensa atividade nesse período, vai buscar influências a autores da União Soviética e constrói o teatro épico que será uma das suas marcas. Desta fase são, por exemplo, "Na Selva das Cidades", "O Homem é o Homem", "O Elefante Calf", "Mahagonny", "A Ópera dos Três Vinténs" (com música de Kurt Weill), "O Voo no Oceano", "A Decisão" ou "A Mãe", este inspirado no livro homónimo de Maximo Gorki. Ao longo do tempo são várias as mulheres com quem vive, algumas delas em simultâneo: Paula Banhölzer (de quem tem um filho, Frank Banhölzer, mas com quem não pôde casar-se porque o pai dela recusou), Elisabeth Hauptmann, Ruth Berlau, Marianne Zoff, Regine Lutz. Casa-se mesmo com Marianne, de quem tem uma filha (Hanne Hiob, que foi bailarina e atriz).
Entretanto, em 1922, conhecera no Berlin Staatstheater a austríaca Helene Weigl, atriz inesquecível e cujas capacidades lhe renderam enorme sucesso naquele tempo. Só em 1928, quatro anos depois de ter Stefan, o primeiro filho de Brecht (é ainda mãe de Barbara Brecht-Schall, atriz na companhia criada pelo pai e mais tarde gestora do seu legado, tendo morrido em 2015) e um ano antes do casamento, iria estrear-se numa peça do dramaturgo alemão, "Um Homem é um Homem". A partir desse momento estará em quase todas as peças do marido, embora não participe n'"A Ópera dos Três Vinténs" devido a doença (mas será a "Mãe Coragem", um dos seus papéis mais marcantes, já como diretora artística do Berlin Ensemble, em 1949, após o regresso a Berlim).
Em 1933, com a ascensão de Hitler e dos nazis ao poder, foge para Praga, na então Checoslováquia, e logo depois para Viena, na Áustria. Seguiram-se Suíça, Dinamarca, Suécia, Finlândia, União Soviética e, sempre acossado pelas invasões das tropas nazis, a fuga rumo aos Estados Unidos. Ao mesmo tempo que fugia das garras e dos horrores do nazismo, Brecht nunca deixou de escrever: assim nasceram "Terror e Miséria no III Reich", "Os Fuzis da Senhora Carrar", "A vida de Galileu", "Mãe Coragem e os seus Filhos" ou "A Boa Alma de Setsuan". Durante a permanência nos Estados Unidos, em 1947, Brecht seria chamado a depor perante o Comité de Atividades Anti-Americanas (HUAC), liderado pelo senador Joe McCarthy, numa campanha que visava apanhar as "centenas de espiões comunistas" que o dirigente político do Wisconsin considerava estarem envolvidos em conspiração. Depois disso, volta a Berlim e, em 1949, altura em que é criada a República Democrática Alemã, funda a companhia teatral Berlin Ensemble. O casal e os filhos vivem na Chausseestrasse, em Mitte, enquanto o Berliner Ensemble começa por funcionar no Deutsches Theater, embora se transfira mais tarde para o Theater am Schiffbauerdamm, espaço da estreia d'"A Ópera dos Três Vinténs", em 1928 (a partir de 1954 torna-se mesmo a sede definitiva do Berliner Ensemble). Brecht morre no hospital Charité, a 14 de agosto de 1956, vítima de enfarte. Helene prossegue o trabalho à frente da companhia até morrer, a 6 de maio de 1971. Os seus corpos estão sepultados lado a lado no Dorotheenstädtischer Friedhof, junto à Casa Brecht, na qual viveram e onde está guardado o arquivo do dramaturgo.
O trabalho de Bertolt Brech já por aqui passou, no Especial Dia da Mãe, a 3 de maio de 2020, quando li um excerto da peça "Mãe Coragem e os seus Filhos". Escrita no exílio em 1939, depois de Brecht ter sido forçado a fugir por causa da chegada ao poder dos nazis, em 1933, "Mãe Coragem e os seus Filhos" foi estreada em 1941 na cidade suíça de Zurique. O cenário é a Guerra dos 30 Anos no século XVII, mas a intenção analítica visa o momento que o Mundo vivia à beira de nova catástrofe militar: crítica da guerra e dos negócios que ditam a morte de muitos e a sobrevivência de outros, questiona se sobreviver é uma vitória e que impacto isso exerce na consciência de cada um. Por outro lado, trata-se também de uma análise ao elevado preço a pagar pelo conformismo. A peça relata a história de Anna Fierling, uma vendedora ambulante que vai circulando por diferentes territórios a fazer negócio com a guerra ao mesmo tempo que tenta proteger os filhos (Queijo Suíço, Eilif e Katrin) do conflito armado. No final, o resultado de tudo isto é amargo.
