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Paulo Jorge Pereira

"Viagens", de Olga Tokarczuk

A polaca Olga Tokarczuk vem da cidade de Sulechów, onde nasceu a 29 de janeiro de 1962, embora parte importante da sua infância e adolescência tenha sido passada em Kietrz, próxima da fronteira com a então Checoslováquia. Fascinada por Carl Jung, é formada em Psicologia pela Universidade de Varsóvia.



A polaca Tokarczuk vem da cidade de Sulechów, onde nasceu a 29 de janeiro de 1962, embora parte importante da sua infância e adolescência tenha sido passada em Kietrz, próxima da fronteira com a então Checoslováquia. Fascinada por Carl Jung, é formada em Psicologia pela Universidade de Varsóvia e trabalhou em várias clínicas, não só enquanto estudava, mas já depois de se licenciar. "Deixei essa área depois de trabalhar com uma paciente e perceber que era muito mais perturbada do que ela", confessou numa entrevista ao The Guardian, em abril de 2018. Os primeiros escritos remontam à década de 70, ainda sob o pseudónimo de Natasza Borodin, mas apenas se estreou a publicar com uma obra de poesia, "Miasta w Lustraché" (Cidade em Espelho), em 1989. No entanto, não iria limitar-se a esse género e, nos livros que se seguiram, entrou no território do romance: "A Viagem das Pessoas-Livros" (1993) e "Prawiek i inne czasy" (Primitivo e Outros Tempos), de 1996, este o primeiro êxito de vendas. Entretanto, casou-se com um psicólogo e foi mãe de um rapaz.

Viajou muito, de Taiwan à Nova Zelândia, continuando a escrever. "Viagens" e "Conduz o teu Arado sobre os Ossos dos Mortos", únicos publicados em Portugal, são outros livros da sua autoria, este último adaptado ao cinema pela compatriota Agnieszka Holland sob o título "Spoor" (podem ver aqui a apresentação) e premiado no Festival de Berlim com o Urso de Prata. Mas uma agência de notícias polaca classificou a película como "um trabalho profundamente anticristão e promotor do ecoterrorismo". A escritora explicou-o de outro modo na entrevista mencionada acima: "Escrever um livro como este só para saber quem é o assassino é desperdiçar tempo e papel. Por isso, resolvi acrescentar direitos dos animais e cidadãos dissidentes que se apercebem da imoralidade da lei e tentam ver até onde conseguem chegar com a sua contestação", referiu. Começando logo pelo título, o livro está recheado de referências à poesia de William Blake.

Uma outra faceta de Olga Tokarczuk é a defesa de causas (feminismo, animais, ecologia, direitos LGBT+), mas também a denúncia da colaboração polaca com perseguições nazis aos judeus. Conforme recorda o diário inglês, na obra "Os Livros de Jacob", um épico histórico com 900 páginas que vendeu mais de 150 mil exemplares, é abordada a conversão forçada de judeus ao catolicismo no século XVII. A autora foi entrevistada na televisão e falou sobre os "terríveis atos de colonização" que manchavam a História do país. Esta situação colocou-a sob a mira da extrema-direita na Polónia, chamaram-lhe "targowiczanin" (traidora) e a sua editora foi mesmo forçada a contratar guarda-costas, perante o número crescente de ameaças à vida da escritora. No ano passado, o seu nome foi anunciado ao lado do de Peter Handke como vencedores do Nobel da Literatura, depois de, em 2018, o prémio ser suspenso na sequência do escândalo com abusos sexuais e apostas ilegais que atingiu Jean-Claude Arnault, casado com Katarina Frostenson, que deixou a Academia sueca depois do sucedido.


Cavalo de Ferro/Tradução de Teresa Fernandes


"Fui muito ingénua. Acreditei que a Polónia seria capaz de discutir as zonas sombrias da nossa História", afirmou ao diário The Guardian pouco antes de ser distinguida com o Man Booker Prize Internacional pela obra "Viagens".

Tokarczuk tem conjugado a atividade da escrita literária com aulas sobre esta área que dá na Universidade de Cracóvia. Foi a sexta a vencer o Nobel da Literatura na Polónia e a segunda mulher, depois de Wislawa Szymborska (1996).

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