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Paulo Jorge Pereira

Vítor de Sousa lê "Dizer Amor", de Rosa Lobato de Faria

Ator com enorme experiência e poderosos dotes de declamação, Vítor de Sousa estreou-se aqui no blog com a leitura do poema "Dizer Amor", escrito por Rosa Lobato de Faria, com quem trabalhou e de quem foi amigo. É esse momento que agora se recorda.



Crescendo entre Lisboa e Alpalhão, Rosa Maria de Bettencourt Rodrigues Lobato de Faria iria ter presença marcante não apenas no campo da atuação, mas também na escrita, aqui se repartindo entre poeta, letrista de canções, romancista, dramaturga, contista e guionista. Nascida a 20 de abril de 1932, Rosa tinha ascendência de uma família da Índia sob posse portuguesa, sendo filha de Vera Corrêa Mendes de Bettencourt Rodrigues e do capitão-de-mar-e-guerra Joaquim António de Lemos Lobato de Faria. O estatuto de militar do pai condicionou a sua educação, levando-a a estudar no Instituto de Odivelas durante quatro anos na fase da adolescência, mas também no Colégio Moderno. Mais tarde, iria licenciar-se em Filologia Germânica e, depois dos papéis como mãe de duas filhas e um filho de António Sacchetti (com quem se casara em 1951 e de quem se divorciou anos mais tarde), dona de casa e empregada numa loja de eletrodomésticos, o olhar atento do realizador António-Pedro Vasconcelos deu-lhe um lugar no filme "Perdido por Cem..." (1972). Era o início de uma carreira bem preenchida e variada no campo da interpretação, apesar de ter começado tarde.

Tinha quase 50 anos quando Nicolau Breyner a selecionou para o papel de uma senhora rica na primeira telenovela portuguesa - "Vila Faia", em 1982. No ano seguinte já estava outra vez no grande ecrã, então com Lauro António como realizador, para o filme "Paisagem sem Barcos". Monique Rutler dirigiu-a em "Jogo de Mão" (1984) e voltou a trabalhar sob as ordens de Lauro António em 1986 na película "O Vestido Cor de Fogo". Mais tarde, marcaria ainda presença em filmes de João Botelho, "Tráfico" (1998) e "A Mulher Que Acreditava Ser Presidente dos Estados Unidos da América" (2003). Mas a sua presença mais constante ao longo dos anos seria na televisão, em séries como "Cobardias" (1987), "A Mala de Cartão" (1988), "Chuva de Maio" (1990), "Crónica do Tempo" ou "Os Melhores Anos" (ambas de 1992), "Um Sarilho Chamado Marina" (1999), "Médico de Família" (entre 1999 e 2000), "Inspetor Max" e "Uma Aventura" (as duas de 2004), e no campo do humor, onde foi colaboradora próxima de Herman José e dos seus parceiros de trabalho mais habituais. "Humor de Perdição", de 1987, é o principal exemplo, no qual participou como atriz e como coautora do guião. Mas também "Gente Fina é Outra Coisa" (1982), "O Crime na Pensão Estrelinha" e "Nem o Pai Morre nem a Gente Almoça" (ambos de 1990), "A Minha Sogra é uma Bruxa" (2002) ou "Aqui Não Há Quem Viva" (2006) são outros casos de participação de âmbito humorístico. Mas, como atriz, houve também as novelas, além da já citada "Vila Faia": "Origens" (1983), "Palavras Cruzadas" (1987), "Telhados de Vidro" (1993), "Baía das Mulheres" e "Só Gosto de Ti" (2004), "O Jogo" (de 2004 a 2005), "Ninguém como Tu" (2005) e "Deixa-me Amar" (2008). E em "Passerelle" (1988) foi mesmo guionista, tal como em "Pisca-Pisca" (1989), "Nem o Pai Morre nem a Gente Almoça" (1990), "Telhados de Vidro" (1994) e "Tudo ao Molho e Fé em Deus" (1995).

