Aqui volta o momento em que Rogério Azevedo, experiente jornalista de A Bola, apresentou um excerto de uma das primeiras obras do consagrado autor de livros como "Auto dos Danados", "Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura" ou "A Última Porta Antes da Noite". Prémio Pessoa em 2007 e agraciado com inúmeras distinções, a Lobo Antunes parece mesmo só faltar o Nobel.
Ninguém fica indiferente à escrita, personalidade e vasta obra de António Lobo Antunes que granjeou respeito e admiração além-fronteiras. Há quem ame e quem deteste, quem seja fiel leitor e quem se mantenha à margem. Nascido em Benfica a 1 de setembro de 1942 e filho de um neurologista/professor que foi assistente de Egas Moniz, Lobo Antunes licenciou-se em Medicina (iria especializar-se em Psiquiatria). É irmão do neurocirurgião João Lobo Antunes, falecido em 2016, e ainda do neuropediatra Nuno Lobo Antunes, de Miguel Lobo Antunes (programador na área da Cultura), de Manuel Lobo Antunes (jurista e embaixador português no Reino Unido) e do arquiteto Pedro Lobo Antunes.
O seu trabalho literário, traduzido e publicado em dezenas de países, é muito marcado pelas terríveis experiências como cirurgião militar na guerra colonial, onde esteve entre 1971 e 1973. As cartas que trocou com a mulher (Maria José Xavier da Fonseca e Costa) nesse período foram reunidas em livro pelas duas filhas (Maria José e Joana) desse primeiro de três casamentos (as outras companheiras são Maria João Espírito Santo Bustorff Silva, de quem teve uma filha, e Cristina Ferreira de Almeida) e passadas para o grande ecrã em 2016, neste filme realizado por Ivo M. Ferreira. Autor de dezenas de romances e de diversos livros de crónicas, o seu nome tem sido muitas vezes apontado como candidato ao Prémio Nobel, um dos poucos que lhe faltam: em 2007, por exemplo, recebeu o Prémio Pessoa.
"Memória de Elefante", do qual foi apresentado aqui um trecho por Duarte Baião em junho de 2021, data de 1979, o mesmo ano de lançamento do livro "Os Cus de Judas", que hoje aqui volta com Rogério Azevedo, seguindo-se "Conhecimento do Inferno" (1980), "Explicação dos Pássaros" (1981), "Fado Alexandrino" (1983), "Auto dos Danados" (1985), "As Naus" (1988), "Tratados das Paixões da Alma" (1990), "A Ordem Natural das Coisas" (1992), "A Morte de Carlos Gardel" (1994), "A História do Hidroavião" (ilustrado por Vitorino e também de 1994), "Manual dos Inquisidores" (1996), "O Esplendor de Portugal" (1997), o primeiro "Livro de Crónicas" (1998), "Exortação aos Crocodilos" (1999), "Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura" (2000), "Que Farei Quando Tudo Arde?" (2001), o "Segundo Livro de Crónicas" (2002), "Letrinhas das Cantigas" (ainda de 2002), "Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo" (2003), "Eu Hei-de Amar uma Pedra" (2004), "D'Este Viver Aqui Neste Papel Descripto: Cartas da Guerra" (2005), "Terceiro Livro de Crónicas" (2006), "Ontem Não te Vi em Babilónia" (ainda de 2006), "O Meu Nome é Legião" (2007), "O Arquipélago da Insónia" (2008), "Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra no Mar?" (2009), "Sôbolos Rios que Vão" (2010), "Quarto Livro de Crónicas" e "Comissão das Lágrimas" (ambos de 2011), "Não É Meia-Noite Quem Quer" (2012), "Quinto Livro de Crónicas" (2013), "Caminho como Uma Casa em Chamas" (2014), "Da Natureza dos Deuses" (2015), "Para Aquela que Está Sentada no Escuro à Minha Espera" (2016), "Até Que as Pedras Se Tornem Mais Leves Que a Água" (2017), "A Última Porta antes da Noite" (2018), "A Outra Margem do Mar" (2019), "Diccionario da Linguagem das Flores" (2020), "O Tamanho do Mundo" (2022) e "As Outras Crónicas" (2023).
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"Do que gostava mais no Jardim Zoológico era do ringue de patinagem sob as árvores e do professor preto muito direito a deslizar para trás no cimento em elipses vagarosas sem mover um músculo sequer, rodeado de meninas de saias curtas e botas brancas, que, se falassem, possuíam seguramente vozes tão de gaze como as que nos aeroportos anunciam a partida dos aviões, sílabas de algodão que se dissolvem à maneira de fios de rebuçado na concha da língua", escreve António Lobo Antunes em "Os Cus de Judas".
Rogério Azevedo é um dos nomes mais respeitados da imprensa, tendo recebido diversos prémios ao longo do percurso profissional.
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