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Paulo Jorge Pereira

Zita Pinto lê "Terra Sonâmbula", de Mia Couto

Agora que Mia Couto apresentou o novo livro, intitulado "A Cegueira do Rio", uma obra contra o esquecimento, de acordo com o próprio autor, é tempo de voltar à leitura de Zita Pinto com um excerto de "Terra Sonâmbula".



"Mia Couto - sou autor do meu nome", um documentário de Solveig Nordlund, datado de 2019, acompanha "vida e obra do escritor moçambicano". A frase do título refere-se à questão de Mia ser o pseudónimo que ele próprio adotou para si por gostar de gatos, pois o seu nome é António Maria Leite Couto. Nascido a 5 de julho de 1955 na Beira, em Moçambique, filho de portugueses - o pai, Fernando Couto, era jornalista e poeta -, aos 14 anos já tinha poemas publicados no "Notícias da Beira". A partir de 1971 vive em Lourenço Marques (atual Maputo) e ali estuda Medicina, embora não chegue a concluir a licenciatura. Três anos mais tarde torna-se jornalista, trabalhando na "Tribuna" e "Jornal de Notícias" antes de ser escolhido para diretor da Agência de Informação em 1976. Ainda integrou a revista Tempo (79/81), mas acabaria por afastar-se do jornalismo em 1985, já depois de publicar o seu primeiro livro de poesia, "Raízes de Orvalho" (1983). O passo seguinte foi a Biologia na universidade, especializando-se em Ecologia, de que seria professor, além de ser o responsável pela proteção à reserva natural da ilha de Inhaca (1992).

Poesia, romance, crónicas, contos - a obra de Mia Couto é polifónica, com uma linguagem criativa e não se esgota num género. Multipremiado, com relevo para o Prémio Camões em 2013, não faltam exemplos do seu invulgar talento escrito, em alguns casos já adaptado ao cinema: "Vozes Anoitecidas" (1987), "Cronicando" (1988), "Cada Homem é uma Raça" (1990), "Terra Sonâmbula" (1992), "Estórias Abensonhadas" (1994), "A Varanda do Frangipani" (1996), "Vozes Anoitecidas" (1999), "Mar me Quer" e "O Último Voo do Flamingo" (ambos de 2000), "Na Berma de Nenhuma Estrada" (2001), "Um Rio Chamado Tempo" (2002), "O Fio das Missangas" e "O País do Queixa Andar" (2003), "A Chuva Pasmada" (2004), "O Outro Pé da Sereia" (2006), "Jesusalém" e "E se Obama fosse Africano? e Outras Intervenções" (2009), "Pensageiro Frequente" (2010) ou a trilogia As Areias do Imperador, composta pelas obras "Mulheres de Cinzas" (2015), "A Espada e a Azagaia" (2016), "O Bebedor de Horizontes" (2017), "A Água e a Águia" (2018), "O Terrorista Elegante e Outras Histórias" (com José Eduardo Agualusa, 2019), "O Mapeador de Ausências" (2020), "O Rio Infinito" (2022) e "Compêndio para Desenterrar Nuvens" (2023).

Voltando à intervenção nas Conferências do Estoril, ela incluiu uma citação do escritor uruguaio Eduardo Galeano, dedicada ao medo global: "Os que trabalham têm medo de perder o trabalho. Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho. Quem não tem medo da fome, tem medo da comida. Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas, as armas têm medo da falta de guerras." E Mia Couto concluiu: "E, se calhar, acrescento eu, há quem tenha medo que o medo acabe."

A obra multipremiada do escritor moçambicano já aqui foi abordada em diversas ocasiões: a 14 de abril de 2020, quando li um excerto de "Terra Sonâmbula"; a 28 do mesmo mês, Fernanda Silva apresentou um trecho de "O Universo num Grão de Areia" e a 25 de junho, na leitura, protagonizada por Joaquim Semeano, de parte de "Mulheres de Cinza""Venenos de Deus, Remédios do Diabo", proposta de Ana Zorrinho, foi lido a 11 de agosto e, a 21 de outubro, Zita Pinto fez uma outra abordagem de "Terra Sonâmbula". A 31 de janeiro de 2021, Fernanda Silva leu um excerto do livro "Mar me Quer". "A Infinita Fiadeira" foi apresentada por Sandra Escudeiro a 6 de maio, a 12 de agosto chegou um pouco do conto "Os Dançarinos", que já regressou, e "O Caçador de Elefantes Invisíveis" ganhou presença a 14 de dezembro de 2021.


Editorial Caminho


Uma escrita cativante, uma linguagem peculiar e recheada de encantos: estes são alguns dos argumentos que levam os livros de Mia Couto a atrair e conquistar cada vez mais leitores.

Zita Pinto nasceu e cresceu em Ervedosa do Douro, de onde saiu para licenciar-se em Geologia. Exerceu a profissão na área da prospeção mineira durante onze anos, em cinco países distintos. De volta a Braga, onde já tinha estudado, começou a dedicar-se naturalmente à sua primeiríssima área de interesse - o desenho. Trabalha como freelancer, principalmente em ilustração. Colabora com marcas e em projetos editoriais com editoras portuguesas, como a Porto Editora e a Paleta de Letras.

Como descreve Zita Pinto a sua atividade na área da escrita? "Escrever é uma ferramenta de vida", explica. Usa-a "para ir fazendo sentido do que acontece em cada fase" do seu percurso individual. E fá-lo através de "reflexões, crónicas privadas e ficção, assim como por meio da conversa íntima com imagens". O seu interesse pelo universo dos livros é "fundamental e inesgotável". No seu entender, "a imortalidade só teria esta vantagem: a de ler todos os livros que já foram escritos e que ainda estão por escrever".

Formas de consultar e seguir o seu trabalho de ilustração:





Zita Pinto já participara aqui no blog com um trecho do livro "Jesus Cristo Bebia Cerveja", de Afonso Cruz.

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