A escrita desafiou-a e Rosa Lobato de Faria não se intimidou. Distinguiu-se na faceta de romancista com "O Pranto de Lúcifer" (1995), "Os Pássaros de Seda" (1996), "Os Três Casamentos de Camila" (1997), "Romance de Cordélia" e "Os Três Casamentos de Camila S." (ambos de 1998), "O Prenúncio das Águas (1999) este distinguido com o Prémio Máxima de Literatura em 2000 -, "A Trança de Inês" (2001) - do qual nasceu, em 2018, o filme "Pedro e Inês", realizado por António Ferreira -, "O Sétimo Véu" (2003), "Os Linhos da Avó" (2004), "A Flor do Sal" (2005), "A Estrela de Gonçalo Enes" e "A Alma Trocada" (os dois de 2007) e "As Esquinas do Tempo" (2008). Depois da sua morte foi publicado "Vento Suão" (2011).

Também escreveu em parcerias ("Os Novos Mistérios da Estrada de Sintra" e "Código d' Avintes") e como contista ("Asas Sobre a Cidade: conto de Natal", em 2006), além de publicar literatura infantil: "Histórias de Muitas Cores", "As Pequenas Palavras", "Livro do Livro", "As Quatro Portas do Céu", ABC dos Bichos em Rima Infantil", "ABC das Flores e dos Frutos em Rima Infantil" ou "A Parábola dos Dez Porquinhos" (póstumos são "O Balão Azul" e "Alma Minha Gentil"). Como dramaturga publicou "A Hora do Gato", "Sete Anos - Esquemas de um Casamento" e "A Severa". Na poesia é autora de um longo poema inédito com aguarelas de Oliveira Tavares ("A Gaveta de Baixo"), "Memórias do Corpo: Poemas" (1992) e o restante trabalho está compilado em "Poemas Escolhidos e Dispersos" (1997).

O seu sucesso estendeu-se ao campo da escrita de letras para músicas e, no Festival RTP da Canção, igualou José Carlos Ary dos Santos com quatro êxitos nos anos 90: "Amor de Água Fresca" (1992), "Chamar a Música" (1994), "Baunilha e Chocolate" (1995) e "Antes do Adeus" (1997).

Viúva do editor literário Joaquim Figueiredo Magalhães desde 26 de novembro de 2008, Rosa Lobato de Faria foi vítima de uma anemia e morreu a 2 de fevereiro de 2010.


Roma Editora (o poema apresentado por Vítor de Sousa está incluído na obra "Poemas Dispersos")


Só quando já tinha perto de 50 anos houve oportunidade para Rosa Lobato de Faria chegar à televisão como atriz: foi na telenovela "Vila Faia", por iniciativa de Nicolau Breyner.

Vítor Manuel da Silveira e Sousa de Araújo nasceu a 18 de novembro de 1946 em Lisboa. A paixão por teatro levou-a a completar o curso (variante de formação de atores) na Escola de Teatro do Conservatório Nacional em 1967, mas o trabalho na área já vinha de 1965. Trabalha com o Teatro Estúdio de Lisboa, desloca-se a Paris com o espetáculo "Olimpíadas do Music-Hall", entra na Casa da Comédia e, em 1970, está entre os fundadores do Teatro do Gerifalto. Integra o Grupo de Ação Teatral, seguindo-se o Teatro Experimental de Cascais e a Companhia do Teatro São Luiz, aqui chegando a ser alvo da censura durante a peça "A Mãe". Em 1972 experimenta a comédia ao lado de Laura Alves e terá presença televisiva a partir de 1974, então como elemento da Companhia de Teatro da RTP. Em 1975 está no filme "Lerpar", de Luís Couto. Ajuda a fundar e dirige a cooperativa de artistas Reportório e, em 1979, volta ao campo da comédia ao lado de Nicolau Breyner e Herman José - mais tarde terá longa colaboração com este último ("O Tal Canal", "Hermanias", "Humor de Perdição", "Casino Royal", "Crime na Pensão Estrelinha", "Parabéns", "Herman Enciclopédia" e "Herman SIC").

Apesar de alguns regressos ao teatro, de gravar discos a declamar poesia, de ganhar relevo em diferentes programas radiofónicos e de papéis cinematográficos (como em "Geada", de 1980, ou "O Querido Lilás", de 1986), passa a ter presença regular na televisão - para lá do trabalho com Herman, também entra em programas como "Sabadabadu" (1981) e pela novela "Vila Faia" (1982). Nas séries ou novelas ganha evidência em exemplos como "Os Bonecos da Bola" (1993), "A Mulher do Senhor Ministro" (1994), "Médico de Família" (1998), "Cuidado com as Aparências" (2000), "Jura" e "Vingança", ambas de 2007, mas também "Santa Bárbara" (2016).

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