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"Terra Americana", de Jeanine Cummins

Publicado em janeiro deste ano, "Terra Americana", de Jeanine Cummins, mistura uma série de ingredientes como receita para o êxito: amor, violência, aventura, sofrimento, emoções intensas e muitas peripécias.



Um início terrível e trepidante; uma odisseia de mãe e filho (Lydia e Luca); um retrato daquilo que se vive em várias cidades mexicanas marcadas pela extrema violência dos cartéis; e sempre a entrada nos Estados Unidos como eterna esperança de uma vida melhor para quem (os migrantes) não tem outra opção que não seja deixar tudo (que é nada, neste caso) para trás - "Terra Americana", de Jeanine Cummins, é tudo isto e muito mais. Uma obra cuja trama envolve e domina os leitores, ávidos de descobrir a cada capítulo o que vai acontecer a seguir, e cuja adaptação cinematográfica foi rapidamente proposta e aceite. Antes, a autora já recusara algo semelhante a propósito de "A Rip in Heaven; A Memoir of Murder and its Aftermath" (2004), o seu primeiro romance, trágica história da violação e assassínio de duas primas num assalto a que só o seu irmão escapou. E vale a pena escrever mais sobre o caso.



A história aconteceu sobre o rio Mississipi, na ponte Chain of Rocks, em Saint Louis, no Missouri, a 5 de abril de 1991. Tom Cummins, o irmão de Jeanine, tinha 20 anos e deslocara-se com as primas Julie e Robin Kerry, de 20 e 19 anos, para que estas lhe mostrassem o poema que escreveram na estrutura da ponte. Um grupo de quatro homens atacou-os, violou as duas raparigas e obrigou os três a lançarem-se ao rio - Tom venceu a corrente e nadou até escapar, o corpo de Julie demorou três semanas a ser localizado, o de Robin nunca foi encontrado. Peça-chave no processo porque podia identificar os assassinos, Tom começou por ser considerado suspeito pelas autoridades, foi mesmo espancado pela polícia (tal como um dos criminosos) e chegou a estar acusado do homicídio e da violação das primas, mas as acusações cairiam a partir do momento em que foram detidos os verdadeiros responsáveis. Daniel Winfrey, então com 15 anos e participante no assalto (seria condenado a 30 anos de prisão, mas foi colocado em liberdade condicional a partir do verão de 2007), testemunhou contra os outros três: Marlin Gray (foi condenado à morte em 1992 e executado em 2005), Antonio Richardson (condenado à morte, sentença depois reduzida para prisão perpétua) e Reginald Clemons (condenado à morte, algo que seria revisto para cinco penas de prisão perpétua sem possibilidade de condicional num segundo julgamento realizado em 2015, após obtenção de novas provas sobre o caso). Jeanine Cummins tinha 16 anos e a sua estreia literária seria uma espécie de memória sobre a tragédia que marcou a família. Mas teve o cuidado de rejeitar qualquer conotação racista do caso (os três condenados eram afro-americanos), escrevendo mesmo um artigo de opinião no New York Times, a 31 de dezembro de 2015, sob o título "Murder Isn't Black or White".

Neta de uma porto-riquenha pelo lado materno, Jeanine nasceu na cidade espanhola de Cádiz, onde o pai estava ao serviço da Marinha dos Estados Unidos. Viveria os primeiros anos em Gaithersburg, no Estado de Maryland, formando-se na Universidade de Towson. Seguiram-se tempos a trabalhar atrás de um balcão como barman em Belfast, capital da Irlanda do Norte, até voltar para solo norte-americano e passar a trabalhar na editora Penguin, durante dez anos, a partir de 1997. Já se dedicava apenas à vida literária quando publicou os sucessores de "A Rip in Heaven": em 2010 saiu "The Outside Boy" e em 2013 foi a vez da obra "The Crooked Branch".





Mais recente é o livro de que aqui se apresenta um excerto: "Terra Americana" (ou "American Dirt", no original) foi publicado em janeiro deste ano e rapidamente se transformou num sucesso.



Casa das Letras/Leya/Tradução de Tânia Ganho


"Terra Americana" já tem adaptação cinematográfica assegurada, depois de Jeanine Cummins ter rejeitado proposta semelhante para o seu primeiro livro, "A Rip in Heaven: A Memoir of Murder and its Aftermath", publicado em 2004.

Apesar da tendência elogiosa inicial, depressa surgiram críticas e acusações de "apropriação cultural" por parte da autora, de quem foi dito que escrevia sobre uma realidade que desconhecia e por isso cometia erros na obra. Cummins reconheceu alguns lapsos, mas sublinhou ter realizado profunda investigação antes de escrever o livro...

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