Regressou cerca de um ano mais tarde, a 8 de abril de 2021, quando o incomparável Fernando Soares apresentou "Perguntas de um Operário Letrado".
O trabalho literário de Bertolt Brecht marca presença aqui no blog pela terceira ocasião.
Patrícia Adão Marques estreou-se em leituras por aqui no passado dia 29 com "Eu Sei, Mas Não Devia", de Marina Colasanti, seguindo-se "Mãe, Eu Quero Ir-me Embora", de Maria do Rosário Pedreira, no dia 4. Porém, conforme revela a sua nota biográfica, tem um longo e variado trabalho no universo da Cultura. "Cofundadora do Grupo TEMA-Mafra e membro da Direção do Teatro Independente de Oeiras, onde iniciou o percurso como atriz em 1996, é licenciada em Comunicação Empresarial pela Escola Superior de Comunicação Social, tendo feito formação artística em 2001/02 na ACT - Escola de Atores. Os estudos continuaram em ações promovidas por entidades como Chapitô, Teatro dos Aloés, Produções Fictícias", entre outras, sem esquecer "um curso de três meses no Michael Chekhov Acting Studio em Nova Iorque".
Por outro lado, "da sua experiência teatral constam passagens pelo Teatro A Barraca, Companhia do Chapitô, Teatro Mário Viegas, Teatro Villaret e Teatro Independente de Oeiras". O seu trabalho foi desenvolvido "em mais de 40 produções", tendo sido "dirigida por encenadores como Maria do Céu Guerra e Rita Lello (em A Barraca), Helder Costa, Carlos Thiré, Gina Tocchetto, Rui Rebelo, José Carlos Garcia, John Mowat - nestes quatro casos no Chapitô e para os mais novos -, Rita Lello, Moncho Rodriguez, António Pires, Frederico Corado, Carlos d'Almeida Ribeiro (no Teatro Independente de Oeiras), Lourenço Henriques, Durval Lucena" e outros.
Mas não se esgota aqui a sua atuação, pois Patrícia dispõe de "vasta experiência em teatro" para os mais novos, "incluindo musicais". No grande ecrã, a sua participação estende-se a filmes como "Quarta Divisão" (Joaquim Leitão), "A Corte do Norte" (João Botelho) ou "Os Imortais", de António-Pedro Vasconcelos. Em televisão há, por exemplo, a sua presença "no elenco fixo da novela "Ninguém como Tu", da TVI; a colaboração com o canal Q; as séries "Inferno" e "Inimigo Público", mas também "Bem-Vindos a Beirais", "Ministério do Tempo" ou "DaMood".
Outras vertentes da sua atividade são a locução e a dobragem "desde 2003. Neste capítulo sobressaem títulos como 'As Crónicas de Nárnia' (Disney e FOX), 'Handy Manny', 'Big Hero' e 'Violetta' (todos da Disney), neste último caso "dando voz à protagonista na versão portuguesa". O seu interesse e a sua atenção à poesia foram decisivos para que tenha "um canal no YouTube com vídeos" em que se apresenta a recitar e que está acessível aqui.
Multipremiada na área da realização de curtas-metragens, venceu o Prémio Melhor Curta-Metragem Portuguesa no Festival Massimo Troisi em Itália (2003) com "Coquelux - A Vingança das Galinhas" (realizado em parceria com o amigo e colega André Nunes) e o Prémio Melhor Vídeo no Festival Internacional de Avanca (2015), neste caso graças à curta "A Adorável Dor de Nunca te Ter" (parceria com Nuno Figueiredo), com base numa peça de Marguerite Duras, acessível aqui. Desse ano de 2015 é também a sua estreia como encenadora "com um musical infantil para o Grupo TEMA - Companhia de Teatro de Mafra".
Formação foi algo a que se dedicou entre 2008 e 2012 com "cursos e workshops" muitas vezes dedicados aos mais novos, com exemplos como "Workshop de Teatro para Crianças na ACT; curso de teatro na Oeiras International School; aulas em Montalegre ou no Teatro Independente de Oeiras". Atriz, locutora, dobradora, tem sido também produtora neste último teatro.
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